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Linha Direta

Príncipe Felipe terá desafio de abrir novo capítulo na história da Espanha

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A Espanha começou a semana com uma notícia histórica: a abdicação do rei Juan Carlos em favor do príncipe Felipe. A saúde delicada do rei, os escândalos de corrupção envolvendo o genro e a Infanta Cristina, filha caçula da família real, além da baixa popularidade da monarquia, parecem ter acelerado uma decisão que o rei já teria tomado em janeiro deste ano. 

O príncipe Felipe da Espanha, ao lado de sua esposa, a princesa Letizia, herdará um país afetado por anos de crise.
O príncipe Felipe da Espanha, ao lado de sua esposa, a princesa Letizia, herdará um país afetado por anos de crise. REUTERS/Felix Ordonez/Files
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Fina Iñiguez, correspondente da RFI Brasil na Espanha

A abdicação do rei já vinha sendo comentada há tempos, principalmente depois que no ano de 2012 ele se viu obrigado a pedir desculpas publicamente por ter ido caçar elefantes na África, em um momento de profunda crise no país. Depois chegaram os problemas de saúde, os escândalos familiares envolvendo o genro e, de acordo com alguns analistas, o panorama político resultante das eleiçoes europeias, com o auge dos partidos republicanos, acelerou a decisão.

Momento de decisão

O rei, na verdade, não tinha muita opção. Ele se afasta voluntariamente da chefia do Estado em um momento en que a Espanha atravessa por vários problemas e a cidadania pede trasnformações: está se falando de uma reforma na Constituição; a Catalunha ameaça com a independência; as instituições espanholas estão desacreditadas e muitos espanhóis estao sem esperança no futuro do país.

De acordo com as palavras do próprio rei, ele abdicou para dar passagem a "uma nova geração” que possa assumir o “protagonismo na história da democracia do país”. Resumindo: o rei anunciou que chegou o momento de transferir a chefia do Estado ao seu filho. Ou seja, o rei anunciou a continuidade da monarquia parlamentar espanhola.

Referendo?

A decisão do rei, sem dúvida, é apoiada pelo conservador Partido Popular, por outros partidos da direita, e respeitada pelos socialistas, mas foi considerada uma boa ocasião pelos partidos de esquerda e os nacionalistas de reivindicarem mudanças de fato.

Na segunda-feira (2), milhares de pessoas convocadas através das redes sociais, e com o apoio desses partidos, foram para as ruas em toda a Espanha se manifestar em favor da república e pedir para a cidadania ser consultada sobre a continuidade da monarquia. No entanto, a hipótese não parece provável.

O primeiro-ministro Mariano Rajoy convocou o Conselho de Ministros nesta terça-feira (3), em caráter de urgência, para tramitar a chamada "Lei Orgânica", que deverá ser aprovada no Parlamento por maioria absoluta e que vai permitir a proclamação do novo rei da Espanha, com o título de Felipe VI. Tudo indica que até o final do mês, ou no máximo no começo de julho, a Espanha terá um novo rei.

Balanço do reinado

Apesar de ter cometido alguns erros no último período de seus 39 anos de reinado, o rei Juan Carlos foi um monarca necessário e eficiente: ele fez a transição da ditadura para a democracia espanhola de forma tranquila, soube tomar as rédeas do país em 1981, quando houve uma tentativa de golpe de Estado, e foi impecavelmente democrático em questões políticas, “reinando sem governar”, que é o que compete a um chefe de Estado nos modelos monárquicos modernos, como na Grã-Bretanha, Bélgica ou Holanda. O rei Juan Carlos foi também um bom embaixador da Espanha.

Quanto ao ainda príncipe Felipe, ele está sendo preparado para ser rei desde que nasceu, há 46 anos, e tem a média de idade das novas geraçoes políticas do país. Está nas suas mãos abrir un novo tempo no processo político espanhol e devolver a confiança dos cidadaos que a crise econômica destruiu.

O príncipe Felipe parece ter capacidade para isso: conseguiu sair ileso dos escândalos de corrupçao envolvendo sua família e demonstrou saber transitar também entre os escândalos políticos envolvendo os principais partidos da Espanha. Ele admira o pai e segue o seu modelo. Falta ver se ele terá coragem para superar os desafios que a Espanha de hoje apresenta.

 

 

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