Prisão de suspeitos não encerra caso Bolshoi, diz imprensa russa
A verdadeira novela que se desenrola no célebre teatro Bolshoi de Moscou não acabou com a prisão dos suspeitos pelo ataque com ácido contra o diretor artístico da instituição, nesta quinta-feira. Segundo testemunhas interrogadas pela imprensa russa, a intriga seria muito mais complicada do que parece à primeira vista, e coloca em evidência as paixões e rivalidades que agitam os bastidores do balé clássico.
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O solista do balé do Bolshoi, Pavel Dmitritchenko foi indiciado nesta quinta-feira, 7 de março de 2013, depois que confessou ter sido o mandante do ataque contra o diretor artístico do teatro, Serguei Filin. Ele negou, no entanto, ter mandado usar ácido contra a vítima.
Dmitritchenko foi indiciado por "ter prejudicado gravemente a saúde da vítima", informou o ministério do Interior. O suposto agressor, Iuri Zarutski, e o motorista que o levou ao local, Andrei Lipatov, também foram indiciados. Os três homens podem ser condenados a até 12 anos de prisão.
Na manhã desta quinta-feira, eles foram colocados em detenção provisória até o dia 18 de abril. Diante do tribunal, Pavel Dmitritchenko questionou: "Vocês têm certeza de que eu realmente fiz isso?", em uma cena que foi transmitida pelas televisões russas.
"Dizer que pedi para jogar ácido em Filin é falso", disse ele. "Falei a Iuri Zarutski sobre a política do Bolshoi, sobre a corrupção. Quando ele me disse que iria quebrar a cara dele, eu aceitei. Isso é a única coisa que eu confesso", acrescentou. "Quando fiquei sabendo o que tinha acontecido, que havia o ácido, fiquei chocado."
Segundo a polícia, o agressor - que já tem antecedentes criminais - recebeu 50 mil rublos, o equivalente a R$ 3.200, pelo ataque contra Filin.
Suspense
A polícia russa considerou nesta quinta-feira que o caso estava "elucidado", já que todos os suspeitos foram presos. Mas vários colegas de Dmitritchenko declararam à agência de notícias Interfax que não acreditam na sua culpabilidade.
"Estamos convencidos de que se trata de um erro monstruoso", declarou o bailarino Andrei Bolotin. "Dmitritchenko sempre esteve em conflito com a direção, mas sob Filin ele começou a ter papeis importantes", disse o músico roman Denissov, que acredita que o bailarino foi obrigado a confessar.
Para Serguei Filin, agredido no dia 17 de janeiro na frente do prédio onde mora e que está sendo tratado atualmente na Alemanha, o caso está longe de ter sido encerrado.
"Ele está convencido de que o círculo de pessoas envolvidas nesse crime é muito mais amplo". Esperamos que as forças de segurança desmascarem todos os implicados", declarou a esposa de Filin, Maria Prorvitch, ao jornal popular russo Komsomolskaia Pravda.
Serguei Filin havia imediatamente relacionado o ataque à sua atividade profissional e declarado em uma entrevista à televisão "ter certeza absoluta" da identidade de seu agressor, sem dar mais detalhes.
"Não gostaríamos que a investigação parasse aqui", declarou ao jornal sua advogada, Tatiana Stukalova. Segundo sua esposa, Filin suspeitava de Dmitritchenko, mas não acredita na versão amplamente divulgada pela mídia segundo a qual o ataque visava vingar a namorada do bailarino, Angelina Vorontsova, que havia perdido o papel principal no balé "Lago dos Cisnes".
"Serguei acha que os motivos do crime são diferentes. A jovem foi um pretexto, mas com certeza não foi o motivo principal", declarou a esposa do diretor artístico.
Vários jornais apontam novamente nesta quinta-feira o possível envolvimento de Nikolai Tsiskaridzé, primeiro bailarino do Bolshoi e professor de Angelina Vorontsova. Abertamente hostil à direção da instituição, ele foi quase acusado diretamente pelo diretor do teatro, Anatoli Iksanov, de ter incitado o crime contra o diretor artístico.
O diário Izvestia afirma que o diretor artístico Filin teria se recusado a dar o papel de Odette/Odile no "Lago dos Cisnes" a Angelina Vorontsova e teria dito à baiarina: "Olhe-se no espelho para ver que cara tem".
Em resposta, Nikolai Tsiskaridzé teria comentado: "Que ele não perca a vontade de olhar a si mesmo no espelho!", segundo o jornal. Interrogado nesta quinta-feira pela agência Interfax, o primeiro bailarino respondeu que "não tem nada a dizer".
Com queimaduras de terceiro grau, Serguei Filin teve que passar por um transplante de pele e várias cirurgias nos olhos.
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