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O Mundo Agora

Premiê russo diz que mundo resvala para uma nova Guerra Fria

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O primeiro ministro russo, Dimitri Medvedev, declarou que o mundo estava “resvalando para uma nova Guerra Fria”. Declaração assustadora. Ainda existe saudosismo do velho mundo dividido em blocos ideológicos, à sombra das bombas atômicas.

O primeiro-ministro da Rússia, Dmitry Medvedev afirma que o mundo está entrando em nova guerra fria.
O primeiro-ministro da Rússia, Dmitry Medvedev afirma que o mundo está entrando em nova guerra fria. REUTERS/Dmitry Astakhov/Sputnik/
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O argumento é que o planeta era mais manejável já que a União Soviética e os Estados Unidos, sem vitória militar possível, impunham ordem nos outros países. Essa ralé geopolítica não tinha alternativa senão se submeter a um dos dois Grandes, ou calar a boca e ficar quietinha.

Na verdade, a Guerra Fria foi bastante quente para o resto o mundo. Sem falar do inverno nuclear pendurado na cabeça de todos. Será que esse pesadelo vai voltar?

Por enquanto, é muita pretensão de Putin achar que pode lançar e aguentar um confronto aberto com os ocidentais. A Rússia, apesar da modernização acelerada de suas forças armadas e das intervenções militares na Geórgia, na Ucrânia e na Síria, ainda é uma mera sombra da antiga União Soviética.

Declínio demográfico e econômico

Os russos estão amargando um brutal declínio demográfico e econômico. O país vive quase exclusivamente da venda de petróleo e gás e não sabe como administrar a falência que se aproxima rapidamente com o desmoronamento dos preços dos hidrocarbonetos.

O resto da economia está em frangalhos e, com a fuga das empresas e dos investimentos estrangeiros, está acumulando enormes atrasos em matéria de novas tecnologias e inovação produtiva.

A Rússia autoritária de Putin, nostálgico do império russo, sem ideologia, mas agarrado na Igreja ortodoxa, está cada vez mais parecendo com a União Soviética decadente: perigosa e cheia de armas, mas à beira do colapso.

Declaração é mais bravata que ameaça séria

A declaração de Medvedev é mais bravata do que ameaça séria. É mais uma tentativa de intimidar a Casa Branca e os governos europeus. Putin não para de proclamar que seu objetivo é voltar aos tempos em que Moscou era uma super-potência, dialogando de igual para igual com os ocidentais, incontornável para definir os destinos do mundo.

Sem nenhuma condição de “vender” um modelo sócio-econômico e cultural alternativo, a maneira de chegar lá é mostrar os músculos que ainda sobram e dividir os ocidentais.

Falar de Guerra Fria é a melhor maneira de amedrontar os europeus, de criar cizânias internas entre o Velho Continente e os americanos. A Europa já está com tantos problemas políticos e econômicos vitais, que ninguém quer encarar a possibilidade de um conflito armado com a Rússia.

A anexação da Criméia e a invasão do leste da Ucrânia é um recado perfeitamente cínico: se não quiserem uma nova guerra os ocidentais terão que reconhecer que Moscou tem um direito de veto sobre as decisões soberanas de seus vizinhos da Europa do Leste.

Os bombardeios na Síria para manter Bachar Al-Assad no poder, com a ajuda dos iranianos, é outro aviso arrogante: doravante não haverá solução para os conflitos no Oriente Médio nem para a luta contra o terrorismo islâmico sem passar pela Rússia.

E cereja no bolo: as bombas largadas pelos aviões russos nas populações civis provocam o êxodo de dezenas de milhares de novos refugiados que vêm desestabilizar os países vizinhos pró-ocidentais – Turquia e Jordânia – e a própria Europa ocidental.

Armadillha barata

Pr enquanto, Washington não está a fim de cair nessa armadilha barata. Para prevenir a chantagem russa, a Otan está reforçando seriamente a presença militar nos países do Leste Europeu. Se Moscou tentar outra aventura militar na região, vai ter que arriscar uma guerra quente com a Aliança Atlântica – que Putin não tem condições de bancar.

No lamaçal sangrento do Oriente Médio, os americanos calculam que a Rússia vai se atolar e que não tem capacidade para se impor como potência hegemônica. E decidiram utilizar a presença russa para reforçar a guerra contra o islamismo radical. Toda essa salada russa de “Guerra Fria” ainda é só um trunfozinho fajuto nesse pôquer geopolítico. Claro o pior é sempre possível, mas ninguém dança tango sozinho.

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