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Linha Direta

Deportação de refugiados da Grécia para a Turquia começa com protestos

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Sob críticas de organizações internacionais e incertezas sobre os procedimentos da operação, a Turquia começou a receber hoje refugiados provenientes da Grécia, que foram deportados pela União Europeia. A medida está prevista no acordo assinado no último dia 18. Segundo a Comissão Europeia, cerca de 4 mil especialistas serão mobilizados para a operação, enviados por diversos países europeus.

Ativistas protestam contra o retorno dos imigrantes para a Turquia, no porto de Mitilene, na ilha grega de Lesbos, 04 de abril de 2016.
Ativistas protestam contra o retorno dos imigrantes para a Turquia, no porto de Mitilene, na ilha grega de Lesbos, 04 de abril de 2016. REUTERS/Giorgos Moutafis
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Fernanda Castelhani, correspondente da RFI em Istambul

O fim de semana foi de protestos e de resistência dos refugiados, no sul da Grécia, que continuaram nesta manhã durante o embarque dos migrantes Mas, de forma geral, a chegada dos primeiros barcos foi pacífica na Turquia. Até porque os refugiados foram acompanhados, o tempo todo, por funcionários da Frontex, a agência europeia de controle das fronteiras, e escoltados por esquadrões especiais de polícia.

Ainda amanhecia quando os ônibus chegaram aos portos de Lesbos e de Chios, ambos na Grécia. Aos poucos, os passageiros começaram a entrar nas balsas que, depois, seguiram viagem pelo Mar Egeu ao porto turco de Dikili. Pouco se sabe, até o momento, sobre os deportados.

O Comitê do governo grego para refugiados fala, ao todo, em cerca de 200 pessoas divididas em três embarcações. A maioria é do Paquistão e de Bangladesh. Aparentemente, não há crianças nem mulheres. A unidade de coordenação de refugiados da Grécia afirma que a operação de hoje envolve apenas quem não havia pedido asilo ao país. Ainda assim, não foram divulgados detalhes sobre os critérios de seleção desses migrantes.

Em Dikili, na Turquia, as autoridades montaram um centro de recepção e tendas no porto, mas faltam funcionários e, principalmente, clareza sobre como será o registro e a distribuição nos campos de refugiados. Ainda assim, o Ministério do Interior turco falou que estava preparado para, somente hoje, abrigar um número bem maior: quinhentas pessoas. Até quarta-feira, são esperadas novas deportações da Grécia para cá.

Acordo entre Turquia e União Europeia

A Turquia já recebeu somente da Síria, nos últimos anos, quase três milhões de refugiados e já demonstrou não ter estrutura necessária para atender às necessidades básicas dessas pessoas. Mas a aceitação desse novos migrantes faz parte de um acordo assinado entre o governo turco e a União Europeia num plano que beneficia os dois lados.

O bloco europeu, que transferiu para o Estado turco o papel de conter a grande massa de refugiados, e a Turquia, que terá vantagens nessa parceria. Para cada sírio enviado de volta para a Turquia, um outro será abrigado pela União Europeia. A Embaixada da Alemanha em Ancara, por exemplo, anunciou que 40 sírios serão enviados hoje para a Alemanha. Mas o limite máximo de sírios aceitos pelos europeus será de 72 mil, sob a condição de que nenhum tenha entrado ilegalmente no bloco, o que é bem difícil, uma vez que as portas estão fechadas para eles.

Os turcos, por outro lado, receberam a promessa de, a partir de junho, não precisarem mais de visto para entrar na União Europeia. Além disso, a Europa garante acelerar o envio de três bilhões de euros para as autoridades turcas e intensificar, em julho, as negociações sobre a entrada da Turquia no bloco. Vale reforçar que todo esse pacto atribui aos refugiados sírios tratamento especial. Mas, se considerarmos a operação de hoje, o foco da deportação foram outras nacionalidades, o que gera ainda mais incertezas sobre os bastidores desse plano.

Previsão de ONGs é devastadora

Um relatório recente da Anistia Internacional acusou a Turquia de forçar o retorno de refugiados para a Síria. E a previsão das organizações internacionais para essas novas deportações é bem desoladora. A Agência para Refugiados da ONU afirmou que a Turquia não tem equipe suficiente para lidar com tantos refugiados que chegam diariamente ao país. Falta água, comida, medicamento e abrigo para quem já está nos campos de refugiados, localizados principalmente no sudeste do país.

A Anistia Internacional voltou a afirmar hoje que a Turquia não é um local seguro para essas pessoas e se queixa da falta de informações também do bloco europeu. Chegou a classificar o dia de hoje como um “dia obscuro” para a União Europeia. ONGs como Médicos Sem Fronteiras e Save the Children também decidiram interromper, na última semana, seus programas nas ilhas gregas que deportaram refugiados por não querer fazer parte de um sistema de detenção e expulsão de pessoas.

O que os analistas já concluem é que quem precisa escapar de focos de guerra terá de encontrar, claro, rotas mais longas e mais perigosas e que essa crise vai continuar. Talvez com mais dinheiro para os transportadores clandestinos e mais violência na reação dos países que recusam os migrantes.

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