A Turquia espera, nesta quarta-feira (4), dar mais um passo rumo à aproximação com a União Europeia. O bloco europeu deve recomendar hoje aos Estados-membros que aprovem a liberação do visto aos turcos até o fim de junho.O plano faz parte do controverso acordo assinado em março para o Estado turco conter a entrada de refugiados sírios na Europa.
Fernanda Castelhani, correspondente da RFI em Istambul
Se a medida for aprovada, os 79 milhões de turcos não precisarão mais apresentar comprovantes de renda, passar por entrevista e pagar uma taxa ao Consulado de cada país da União Europeia que desejam visitar para terem o carimbo no passaporte que permite, por alguns dias, entrarem e circularem livremente. Hoje, qualquer cidadão que deseja passar o fim de semana a lazer na Grécia, por exemplo, tem de se submeter a esse processo.
Apenas 10% da população da Turquia tem passaporte e, até o momento, não houve aumento na procura para tirar o documento. Para um cidadão comum, a isenção do visto representa somente a oportunidade de viajar sem burocracia e a realização de um sonho de décadas: ser bem aceito pelos vizinhos. Mas é claro que o temor do bloco europeu se refere a uma provável invasão permanente de outros milhões de turcos.
A passagem livre para os turcos foi proposta pela União Europeia para que a Turquia abrigue os sírios - que já totalizam quase 3 milhões de refugiados no país. Em contrapartida, o governo de Ancara deve atender às exigências do bloco europeu – que vão desde cooperação jurídica, passando por passaportes biométricos até o fim do visto para os cidadãos da ilha vizinha de Chipre.
Comissão Europeia preencheu maioria dos requisitos
De acordo com a Comissão Europeia, a Turquia preencheu, até o momento, 65 dos 72 requisitos. Mas as grandes dúvidas se referem à deterioração dos Direitos Humanos e da liberdade de imprensa. Fica difícil imaginar como o governo, que segue um rumo mais autoritário do que democrático, entrará em conformidade com o que prevê o bloco europeu.
O vice-primeiro-ministro, Numan Kurtulmuş, declarou que o país está comprometido a concluir tudo o que foi pedido e que apenas alguns critérios serão cumpridos pouco antes do prazo final – sem esclarecer quais são. Os europeus garantem que não vão amenizar a pressão. Só que, nos bastidores, o que se comenta é que não há outra escolha possível para a Europa diante dos refugiados que ninguém quer abrigar.
Europa teme entrada de mais radicais islâmicos
Por um lado, o grande medo da União Europeia é a entrada de mais muçulmanos no bloco e de possíveis radicais islâmicos que se passem por turistas – apesar dos grupos terroristas já possuírem células espalhadas pela Europa. Nem os países conservadores nem os social-democratas querem acolher os refugiados que a Turquia recebe diariamente.
As autoridades turcas já ameaçaram interromper a recepção dos refugiados se o visto não for liberado, já que uma uma promessa está ligada a outra. Para alguns analistas, a entrada livre dos turcos não passa de um conto de fadas que não se tornará realidade, pelo menos, não em um futuro tão próximo como até o fim de junho, justamente por conta das exigências que a Turquia não conseguirá cumprir. Mas a maioria é otimista, ou melhor, pessimista, e prevê que a medida passará, sim, justamente porque a Europa prefere assumir o risco a ter de lidar com o maior número de refugiados desde a Segunda Guerra Mundial.
Independentemente do resultado, o que mais preocupa os especialistas em política internacional é o que virá depois nesse jogo de barganha e contrapropostas entre os dois lados. Se a União Europeia já está em polvorosa com a possível circulação de turistas turcos no bloco, talvez esteja abrindo caminho para mais uma pressão do presidente Tayyip Erdoğan: pela entrada efetiva da Turquia no bloco europeu.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro