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Grécia/Referendo

Varoufakis deixa governo grego após vitória do "não" em referendo

O ministro das Finanças da Grécia pediu demissão nesta manhã, causando surpresa após a vitória expressiva do "não", ontem, por 61%, no referendo sobre as propostas dos credores de Atenas. Em seu blog, Yanis Varoufakis disse ter sido informado de que alguns membros do Eurogrupo preferem retomar as negociações sem sua presença.

Como concessão à União Europeia, Yanis Varoufakis deixa o cargo de primeiro ministro da Grécia
Como concessão à União Europeia, Yanis Varoufakis deixa o cargo de primeiro ministro da Grécia REUTERS/Alkis
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O primeiro-ministro Alexis Tsipras, que visa um acordo com os parceiros europeus, acredita que a saída de Varoufakis poderá facilitar o diálogo. O ex-ministro tinha um péssimo relacionamento com o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schauble, e com o presidente do Eurogrupo, o holandês Jeroen Dijsselbloem.

Posição de força

Então, a demissão foi uma concessão de Atenas para retomar as negociações. Mas, Berlim rapidamente emitiu um comunicado afirmando que o problema da Grécia não são as pessoas, mas as posições. Evidentemente, essa decisão também não caiu bem entre os gregos, que festejaram orgulhosamente a vitória do "não". O resultado coloca o premiê Alexis Tsipras em posição de força para voltar à mesa de negociações. No domingo (5), logo depois do referendo, ele insistiu que a Grécia não quer sair da zona do euro.

"Muitos podem tentar ignorar a vontade do governo", discursou. "Mas ninguém poderá ignorar a vontade de um povo. Tenho certeza de que, a partir de agora, o caminho estará aberto para todos os europeus. Trabalharemos para restabelecer valores que são a base da democracia e da solidariedade na Europa. O povo grego passou a mensagem de que não somente quer ficar na Europa, como quer viver com dignidade".

Tsipras quer renegociar um perdão parcial da dívida grega (de € 240 bilhões) e prolongar o prazo de pagamento, que atualmente vai além de 2050. Nas discussões até agora, o FMI e a União Europeia não aceitaram discutir esse ponto.

Negociações pela Europa

O dia será de negociações intensas. Há grande expectativa sobre a decisão do Banco Central Europeu de retomar ou não a linha de crédito para Atenas. Os diretores do BCE se reúnem para tomar uma decisão. Sem esse dinheiro, a Grécia não poderá cumprir a promessa de reabrir nesta terça-feira as agências bancárias, que estão fechadas há uma semana.

O ministro das Finanças francês, Michel Sapin, disse que "cabe ao governo grego fazer propostas", mas destacou que a liquidez fornecida pelo Banco Central Europeu à Grécia não pode ser reduzida. Um dos líderes da oposição francesa, o ex-premiê conservador Alain Juppé (Republicanos), declarou que os europeus devem organizar a saída da Grécia da zona do euro sem fazer drama. Essa declaração foi fortemente criticada pelo governo socialista.

Merkel na corda bamba

No final desta tarde, a chanceler alemã Angela Merkel viaja a Paris para tentar fechar uma posição comum com o presidente François Hollande para levar à cúpula extraordinária dos líderes europeus, convocada para esta terça-feira em Bruxelas.

A França defende um acordo com a Grécia, mas na Alemanha a opinião pública e os partidos políticos, inclusive os social-democratas, que fazem parte da coalizão de governo, não querem mais financiar a Grécia e empurram o país para fora da zona do euro. A chanceler está em uma posição delicada.

No início do dia, Berlim avisou que a Grécia "precisará agir" se quiser continuar na zona do euro e que não vê razão para reestruturar a dívida grega. O governo alemão "reconhece o claro 'não' exprimido (no referendo), respeita este resultado e permanece disposto ao diálogo (...), mas, diante da decisão de ontem dos cidadãos gregos, as condições para negociar um novo programa de ajuda não estão reunidas", declarou o porta-voz da presidência Steffen Seibert. Apesar disso, o presidente do banco central alemão, Jens Weidmann, já avisou o governo de que a saída da Grécia do euro provocaria um rombo de bilhões no orçamento federal alemão.

Posição bastante diferente da alemã tem o governo espanhol. Em entrevista coletiva nesta segunda-feira, o ministro espanhol da Fazenda, Luis de Guindos, afirmou que Madri está disposta a negociar um terceiro programa de resgate, desde que Atenas aceite fazer algumas reformas. Para os espanhois, a saída dos gregos da zona do euro é impensável.

Paralelamente, a Grécia tenta fechar um acordo de anistia fiscal com a Suíça para repatriar ao país dinheiro grego guardado nos cofres suíços que, apesar de ser fruto de evasão fiscal, pode ser útil nesse momento de escassez financeira.

Impacto nos mercados

A retumbante negativa do povo grego às propostas dos credores aumenta o risco de uma "Grexit" (junção das palavras Grécia e Exit, saída em inglês). Por isso, os mercados financeiros acordaram sob tensão nesta segunda-feira (6). As bolsas de valores abriram no vermelho na Europa, -1,48% em Frankfurt, -1% em Paris... E na Ásia, as bolsas fecharam o dia com perdas. A bolsa de Tóquio teve queda de 2,08%; em Hong Kong o pregão recuou 3,18%.

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