Primeiro-ministro da Eslováquia vence eleições mas depende de alianças

O partido do primeiro-ministro social-democrata Robert Fico é o vencedor das eleições legislativas realizadas neste sábado (5) na Eslováquia, mas perdeu maioria no parlamento e terá muitas dificuldades de formar um novo governo. O resultado das urnas mostra um Parlamento fragmentado e deverá acomodar, pela primeira vez, deputados da extrema-direita nacionalista.

O primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, durante a entrevista coletiva após a votação, em Bratislava. SAMUEL KUBANI / AFP

O partido Smer-SD, de Fico, conquistou 28% dos votos, ou seja, 49 de 150 cadeiras, mas registrou um recuo significativo em relação à eleição anterior, quando obteve 83 cadeiras e conseguiu governar sozinho com a maioria absoluta.

Fico, de 51 anos, vai precisar de alianças para conquistar maioria estável no Parlamento, mas sabe que a tarefa vai ser complicada. Ele anunciou neste domingo (6), após a confirmação dos resultados das urnas, que vai começar o mais rápido possível "negociações preliminares" com os possíveis aliados.

O objetivo é evitar a realização de novas eleições em um momento em que a Eslováquia se prepara para assumir a presidência rotativa da União Europeia, a partir de 1° de julho.

"Nós excluímos novas experiências. Por isso, começamos a partir de hoje as primeiras negociações preliminares. Elas mostrarão se teremos parceiros para montar um governo aceitável. Somos um partido de valores, com princípios. Por isso, falo de um governo aceitável", declarou Fico durante entrevista coletiva em Bratislava.

O chefe de governo em fim de mandato esperava conquistar em torno de 33% dos votos, mesmo nível das eleições de 2006, quando o partido Smer-SD chegou pela primeira vez ao poder.

Chamado de populista por seus adversários, Fico fez campanha centrada na crise migratória e sua oposição à acolhida dos estrangeiros. Ele considera que multiculturalismo "é uma ficção" e recusa o sistema de quotas imposto pela União Europeia para acolher refugiados.

Fico estima que os muçulmanos não vão conseguir se integrar na Eslováquia, um país de 5,4 milhões de habitantes, e de maioria católica. No entanto, suas posições sobre o fluxo migratório foram ofuscadas pelas greves de professores e de enfermeiros que sensibilizaram a opinião pública.

Composição complicada com aliados

Consciente da dificuldade da tarefa de formar um novo governo, Robert Fico não exclui a cooperação de nenhum partido. No entanto, o novo governo irá conviver com a entrada do partido da direita nacionalista Nossa Eslováquia, do líder Marian Kotleba, que conquistou 14 cadeiras.

De acordo com os resultados apurados em 99,9% das urnas, oito partidos conquistaram mais de 5% dos votos e vão dividir as 150 cadeiras do parlamento.

O Smer-SD chegou em primeiro e é seguido pelos liberais do SaS, com 21 cadeiras, e os conservadores do OLANO-NOVA, que conquistaram 19 assentos. Os nacionalistas do SNS, parceiros da coligação com Robert Fico entre 2006 e 2010 ficaram em quarto na corrida eleitoral com 15 deputados, um pouco à frente do extremista Nossa Eslováquia.

Analistas eslovacos indicam que Fico deverá compor com pelo menos dois ou três legendas para formar uma coalizão de governo e se manter no cargo. Por outro lado, será preciso uma aliança de pelo menos seis partidos de centro e de direita para que a oposição assuma o poder.

A entrada com força da extrema-direita nacionalista no parlamento provocou uma reação indignada da eurodeputada social-democrata Monika Flasikova Benova. Ela qualificou de "uma verdadeira vergonha” para o país a votação na legenda. "Será um grande desastre ter fascistas no Parlamento no momento em que a Eslováquia presidirá a União Europeia", afirmou.