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Fato em Foco

Acolhimento de refugiados mobiliza sociedade alemã

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De vilão da crise grega a líder no acolhimento de refugiados sírios. O papel da Alemanha diante da opinião pública europeia parece ter mudado rapidamente graças à política de recepção em massa de refugiados levada cabo sem hesitação pelo governo de Ângela Merkel, desde que a crise migratória atingiu o seu auge, nesta semana.

Distribuição de comida aos refugiados que chegam na estação de trem de Munique.
Distribuição de comida aos refugiados que chegam na estação de trem de Munique. REUTERS/Lukas Barth
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Milhares de pessoas escapam do conflito na Síria empreendendo a Estrada dos Bálcãs, como vem sendo chamada a rota que começa na Grécia rumo à Alemanha. Na estação de trens de Munique, refugiados desembarcam aos gritos de agradecimento ao país. “Estava muito bom dentro do trem. Os policiais na Áustria e na Alemanha também foram bons conosco. Obrigado, governo da Alemanha”, disse um cidadão sírio à correspondente da RFI, Pauline Curtet.

A Alemanha deve receber neste ano 800 mil pedidos de asilo, um número sem precedentes. Nem todos estão de acordo com a política do governo, o que fica claro nos ataques a centros de refugiados cometidos por extremistas xenófobos. Mas estes atos parecem cada vez mais pontuais.

Até porque a política de Angela Merkel não é de todo permissiva: a idéia é receber refugiados e seguir com o olho aberto para imigrantes que venham de locais que não estão em conflito, mas que vêem na crise uma oportunidade para a imigração tipicamente econômica.

Bom para a economia

Mas seria mesmo a imigração econômica um mau negócio para o país? “Há na Alemanha dois fenômenos que nós devemos considerar”, explica Gilbert Casasus, professor de Estudos Europeus da Universidade de Friburgo, na Suíça. “O primeiro é que a Alemanha é um país que envelhece e então estes imigrantes podem ser uma compensação profissional, técnica e financeira”, explica.

O segundo fenômeno, segundo Casasus, seria “um tipo de explosão” de iniciativas cidadãs para ajudar os imigrantes. “Aqui falamos de uma tradição muito humanista da Alemanha, com um espírito relativamente cristão de ajuda ao próximo”, afirma o historiador. Para ele, a experiência política de Angela Merkel pesou para que ela tentasse se alinhar ao sentimento popular: “Ela teve uma inteligência política de compreender que havia esse movimento na sociedade. Agora ela está liderando este combate”.

Exemplo desta mobilização popular mencionada por Casasus é a iniciativa da estudante de teatro alemã Sarah Wenzlinger. Desde o início do ano, ela recebe um refugiado nigeriano em sua casa, em Berlim. “Eu me mudei para um apartamento novo com outros dois estudantes, e sobrou um quarto livre. Eu propus aos meus colegas de recebermos um refugiado”, contou ela ao correspondente da RFI em Berlim Pascal Thibaut.

Em seguida, Wenzlinger contatou uma associação de ajuda a refugiados, que lhe propôs de receber Saidou, um homem vindo da Nigéria. “Tudo vai bem. Cozinhamos juntos, saímos juntos e ensinamos alemão a ele, além de ajudar nas burocracias. Viemos de culturas diferentes, mas tudo está bem”, garante a estudante.

Berlim alternativa

Depois de um pico de 2.200 pedidos de asilo político na Alemanha no início desta semana, a expectativa é que o número caia novamente para 500, o mesmo que vinha sendo verificado ao longo dos últimos meses. O que nos lembra que, embora apenas agora tenha ganhado contornos de crise humanitária, a chegada de refugiados na Alemanha não é um fenômeno exatamente novo.

“Em 2012 houve uma marcha de refugiados do sul da Alemanha até Berlim. Mas a questão não era tão divulgada na mídia”, explica a cientista social brasileira Tainã Mansani, que acompanha o fenômeno no país há três anos. “Estas pessoas ficaram em um acampamento em Oranienplatz, uma área ‘hipster’ de Berlim. Mas naquele momento era algo bem isolado, de ativistas e da cidade alternativa”, explica Mansani.

A maior resistência, segundo a pesquisadora brasileira, vem de uma parcela da população mais conservadora, que acredita que o interesse dos recém-chegados está exclusivamente nos benefícios do estado de bem-estar social alemão: “Talvez não exista um racismo nisso. É mais a importância que se dá à questão do trabalho, que é algo importante para a sociedade alemã.”

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