Madre Teresa é canonizada pelo papa Francisco

Cem mil pessoas assistiram neste domingo (4) à cerimônia em que o papa Francisco proclamou santa madre Teresa de Calcutá, a religiosa albanesa que dedicou sua vida aos pobres. Com a praça de São Pedro lotada, no Vaticano, Francisco disse que a canonização da freira deve "ajudar a entender que nosso único critério de ação é o amor gratuito, livre de qualquer ideologia [...] e oferecido a todos sem distinção de língua, cultura, raça ou religião".

Retrato de madre Teresa pendurado na fachada da Basílica de São Pedro. Reuters

Na fachada da Basílica de São Pedro, foi pendurado um retrato gigante da missionária, sob um céu azul e um sol de verão. Depois da cerimônia, o papa convidou para almoçar 1.500 pessoas ajudadas pelas irmãs Missionárias da Caridade, a congregação fundada por madre Teresa.

A religiosa, nascida em 1910 em Skopjie, capital da Macedônia, vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 1979, tornou-se santa 19 anos após sua morte. O ritual católico da canonização, cuja condição é a realização confirmada de dois milagres, levou em conta os casos da indiana Monica Besra e do engenheiro brasileiro Marcilio Haddad Andrino.

Milagres causam polêmica

A indiana afirma que se curou de um câncer no ovário um ano após a morte da religiosa. Ela relata que duas irmãs da congregação de madre Teresa colocaram sobre seu estômago uma pequena medalha de alumínio abençoada pela missionária e rezaram por sua cura, quando a doença já estava bastante avançada. Ao final de algumas horas, a mãe de cinco filhos despertou sentindo-se melhor. "Toquei meu estômago, apertei, belisquei. O inchaço havia desaparecido. Não estava sonhando", disse.

Por esse milagre, madre Teresa foi beatificada em 2003, na praça de São Pedro. Besra esteve em Roma para a ocasião. No entanto, o relato da indiana é contestado por médicos que a atenderam, para quem não se trata de milagre. "A senhora Besra se livrou de seu tumor graças aos medicamentos muito fortes e vários dias de tratamento", declarou, em 2002, o ex-ministro da Saúde do estado de Bengala Ocidental, Partho De.

No ano passado, o papa atribuiu um segundo milagre à Nobel da Paz, com a cura, em 2008, do engenheiro brasileiro. Há alguns anos, Andrino apresentou um quadro de hidrocefalia e de abscessos no cérebro, causados por uma infecção rara. Depois de ser tratado durante um mês com antibióticos, não houve melhoras. Os médicos decidiram, então, fazer uma cirurgia para tentar salvá-lo. 

Durante a hospitalização, a mulher do brasileiro, Fernanda, rezou intensamente para madre Teresa ajudá-lo. Na véspera da operação, Andrino apresentou uma súbita melhora. Três dias depois, exames constataram o desaparecimento dos abscessos. "Compreendi que ela tinha me curado", afirmou. Andrino e a família assistiram a cerimônia de canonização de madre Teresa neste domingo, no Vaticano.

Le Monde: "milagre político na Índia"

O jornal francês Le Monde escreve hoje, em um texto bem-humorado, que, apesar das controvérsias, a canonização de madre Teresa provocou "um milagre político" na Índia.

O diário lembra que os nacionalistas hindus sempre desaprovaram a fama mundial de madre Teresa, acusada de ter convertido milhares de indianos ao catolicismo, uma religião minoritária no país. Além de não ter nascido na Índia, a religiosa ainda denunciou ao mundo, durante décadas, a extrema pobreza dos moradores de Calcutá.

No dia 28 de agosto, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, ligado ao movimento nacionalista hindu, fez uma grande concessão, na opinião do Le Monde. Ele declarou ser natural que os indianos "se sintam orgulhosos" da canonização de madre Teresa e decidiu enviar uma delegação indiana para a cerimônia em Roma.