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Esporte em foco

Obras para Olimpíadas de Paris já devem começar em 2018

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O anúncio oficial feito na quarta-feira (13), em Lima, por Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), foi apenas para cumprir o protocolo. Desde que Los Angeles abriu mão de organizar os Jogos de 2024 para ficar com o evento seguinte, de 2028, Paris tinha ficado sozinha no páreo para sediar o evento. A falta de suspense não evitou as tradicionais comemorações e a emoção dos vencedores mesmo de uma batalha conquistada por antecipação

Paris foi oficialmente nomeada como cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2024 na última quarta-feira (13).
Paris foi oficialmente nomeada como cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2024 na última quarta-feira (13). GONZALO FUENTES / Reuters
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Na capital peruana, logo após sair do palco montado na convenção do COI para oficializar Paris como a sede das Olimpíadas de 2024, a prefeita da capital francesa, Anne Hidalgo, em entrevista exclusiva à RFI, explicou porque em um primeiro momento não se embalou pela candidatura, mas depois se convenceu da importância e utilidade do evento para a cidade.

"Primeiramente, eu impus algumas condições porque sabia que apenas se lançar por se lançar, não seria nada sério. Eu quis ter um tempo de reflexão, que se mostrou pertinente sobre os temas relacionados aos Jogos como em relação à transparência, seriedade orçamentária e ainda o impacto ecológico sobre a cidade. Tudo isso foi levado em conta pela equipe responsável pela candidatura", declarou Hidaldo.

Segundo ela, os traumas vividos pela cidade nos dois atentados de 2015 também contribuíram para sua mudança de opinião. "Toda a tragédia que vivemos em janeiro e depois em novembro de 2015 me mostraram que não poderíamos deixar a juventude francesa, que é cosmopolita, desperdiçar a oportunidade de construir um futuro melhor. Era preciso dar esse horizonte de otimismo que simbolizam o esporte e os Jogos Olímpicos. Ou seja, a superação de si mesmo, a alegria, a celebração, o compartilhamento. Esses jogos têm que ser úteis, por isso pensei: vamos em frente" , explicou.

Disposição para o início das obras

A capital francesa levou cinco anos para preparar seu dossiê e convencer os integrantes do Comitê Olímpico Internacional. Além do aspecto simbólico de realizar as Olimpíadas cem anos depois de ter sediado o evento em 1924, um dos pontos fortes da candidura de Paris é a promessa de usar infraestruturas urbanas e esportivas existentes e ter de construir apenas 5% de obras para cumprir as exigências do COI.

A capital francesa precisa apenas erguer um centro aquático com uma piscina olímpica, a vila dos atletas e o centro de mídia para acolher jornalistas do mundo inteiro, que deixarão, segundo o projeto, quase cinco mil moradias como legado.

Ex-campeão francês e tricampeão olímpico de Kayak, o presidente do Comitê Paris 2024, Tony Estanguet, garantiu em entrevista à RFI que o país não quer perder tempo e começar as obras que faltam já no ano que vem.

"O objetivo é lançar o quanto antes as obras que temos que fazer, particularmente o centro aquático e a vila olímpica e paralímpica e o centro de mídia. O objetivo é começar o mais cedo possível porque são essas construções é que poderão fazer o orçamento explodir. Nossa meta é dar início às obras em 2018. Nós já falamos com o presidente da república e outros responsáveis políticos para lançar essas obras o mais rapidamente possível", declarou.

O presidente francês, Emmanuel Macron, cancelou sua presença em Lima por causa do furacão Harvey, que arrasou territórios ultramarinos franceses. Em meio aos destroços da ilha de São Martim, ele comemorou uma vitória que, segundo ele, não é só de uma cidade. "Uma nova página foi aberta. Nos próximos sete anos, nós vamos preparar esses Jogos Olímpicos com toda nossa energia. Esses Jogos, claro, são de Paris, mas todo o país deve ser mobilizado. As competições vão acontecer em todo o país, segundo as modalidades. Esses Jogos devem ser a ocasião de promover o esporte em toda a França, principalmente o esporte o amador. É com essa ambição que vamos prepará-los", afirmou.     

Orçamento será respeitado?

Para os Jogos, Paris fixou uma meta de € 6,9 bilhões de gastos. Em tempos de aperto de econômico, com redução de cortes nas despesas públicas de acordo com as diretrizes do governo francês, os cofres deverão ser bem controlados.

