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Bélgica

Aumento da temperatura na Bélgica põe em risco tradicional cerveja lambic

As cervejas belgas do tipo lambic são as últimas ainda fabricadas com processo de resfriamento natural, ao ar livre, durante as estações frias. Há 50 anos, o avô do cervejeiro Jean Van Roy começava a produção logo que as temperaturas baixavam, na metade de outubro. Mas, neste ano, o neto já adiou o processo por duas semanas e, devido ao calor incomum na Bélgica, não sabe quando poderá começar a engarrafar a tiragem 2015 das famosas cervejas Cantillon.

Garrafa da cervejaria belga Cantillon.
Garrafa da cervejaria belga Cantillon. Divulgação
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“Tivemos que parar por causa do calor. À noite as temperaturas deveriam ficar ao redor de cinco graus, mas nós temos atualmente 14 a 15 graus. Com uma temperatura dessas, não posso resfriar o mosto”, explicou Van Roy à RFI Brasil, referindo-se à mistura de malte com água, base da cerveja.

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Há meio século, a produção começava pontualmente no meio de outubro e durava até maio do ano seguinte. Nos últimos anos, Van Roy precisa retardar o início do processo e geralmente não consegue continuar depois de março, quando as temperaturas voltam a subir. “Há 10 anos, isso não acontecia. Dessa vez vamos perder duas semanas de produção. Não é grave, mas, se no futuro começarmos a perder de seis a 10 semanas, será um problema”, afirma.

É possível que, quando o bisavô de Van Roy fundou a Brasserie Cantillon, em 1900, o período de produção fosse ainda maior. Foi por isso que a região ficou famosa pelas cervejas lambic, técnica em que, ao resfriar ao ar livre durante a noite, a cerveja é enriquecida por leveduras e bactérias do ambiente. “É uma fermentação que não controlamos, mas que só é possível no frio”, explica Van Roy.

Mudança do método

Uma das cervejas belgas mais apreciadas produzidas a partir da técnica de lambic é a Gueuze, que leva de dois anos e meio a três para ficar completamente pronta. Em condições normais, a cervejaria Cantillon faz cinco tiragens por semana durante cinco meses, resultando em até 400 mil garrafas por ano.

55% da produção é exportada, 25% é destinada ao mercado interno e 20% é vendida na própria cervejaria – visitar a Cantillon em Bruxelas, segundo o fabricante, é a opção mais recomendada para os brasileiros que quiserem degustar a cerveja. Há seis anos, Van Roy parou de aumentar a produção e passou a vender exclusivamente para seus clientes antigos.

Com o aumento das temperaturas médias no outono e na primavera belga, o futuro da cerveja lambic está cada vez mais incerto. “Podemos fazer um resfriamento artificial, como alguns já fazem”, diz Van Roy. “Mas isso vai mudar o gosto do produto”, garante. “Se o clima continuar a mudar, teremos que escolher entre produzir menos ou adaptar o produto para produzir mais.”

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