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Imigração/ Itália

UE diz que governo italiano recusou ajuda para conter imigração ilegal; Itália nega

O governo italiano recusou a ajuda da União Européia para enfrentar o problema de imigração ilegal massiva chegando da Tunísia através da ilha de Lampedusa, no sul da Itália, de acordo com a comissária encarregada dos assuntos internos da Comissão Européia, Cecília Malmström.

Neste domingo, 977 imigrantes tunisianos chegaram de forma clandestina a Lampedusa, sul da Itália.
Neste domingo, 977 imigrantes tunisianos chegaram de forma clandestina a Lampedusa, sul da Itália. Reuters
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A comissária afirmou, em um comunicado, que ficou "surpresa" com a recusa dos italianos, que teria sido provocada por uma demora da UE em ajudar a conter a onda de imigração. "Desde sábado, estive em contato com pessoal com as autoridades italianas e quando perguntei se eles precisavam de ajuda, me responderam: 'não, obrigado. não precisamos de ajuda a esta hora", disse o comunicado. 

Mas o ministro italiano do Interior, Roberto Maroni, interlocutor de Malmström, declarou na tarde desta segunda-feira que "não é verdade que a Itália recusou da Comissão Europeia para enfrentar os desembarques provenientes da Tunísia".  No sábado, ele havia dito que a UE “deixou a Itália sozinha, como sempre”.

Malmström destacou que a Comissão Europeia está pronta para ajudar a Itália, se receber um pedido das autoridades do país, o que formalmente ainda não aconteceu. Ela evocou a possibilidade de os guardas de fronteiras europeus serem deslocados para a Itália, mas deixou claro que a Frontex, a agência europeia encarregada da fiscalização das fronteiras, pode agir em acordo com os direitos humanos.

Apesar das mudanças radicais no cenário político da Tunísia – primeiro país árabe a derrubar um ditador do poder através de protestos nas ruas –, os altos índices de desemprego estão provocando o êxodo diário de até mil tunisianos, principalmente jovens. Na tentativa de chegar à Europa para iniciar uma vida nova, os imigrantes estão desembarcando às centenas em Lampedusa, de onde pretendem seguir viagem rumo aos mais diversos países europeus. Lampedusa pertence à Itália, mas é mais próxima geograficamente da África.

Desde o dia 15 de janeiro, cerca de 14,5 mil imigrantes clandestinos já desembarcaram ilegalmente na ilha - 5 mil apenas nos últimos dias. De acordo com a correspondente da RFI em Roma, Paula Schmitt, organizações não-governamentais pedem que o governo providencie abrigo a todos que desembarcaram na ilha, que tem uma população regular de cinco mil habitantes, mas agora conta com o dobro. Os imigrantes chegam sem dinheiro, documentos ou condições de retornar por conta própria.

O Ministro do Exterior, Franco Fratini, está em negociação com o governo provisório da Tunísia e deveria visitar o país norte-africano ainda nesta segunda-feira. Ele quer que a Tunísia restabeleça as patrulhas marítimas que existiam antes da revolução que derrubou a ditadura de Zine El Abidine Ben Ali. Um acordo semelhante já foi assinado com Líbia.

Já o ministro do interior italiano, Roberto Maroni, disse que vai fazer um pedido formal para que a Tunísia permita que policiais italianos patrulhem os seus portos. Assim, segundo Maroni, o fluxo de imigrantes seria evitado desde o ponto de partida, antes que os imigrantes embarquem para a Itália. Um porta-voz do governo da Tunísia já reagiu, nesta segunda-feira, à possibilidade evocada pelo italiano, considerando-a "inaceitável".

As causas dessa imigração repentina em massa são diversas. Segundo imigrantes entrevistados pela imprensa italiana, a Tunísia está sem governo e a criminalidade nas ruas aumentou. Além disso, ex-funcionários de Ben Ali perderam o emprego e outros temem serem vítimas de perseguição política.
As autoridades italianas realizaram uma reunião de emergência no sábado para tentar resolver o problema. Uma das decisões foi diminuir a burocracia para a realização de expulsões. O governo italiano vem tentando evitar a chegada de novos imigrantes através de bloqueio marítimo, que deverá ser intensificado com o auxílio da UE.

Enquanto isso, centenas de imigrantes estão dormindo em um campo de futebol ou a céu aberto, no porto de Lampedusa, com cobertores doados pela igreja e alguns hoteis da ilha. O governo agora se mobiliza para transportar os imigrantes para centros de detenção na Sicília.

Segundo o ministro do Interior italiano, o maior risco é a infiltração de terroristas, que poderiam entrar na Itália com a desculpa de serem refugiados políticos. Maroni é membro da Liga Norte, partido de extrema-direita cuja plataforma se baseia em grande parte na luta contra a imigração ilegal.

O problema da imigração africana chegando à Itália através de Lampedusa não é novo, e a Itália tenta fazer agora o que fez com o fluxo migratório ilegal originário da Albânia: colocar policiais italianos no país de onde os imigrantes estão vindo, para cortar o problema na sua raiz.

Já a chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, desembarca hoje em Tunis, em uma visita que tem o objetivo de demonstrar a disposição da União Europeia em ajudar o país em suas reformas democráticas. O assunto deverá ser abordado na próxima reunião dos ministros do Interior da UE, que acontece no dia 24 de fevereiro.

 

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