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Planeta Verde

Sob protestos, herbicida mais usado no mundo será renovado na Europa

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Os ecologistas e opositores aos agrotóxicos esperavam há anos a chance de poder bloquear o herbicida mais usado no mundo, o glifosato, nas lavouras europeias. Mas, ao que tudo indica, a União Europeia deve renovar por mais uma década a licença para a utilização do produto na agricultura do bloco, uma decisão que tem provocado polêmica e oposição declarada de alguns países, como a França.

Ecologistas protestam contra o glisofato em frente à Comissão Europeia, em Bruxelas.
Ecologistas protestam contra o glisofato em frente à Comissão Europeia, em Bruxelas. AFP PHOTO / GREENPEACE / PHILIP REYNAERS
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O glifosato, mais conhecido como RoundUp, é uma das estrelas da multinacional americana Monsanto. Usado intensivamente por agricultores dos cinco continentes, o produto é apreciado pela eficiência no combate a ervas daninhas e por reduzir os custos da produção.

Em março do ano passado, porém, o Centro Internacional de Pesquisas sobre o Câncer, da Organização Mundial da Saúde (OMS), concluiu que a substância é “provavelmente cancerígena para os humanos”. A surpresa veio quando, meses depois, a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) concluiu que esse risco é “improvável”.

A votação para a renovação da homologação do produto está marcada para 18 de maio. François Veillerette, presidente da organização Générations Futures, ainda têm esperanças de conseguir reverter a tendência pela autorização, que conta com o apoio do poderoso lobby agrícola europeu.

“Bloquear a homologação do glifosato na Europa é uma questão-chave. Dezessete especialistas da OMS trabalharam nisso durante um ano, analisaram centenas de estudos científicos e consideraram esse produto como ‘provável cancerígeno para o homem’. Com uma classificação dessas, ele deveria automaticamente ser retirado do mercado europeu”, afirma Veillerette. “O problema é que a instância regulamentar europeia chegou a conclusões diametralmente opostas - o que, para nós, é um escândalo. Por isso, várias ONGs prestaram queixa em Viena contra o que consideramos ter sido uma fraude na avaliação.”

Fórmulas diferentes é que são o problema

O agrônomo belga Bruno Schiffers explica que o glifosato em si não é o maior perigo, e sim a maneira como os produtos à base da molécula são formulados. O herbicida final desenvolve uma capacidade mais agressiva de penetração nas células e é nocivo, em especial, aos organismos aquáticos. Para o diretor do Laboratório de Fitofarmácia da Universidade de Liège, a poluição ambiental associada ao produto é mais grave do que os riscos à saúde humana.

“Encontramos essa molécula em quantidades relativamente altas nas águas da superfície e nas subterrâneas. Ele tem uma degradação bem específica e o temos encontrado com frequências nos lençóis freáticos. Como ele é um sal muito solúvel na água, é particularmente difícil de eliminá-lo da água potável”, indica o pesquisador.

O especialista avalia que, diante das incertezas científicas sobre os efeitos do produto, as autoridades europeias deveriam revisar os componentes à base de glifosato para verificar que aditivos devem ser evitados. Outro problema é que o herbicida é vendido até para pessoas comuns, que não têm o treinamento que os agricultores recebem para manipular o produto.

“As pessoas colocam esse produto em espaços que elas querem limpar, como a entrada de casa, a calçada. São superfícies que costumam ser impermeáveis e que são ligadas facilmente ao esgoto. Basta chover para esse produto ir parar no sistema de água”, diz Schiffers.

No Brasil, produto virou norma

No Brasil, o herbicida também é usado em larga escala: 90% das lavouras de soja e 70% das de milho produzidos no país são tratadas com o produto. O pesquisador da USP Pedro Christoffoleti, especialista em resistência de plantas daninhas a herbicidas, lembra que o glifosato revolucionou a maneira de cultivo no país, ao viabilizar o plantio direto, com pouco tratamento prévio do solo.

“O agricultor hoje não consegue sobreviver de uma maneira sustentável economicamente se não tiver o glifosato. Atualmente, ele está sob reavaliação pelo Ministério da Agricultura, o Ibama e a Anvisa. Sob o enfoque da agricultura, ele é absolutamente essencial”, observa o professor da USP. “A agricultura de exportação, em alta escala, como a soja e o milho, sem o glifosato, seria um verdadeiro desastre para o Brasil.”

Christoffoleti destaca que, na comparação com outros herbicidas, o glifosato é dos menos tóxicos. Trata-se de um derivado do aminoácido glicina, encontrado naturalmente nos alimentos, adicionado ao ácido fosfórico, um nutriente comum na agricultura.

“É um produto de baixíssima toxicidade, embora ele seja tóxico, evidentemente. Mas se nós compararmos o glifosato com os demais produtos utilizados na agricultura, ele tem um perfil muito favorável e muito menos tóxico do que os demais”, afirma. “Por isso, eu entendo que, até para o meio ambiente, o perfil dele é espetacular.”

O produto da Monsanto se generalizou nos países que adotam cultura transgênica, que são resistentes ao herbicida. É o caso, por exemplo, do Brasil e dos Estados Unidos.
 

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