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Polêmica

Turquia diz que França deve encarar seu passado colonial

Nesta quinta-feira o presidente Nicolas Sarkozy irritou o governo turco ao dar ao país o prazo de alguns meses para reconhecer o genocídio armênio de 1915. Caso não haja esse reconhecimento público, o governo francês poderia propor uma sanção penal à Turquia. O governo turco revidou hoje aconselhando a França a encarar seu passado colonial antes de dar lições aos outros países.

O presidente francês Nicolas Sarkozy (esq.) conversa com o presidente armênio Serzh Sargsyan durante visita oficial ao país.
O presidente francês Nicolas Sarkozy (esq.) conversa com o presidente armênio Serzh Sargsyan durante visita oficial ao país. REUTERS
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Durante sua visita de Estado à Armênia, o presidente francês considerou que o reconhecimento pelo governo de Ancara do massacre de 1,5 milhão de armênios pelos turcos em 1915 seria "um gesto de reconciliação".
Caso a Turquia o faça, a França manterá sua legislação atual, que reconhece oficialmente, desde janeiro de 2001, a existência do genocídio.

Mas caso a Turquia continue a negar, "a França consideraria que deveria ir mais longe e modificar sua legislação para que o negacionismo seja condenado penalmente", acrescentou Sarkozy. Um projeto de lei socialista nesse sentido já foi votado pela Assembleia mas rejeitado pelo Senado, apesar da pressão da diáspora armênia, que tem 500 mil membros na França.

A resposta de Ancara veio através do ministro turco das Relações Exteriores, Ahmed Davutoglu. "Aqueles que não são capazes de encarar a própria história porque conduziram uma política colonialista durante séculos, porque tratam os estrangeiros como cidadãos de segunda classe, não podem dar uma lição de história à Turquia", declarou ele durante uma coletiva de imprensa nesta sexta-feira.

Controvérsia

A Armênia, apoiada por inúmeros historiadores, declara que 1,5 milhão de armênios foram mortos durante uma rebelião na Primeira Guerra Mundial, quando o império otomano estava em franca decadência. O governo armênio qualifica esses eventos de genocídio, um ponto de vista compartilhado por vários parlamentos estrangeiros. A Turquia recusa a qualificação de genocídio e fala de assassinatos em grande escala visando não somente armênios, mas também turcos.

Ahmet Davutoglu também declarou nesta sexta-feira que a Turquia e a Armênia estão trabalhando para normalizar suas relações e que a declaração de Nicolas Sarkozy teria um impacto negativo sobre os esforços de reconciliação. Os dois países estão em conflito sobre o futuro do enclave povoado majoritariamente por armênios do Alto Karabakh, palco de um conflito armado nosa nos 90 depois de ter se separado do Azerbaijão, que é aliado da Turquia.

Nicolas Sarkozy se recusou a dar um prazo preciso para que Ancara reconheça a existência do genocídio, dizendo que não cabia à França dar um ultimato. Ele disse no entanto que o prazo não é "infinito" e que a França comunicaria sua posição brevemente, em função da atitude dos líderes turcos. O ex-ministro de origem armênia Patrick Devedjian, que acompanha o presidente francês em sua viagem de Estado, declarou a interlocutores armênios que o prazo dado aos líderes turcos vai até o final de 2011.

Sarkozy disse na noite de quinta-feira que a "a França quer ser amiga da Turquia", mas reafirmou hoje que continua contrário à entrada da Turquia na União Europeia.

 

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