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Esporte em foco

Fracasso no Grand Slam de Paris não compromete metas do judô brasileiro

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Sem subir ao pódio no Grand Slam de Paris, disputado no último final de semana, a seleção brasileira de judô passou uma semana na capital francesa para um treinamento de campo e intercâmbio com os atletas que participaram da competição.  

Ney Wilson, coordenador de alto rendimento da CBJ
Ney Wilson, coordenador de alto rendimento da CBJ RFI
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O Brasil teve um dos piores desempenhos dos últimos anos em uma das principais competições do circuito mundial. A melhor classificação de um judoca do país foi o quinto lugar de Phelipe Pelim na categoria ligeiro. A maioria dos 13 atletas selecionados para o Grand Slam não passou da primeira luta.  

A falta de medalhas, no entanto, não surpreendeu o gestor de alto rendimento da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), Ney Wilson. "Nossa avaliação era dentro do esperado. Nada que nos surpreendeu ou decepcionou. É um primeiro momento, uma primeira competição forte dentro da Europa”, relativiza Ney.

"Nosso maior objetivo era o treinamento, uma vez que nosso calendário é diferente do europeu. Nossos atletas ainda estão um pouco fora de ritmo. No Brasil é época de verão, de festas de final de ano e os atletas começam seu treino tardiamente, enquanto os europeus estão no auge da forma”, argumenta.  

A equipe brasileira veio mesclada com atletas mais jovens e outros experientes como Victor Penalber (81kg). Medalha de bronze em 2016 no torneio, o carioca não passou do sétimo lugar nesta edição.    

“Eu achei que tinha chances de ir mais longe e disputar uma medalha, mas senti uma evolução. Nas últimas competições senti que não estava rendendo o que gostaria e isso dá um pouco de desespero no atleta, uma sensação de incapacidade durante a luta. Não senti isso durante a competição. Fiz lutas duras, consegui encaixar bons golpes e senti uma evolução da minha parte e sinto que estou no caminho certo para fazer um grande ano”.

Apesar da contratura muscular forte devido ao esforço no Grand Slam, Victor participou dos cinco dias de treinamento de campo, um exercício fundamental para a evolução de um judoca.

“Esse intercâmbio é muito importante para todos os atletas, tem vários estilos de judô diferentes, golpes, que a gente não consegue dentro do brasil, só nesses treinamentos internacionais com atletas especializados em vários tipos de luta, por isso essa troca é fundamental para a gente ter um bom desempenho internacional”, disse.

 

Felipe Kitadai (60kg), que caiu logo na estreia, ficou desapontado com seu rendimento. “Quando não conseguimos medalha, sempre dizemos que não foi o desempenho que a gente queria”, disse à RFI Brasil após o final de um dia de treinos pós-competição.

“Esse treinamento serve para a gente se aprimorar. Se ficarmos fechados no Brasil, ficamos deficientes. É um intercâmbio, um intensivo de judô em uma semana, faz muito bem para os atletas”, afirma.

Leandro Guilheiro, que vem de um longo período de contusão se sente “redescobrindo o judô”. A competição de Paris, onde conquistou a medalha de ouro em 2010, também marcou sua volta para as grandes competições internacionais depois de um período pontuado por muitas lesões. Ele reconquistou seu espaço na seleção brasileira, mas é consciente que precisa trilhar um longo caminho para voltar a ser competitivo contra os melhores da categoria.

 “Hoje eu estou mais preparado para o caminho que estou passando. Talvez esteja sofrendo com um pouco mais de consciência. Sei que o caminho é difícil, por outro lado, por saber disso estou conseguindo evoluir. Estabeleci algumas metas e estou cumprindo devagar”, afirmou.

  

“Estou satisfeito com o treino que estou fazendo. Tenho que melhorar, evoluir em várias coisas. Minha meta principal é voltar a me sentir confortável no tatame. Quero me surpreender em um futuro próximo”, diz. Derrotado ainda na primeira fase, Guilheiro aproveitou o treinamento de campo para evoluir.

“O treino faz a viagem valer a pena. Como um todo o Brasil não foi tão bem (no Grand Slam), esse treinamento faz você lutar dez vezes ao dia com adversários diferentes. É a chance de evoluir em aspectos físicos, táticos, mentais. Essa semana vale a pena. Quatro dias de treino aqui valem muito, você volta diferente para o Brasil”, admite.

Sarah volta

No feminino, o Grand Slam de Paris marcou a volta de Sarah Menezes para a categoria ligeiro (48kg), depois de uma tentativa frustrada da atleta de competir na categoria até 52kg. Campeã olímpica em 2012 e bronze em Paris em 2016, a piauiense não passou da primeira luta, mas não desanimou.

“Faz parte da transição. Sabia que não iria ser tão fácil. As regras mudaram, tenho que me adaptar, continuar treinando e agora é pensar positivo para que as próximas sejam melhores”.

No treinamento de campo, Sarah buscou o que mais lhe faz falta no momento: confiança. “O treinamento é como uma pré-competição. Conseguimos adquirir mais confiança, é um treino diferenciado, num nível muito alto. Para os atletas é proveitoso, para treinar e pegar no quimono de pessoas de vários países. Melhora a confiança para as próximas competições”, afirma.

 

Segundo o gestor de alto rendimento da CBJ, o treinamento de campo, uma especificidade do judô, já que os atletas treinam juntos dias após se enfrentarem em competições, é um período importante para os brasileiros.   

 “Há uma diversidade de atletas e de técnicas do mundo inteiro. Sempre digo aos atletas: você tem um menu para escolher de tudo que você pode. A grande força do judô é a oportunidade de vivenciar com atletas da Europa Ocidental, da Europa do Leste que tem estilos de luta totalmente diferentes, que cria mais dificuldades para o judô brasileiro que é mais tradicional, mais limpo, com menos força. Aqui você encontra tudo”, resume. “Dificilmente no Brasil teríamos essa qualidade e quantidade de atletas e principalmente a diversificação de treinamento.”

 

O grande objetivo da CBJ é ficar entre as cinco potências mundiais do planeta. Nos dois últimos Jogos Olímpicos, o país terminou na sexta posição em número de medalhas. Na Rio 2016 o judô brasileiro ficou com uma medalha de ouro e duas de bronze.

“É um objetivo ousado porque é sempre difícil evoluir, mas no ano de 2017, um ano após os Jogos, nos mantivemos entre os cinco no campeonato mundial. No circuito ficamos em quarto. Estamos em busca desse objetivo e estamos trabalhando por isso”, afirmou.

O próximo grande desafio da equipe brasileira de judô é o Campeonato de Düsseldorf no final de fevereiro, oportunidade para a equipe melhorar seu desempenho. A equipe contará com a volta de atletas com grande potencial de medalha como Rafaela Silva, Érika Miranda e Mayra Aguiar, que não estiveram em Paris.

“ Em Düsseldorf devemos evoluir um pouco, não apenas pela qualidade das atletas que virão, mas também por um período maior de treinamento. Para Paris desde a primeira semana de janeiro foram cinco semanas para Paris e para Düsseldorf serão oito. Isso dá um ganho maior de treinamento. Acredito que vamos começar a subir em termos de resultados”, prevê Ney.

“Na Alemanha ainda vamos sentir, vai ser do mesmo jeito, mas acredito que a partir daí a gente possa voltar a conquistar as medalhas e os resultados que tanto esperam da equipe brasileira”, concluiu.

 

A judoca Sarah Menezes
A judoca Sarah Menezes RFI

 

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