Thierry Rey, ex-judoca e conselheiro especial da candidatura de Paris, garante que a explosão do orçamento não preocupa. "O orçamento será respeitado e é preciso explicar que há dois orçamentos distintos: o da organização do evento, que é de € 3,6 bilhões. Nesse valor, o COI te ajuda e monitora. O Comitê faz um cheque de € 1,5 bilhão, no momento dos Jogos, e ele te deixa a bilheteria, com cerca de 13 milhões de ingressos à venda. E existe a possibilidade de desenvolver um programa de parceria. Desse montante, de € 3,6 bilhões, nosso objetivo é de registrar lucro. Depois, tem o restante, de mais de € 3 bilhões que são de investimentos para construção de obras que servirão de legado à população da região de Seine Saint-Denis. São os cerca de 3 mil apartamentos da Vila Olímpica que deverão ser transformados em alojamentos sociais e,de estudantes,  lojas comerciais, além do centro de mídia que terá também 1.500 alojamentos", explicou.

Especialistas também estão convencidos de que Paris 2024 não deixará más surpresas nem um rombo em usas contas.  Christophe Lepetit, economista e responsável de estudos econômicos no Centro de Direito e Economia de Esportes de Limoges, justifica seu otimismo ao comparar com as três últimas Olimpíadas.

"Há motivos para acreditar que o desafio de respeitar o orçamento será atingido. No caso dos Jogos de Pequim, em 2008, a China queria enviar uma mensagem forte para o mundo, tinha sobretudo um objetivo geopolítico e para isso investiu muito porque tiveram que construir infraestruturas esportivas, olímpicas  e também urbanas.  Paris não tem todas essas infraestruturas para construir. Vai utilizar muitas estruturas já existentes e outras temporárias. É preciso assinalar que Paris não tem nenhuma infraestrutura pesada para construir, como linha de metrô, ou de estradas,  como foi o caso do Rio e de Pequim, ou de renovação urbana, a exemplo de Londres", destacou.         .  

Região mais pobre da França deve receber o maior legado

A região escolhida para acolher as obras do centro aquático, a vila olímpica, e os alojamentos do centro de mídia fica ao norte de Paris, em Seine Saint-Denis, um departamento administrativo considerado o mais pobre da França, conhecido pelo alto índice de desemprego, pela forte presença de imigrantes mas também onde 25% da população é jovem.

A franco-brasileira Silvia Capanema, conselheira do departamento, que exerce uma função parecida com a de uma deputada estadual, garante que os projetos de Paris 2024 para a região de Seine Saint-Denis provocaram entusiasmo. "Este foi um grande diferencial da candidatura de Paris por mostrar que a cidade vai investir também fora de seu eixo", destacou.

O anúncio oficial de Paris 2024 também vai acelerar outros projetos já previstos para a região como a extensão de três linhas de metrô, além das novas obras que servirão de legado, principalmente de moradias. Segundo ela, os moradores devem sentir desde já que também fazem parte do evento. 

"Isso tem que realmente trazer benefícios para a população. Vai ser preciso de fato mostrar que esses equipamentos vão ter que ser usados pela população, pela juventude local. É importante que traga benefícios desde agora para a vida comunitária e associativa. É preciso implicar a população desde agora na prática esportiva, nos eventos, nos projetos em tudo o que vai ser feito e também no retorno desses equipamentos, inclusive as moradias. É importante que tenha uma parte reservada a alojamentos sociais nas residências que serão entregues à população", defende Capanema.

Deputado comunista de Saint-Denis, Stéphane Peu, manifesta pelo menos duas preocupações com sua região: "Queremos que as infraestruturas funcionem tão bem durante mas também depois dos Jogos, como o centro aquático que deve depois beneficiar os estudantes de Saint-Denis, que é o departamento francês com o índice mais baixo de estudantes que deixam a escola primária sem saber nadar. É preciso que o orçamento seja respeitado e que não seja lucrativo apenas para as multinacionais com trabalhadores vindos de outros lugares. É preciso que pequenas e médias empresas da região participem das obras para contratarem mão de obra local e dar emprego a uma população que vale lembrar é a mais pobre do que a média da França e tem um taxa de desemprego de um terço acima do resto do país", observou.

Franceses comemoram a volta de Olimpíadas a Paris

Enquanto as obras não começam, parisienses e franceses comemoram a volta do maior evento esportivo do planeta ao país, cem anos depois. Muitas imagens ficarão gravadas como a expressão de alegria: desde o retorno da delegação agitando as bandeiras olímpica e da França no aeroporto de Paris na descida do avião que os trouxeram de Lima, até festa popular com mais de dez mil pessoas na frente da prefeitura de Paris, passando pela recepção no Palácio do Eliseu, com a presença do presidente Emmanuel Macron ao lado dos ex-presidentes Nicolas Sarkozy e François Hollande. 

Paris deu nova demonstração de unidade e engajamento político e entusiasmo popular. Agora é arregaçar as mangas e preparar a nova geração esportiva para brilhar tanto na organização do evento como também nas competições que começarão dentro de sete anos.

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