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Esporte em foco

Vitória na Copa deve aumentar número de inscritos em clubes amadores de futebol na França

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Com a vitória na Copa do Mundo de 2018, os clubes amadores de futebol franceses estão na mira de todos os novos fãs mirins do esporte que sonham com uma carreira tão brilhante quanto a de Antoine Griezmann ou Kylian Mbappé. Como aconteceu após a vitória da França em 1998, a tendência é de um novo grande fluxo de inscritos nas escolinhas de futebol sem um investimento necessário por parte do governo para dar conta da demanda.

Jogadores da seleção francesa comemoram após a final
Jogadores da seleção francesa comemoram após a final Jewel SAMAD / AFP
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Pouco depois da vitória na Copa, os presidentes de clubes já começaram a se desesperar. É o que conta Joel Abela, diretor-geral da Associação Francesa de Futebol Amador, a AFFA. “Esperamos um grande fluxo de novos alunos, porque já sabemos o que aconteceu depois da Copa de 1998: um aumento médio, em toda a França, de entre 10% e 15% no número de inscritos.”

A Federação Francesa de Futebol conta hoje com dois milhões associados. Se as contas de Joel Abela estiverem corretas, isso equivaleria a aproximadamente 200.000 novos adeptos. “O problema é que, em certas cidades, a maioria dos clubes são formadores de jovens, e tem como papel principal encontrar crianças entre 5 e 7 anos e selecionar as melhores. É aí que eles vão ter uma pressão muito grande. Nosso conselho, no momento, é: parem de aceitar novos inscritos”, sugere.

Sonho de ser jogador começa a nascer nas crianças

Ser jogador de futebol é o sonho de Yannis, que, aos 10 anos de idade, nem se enquadra mais na faixa etária citada por Joel Abela de crianças visadas pelos clubes. Yannis foi entrevistado pela RFI durante a final da Copa do Mundo da Rússia, na avenida Champs-Élysées, em Paris, onde, acompanhado da mãe, afirmou sonhar em ser campeão da Copa de 2026.

“Vou guardar na memória a vitória da França, porque é a primeira vez que vejo o time francês ganhar. Eles mostraram ser uma equipe bem sólida, isso é muito importante no futebol. Eles mostraram que eram capazes de trazer a taça para a França. Esperávamos que o Brasil fosse ir mais longe, pelo menos até as semifinais. Hoje eu me sinto feliz, muito feliz, e um pouco surpreso também, porque é a primeira vez que vejo isso”, conta Yannis.

Joseph, de 8 anos, também já é um fã de futebol e sonha igualmente em ser jogador. “Eu gosto muito da equipe do Japão. Na Copa, eu torci para o Japão e para a França. Conheço jogadores de todos os países, como Neymar, Coutinho, Miranda, Paulinho, Hiroki Sakai e Firmino”, conta. “Me sinto muito feliz com a vitória da França. Eu estava no norte do país, com toda a minha família e meus avós, num restaurante. Depois fomos para a rua, eu estava muito contente. Todos meus amiguinhos gostam de futebol. E eu quero ser um jogador de futebol.”

Falta de verbas

Um dos empecilhos para o sonho de Yannis e de Joseph é, entretanto, a falta de verba pública para os clubes amadores, que custam a conseguir uma ajuda do governo. Com a vitória na Copa do Mundo, a França deve receber € 32,5 milhões - mas ainda é incerto para onde vai todo esse dinheiro.

Joel Abela tem esperança de que as escolinhas de futebol não sejam esquecidas. “Não temos ainda nenhuma ideia se vamos receber uma parte do dinheiro. Temos apenas esperança. Porque o futebol amador, que conta hoje com 14.000 clubes regionais e departamentais, tem, em sua maioria, um cofre vazio. Contamos bastante com o apoio que podemos receber da Federação.”

Abela afirma que ficou contente com o discurso do presidente francês Emmanuel Macron, que pediu aos jogadores da equipe nacional para não esquecerem de onde eles vêm. “É uma ótima mensagem para que os responsáveis não se esqueçam que, sem a palavra ‘amador’, nós não teríamos tido o resultado da Copa do Mundo de 2018”, reflete.

Futebol: um esporte popular

Joel lembra que o drama dos times amadores sem investimento na França não é recente. Ele dura desde a Copa de 1998, que, inclusive fez nascer o lema "negros, brancos e árabes", numa referência ao fato de a maioria dos jogadores serem filhos de imigrantes e de origem mais humilde.

O responsável da AFFA lembra que, além de não ganharem muito, por dependerem de famílias de baixa renda, uma parte do dinheiro das escolinhas vai para a Federação Francesa de Futebol. “O debate não é novo. Já após a Copa do Mundo de 1998, essa discussão já fazia parte da esfera pública. Os clubes não se beneficiaram, na época, de dinheiro diretamente ligado ao campeonato. Mas sim de planos de ajuda, levados adiante pela Federação, no quadro de projetos para equipamentos e de instalações esportivas.”

Citando alguns dados, Joel Abela revela que, hoje, a quantia transferida pelos clubes amadores para as instâncias da Federação é o equivalente a 10% do orçamento de cada um, ou seja, cerca de 68 euros por inscrito, numa média nacional. “Atualmente temos duas opções: ou fechamos as portas, ou cobramos dos inscritos uma mensalidade ainda maior. É preciso levar em conta a população com quem trabalhamos, que não é o tipo de gente que vive nadando em dinheiro. O futebol é um esporte muito popular.”

O futebol na França ainda está longe de ter a mesma popularidade que no Brasil. Mas talvez com o novo título e a chegada de toda uma geração que, emocionada, acompanhou o percurso dos "Bleus" em 2018, a cultura da bola no pé faça mais parte da realidade dos franceses.

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