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Esporte em foco

Brasileira concorre a prêmio da Fifa por narrar jogos para filho portador de deficiência

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A brasileira Silvia Grecco é finalista do prêmio “The Best” da Fifa, na categoria “Melhor Torcedor”. Ela ficou conhecida por narrar lances de partidas de futebol para o filho Nickollas, de 12 anos, que é deficiente visual e autista. O prêmio será entregue dia 23 de setembro em Milão, na Itália. Em entrevista à RFI, ela fala sobre a indicação e conta como essa história começou.

Silvia Grecco ficou conhecida por narrar lances de partidas de futebol para o filho Nickollas, de 12 anos, que é deficiente visual e autista.
Silvia Grecco ficou conhecida por narrar lances de partidas de futebol para o filho Nickollas, de 12 anos, que é deficiente visual e autista. Valéria Maniero
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Valéria Maniero, correspondente da RFI na Suíça

“Nós não esperávamos. Fiquei com as pernas trêmulas, extremamente emocionada. Pensar que a nossa história atravessou o mundo e, de repente, num órgão tão grande do futebol, a gente está sendo lembrado. Foi muito bacana. Expliquei para o Nickollas direitinho do que se tratava e comemoramos muito. Eu acho que nós já saímos vitoriosos, independente de qual seja o resultado”, disse Silvia à RFI.

Na semana passada, depois de saber da indicação, a funcionária pública postou uma mensagem nas redes sociais sobre a “missão de falar que a pessoa com deficiência existe e precisa ser incluída e respeitada”. O post recebeu mais de 5 mil curtidas.

“É uma luta, uma missão, uma bandeira que nós vamos levantar. Com certeza, se a gente tiver oportunidade de pegar o microfone e falar alguma coisa na Fifa, é justamente isso que eu quero falar. Inclusão é poder falar de cidadania, falar de oportunidades. Acho extremamente importante. Tem que conviver com todas as diferenças. Tanto o Nickollas aprende quanto a pessoa que convive com ele que não tem deficiência. É preciso colocar a pessoa com deficiência no mundo”, diz Silvia.

Narrar cada lance e compartilhar a emoção

“Está na lateral direita, na lateral esquerda. Mandou para o meio. O Dudu está lá no meio. Nickollas, o Marcos Rocha, do lado direito, mandou para o Dudu. O Dudu marcou gol. Goool do Dudu, Nickollas”. É assim que a Silvia costuma fazer nos jogos do Palmeiras, o time do coração dela e do garoto, para descrever o que está acontecendo no gramado. 

“Antes mesmo de começar a partida, eu conto todos os detalhes, que lado está nosso goleiro, a hora que coloca a bola no meio do campo, que vai dar o pontapé inicial. Eu o envolvo no ambiente. E quando começa o jogo, vou falando todas as jogadas”, diz a mãe, explicando que o estádio é um local onde o filho gosta de estar.

“É um lugar mágico na vida dele. Eu fiz com que ele pudesse frequentar ao máximo, pelo menos uma vez por mês, porque sentia que ali é o lugar que o meu filho se sente muito feliz. E onde ele se sente feliz é onde eu quero estar”, afirma Silvia, que desde pequena gosta muito do esporte, influenciada pelo pai.

No início, quando ia com o filho ao estádio, Silvia oferecia o radinho de pilha com fone de ouvido ao garoto. Mas ele acabava tirando o fone porque gostava de ouvir o som da torcida, ou o deixava cair com a empolgação da comemoração de um gol

“Então, eu comecei com uma explicação, contando as coisas que estavam acontecendo, como uma audiodescrição. E percebi que ele estava gostando. A partir de então, comecei a fazer as narrações para ele, conta.

“A maior motivação para uma mãe é ver o seu filho feliz. Quando ele tem uma deficiência, a gente tem que estar abrindo caminhos e percebendo aquilo que ele realmente gosta de fazer e que o faz feliz. Ele diz que lá é o melhor lugar do mundo. Então, eu quero que ele esteja sempre no melhor lugar do mundo, diz.

"Nós não esperávamos. Na verdade, eu não sabia da existência desse prêmio e foi muita emoção"
"Nós não esperávamos. Na verdade, eu não sabia da existência desse prêmio e foi muita emoção" Valéria Maniero

Empurrãozinho de Neymar

Hoje torcedor fanático do Palmeiras, Nickollas teve um empurrãozinho de um craque para se decidir para quem torcer. Silvia conta que existia um acordo na casa deles para que o garoto escolhesse por conta própria para quem iria torcer, já que a mãe era palmeirense; a irmã, são-paulina; e o pai, corinthiano.

“Ele gostava de futebol em geral. Mas a paixão dele foi na época do auge do Neymar, no Santos. Então, ele falava que torcia para o Neymar. Um dia ele foi conhecer o Neymar, que pegou o Nickollas no colo. Eu, então, falei: Neymar, conta para ele, de verdade, que time você torcia quando era pequeno? Ele deu uma risadinha e falou: Palmeiras. Eu falei: está vendo, filho, mamãe é Palmeiras, Neymar é Palmeiras, vamos ser Palmeiras também”, lembra Silvia.

Narrar o gol da autonomia

Conciliar o trabalho com os cuidados de mãe de um garoto cego e autista não é fácil, mas Silvia valoriza a experiência e o quanto já aprendeu ao lado do filho. 

“Eu não vou negar que há muitos dias que a gente tem várias questões. Eu aprendo todo dia a respeito de como lidar com as questões da pessoa com deficiência, aliás, é o Nickollas que me ensina muito mais do que eu a ele. É difícil até falar porque as pessoas pensam assim: é tudo um mar de rosas. Não é. Mas nós somos muito felizes. É um riso largo quando a gente está junto”, afirma.

Nas partidas de futebol, eu gosto de narrar todos os gols, porque o gol é sempre emoção. Mas na vida, na vida do meu filho, eu gostaria de narrar o gol da autonomia, o gol que ele possa aprender a vencer os desafios e conseguir sobreviver na vida, porque mãe não é eterna. Esse seria um golaço, porque eu sei que, na minha falta, ele seria muito feliz e conseguiria ir atrás dos sonhos dele”, diz Silvia, que é mãe adotiva de Nickollas.

Silvia Grecco é uma das três indicadas ao prêmio de “Melhor Torcedor” da Fifa. Na disputa com ela estão também a torcida da Holanda na Copa do Mundo de Futebol Feminino e o uruguaio Justo Sánchez.

Ouça a entrevista completa clicando na foto acima.

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