O atacante Neymar recebeu uma recepção calorosa dos parisienses nas ruas, nas arquibancadas do Parc des Princes e até do monumento mais famoso da França. "Bem-vindo, Neymar" foi exibido na Torre Eiffel na noite do sábado (5) em homenagem ao craque brasileiro.
No estádio, milhares de torcedores coloriram as tribunas e vestiram a camisa amarela do PSG, criada em homenagem à seleção brasileira. Até bandeiras verde-amarelas surgiram em meio à torcida entusiasmada com o novo craque do time.
O nome de Neymar substituiu até o do próprio país na adaptação dos torcedores para a famosa música "Aquarela do Brasil".
Foi uma acolhida digna de um "rei", como o craque foi chamado pela imprensa esportiva francesa.
Durante a apresentação à torcida no sábado, uma hora antes da estreia do Paris Saint-Germain no campeonato, com vitória de 2 a 0 para o Amiens, Neymar agradeceu o carinho em francês, para delírio dos espectadores.
Depois, já exibindo sua nova camisa 10, voltou a dizer que quer fazer história com seu novo clube.
"Estou muito feliz, vim para um novo desafio, quero contar com a ajuda de vocês e vim para marcar a história", resumiu.
Projeto ambicioso
Mesmo discurso da véspera, quando foi apresentado para os mais de 350 jornalistas presentes no estádio. Não foi o dinheiro de uma transferência milionária que o seduziu para vestir as cores do PSG, e sim o projeto do clube, que, segundo Neymar, é muito ambicioso e tem condições de ser o melhor do mundo.
"Fui bem recebido em Paris, hoje é a minha casa, estou vivendo um novo sonho, buscando novos desafios, a minha feclicidade, a de meus companheiros e a do clube", declarou.
Seu amigo e também recém contratado pelo PSG, o lateral Daniel Alves disse entender a decisão de Neymar. Por indicação do craque, Dani veio parar no Paris Saint-Germain e espera repetir o sucesso que tiveram juntos no Barcelona.
"A expectativa que causa Ney é pelo seu nome, pelo futebol que pratica e pela vontade de ‘comer o mundo’. É evidente que você dá um passo de gigante com um jogador deste nível para competir com outras equipes. Vai dar um salto de qualidade à equipe e ao clube", disse.
Segundo Dani Alves, que tinha negociação encaminhada com o Manchester City, as ambições do Paris Saint-Germain influenciaram a decisão dos dois. "Essa equipe almeja grande, e isso para a gente é motivador, por isso decidimos vir para cá. Dinheiro tem em qualquer lugar", afirmou.
Transferência do século
Foram semanas de suspense até Neymar anunciar sua decisão, que chacoalhou o mundo do futebol. A transferência de Neymar para o PSG custou € 222 milhões, o equivalente a R$ 820 milhões, e se tornou a mais cara do futebol, por isso é chamada de a "transferência do século".
No time parisiense, Neymar vai ganhar cerca de R$ 120 milhões por ano. Os números dão vertigem e provocaram uma discussão acalorada sobre a dimensão econômica que envolve o futebol mundial.
Neymar insistiu que o dinheiro não foi o que lhe motivou a trocar o Barcelona e deixar seu companheiro Messi para encarar outro grande desafio na carreira, aos 25 anos de idade.
Durante a coletiva de imprensa, o presidente do PSG, o catariano Nassel Al Khelaifi, disse que o clube vai honrar o "fair play" financeiro da UEFA, que estabelece que um clube deve manter suas contas em dia e equilibrar despesas e receitas.
Por trás do investimento em Neymar, está um país, o Catar, rico em petróleo e gás, que adquiriu o controle do PSG por meio de um fundo de investimentos.
Investir no esporte faz parte do chamado "soft power" (poder suave), uma maneira de influenciar decisões e melhorar a imagem por diferentes canais de comunicação como o esporte. Neymar simboliza uma nova atuação dessa estratégia.
Segundo Pascal Boniface, diretor do Instituto de Relações Estratégicas Internacionais e especialista em geopolítica do esporte, muitos ganham com Neymar: a liga francesa de futebol, o PSG e os seus proprietários, pois Neymar é um negócio rentável e o valor será recompensado.
"O PSG conta com aumento de receitas de merchadising, de venda dos direitos de transmissão para televisão. Não é porque o Catar é um país rico que ele pode fazer tudo o que quiser com o PSG, devido ao 'fair play' financeiro. Mas, realmente, há uma aposta do PSG para que os direitos de transmissão e produtos derivados, como a venda de camisas, explodam, principalmente no mercado asiático", justifica.
Euforia dos torcedores
Os torcedores parisienses estão eufóricos. Em Paris, enfrentaram imensas filas e lotaram as lojas oficiais do PSG para, em poucas horas, comprar milhares de camisas com o nome Neymar Jr. nas costas.
Sócio do clube desde 1982, Audezio da Graça, francês de origem caboverdiana, resume o que muda com Neymar: “Temos um dos três melhores jogadores do mundo. Vamos ter mais respeito, principalmente na Europa, e agora estamos no mesmo patamar de outros grandes clubes europeus”.
A imprensa francesa também comemora a vinda de Neymar. Não há dúvidas de que a liga Francesa ganha em visibilidade e que o clube entrou em uma outra dimensão. Nicolas Paillard, que há 17 anos cobre o Paris Saint-Germain para a emissora Canal +, comenta a nova visibilidade do PSG.
“Será um clube com ressonância mundial agora. Quando se tem o terceiro melhor jogador do mundo na sua equipe, ela entra no clube dos grandes como Real Madrid, Barcelona, Manchester United e Juventus, por exemplo. Mesmo se o clube ainda não ganhou a Liga dos Campeões, ele está agora no mesmo nível dos maiores do planeta. Não era o caso antes”, explica.
Poderio econômico o PSG mostrou que tem, mas faltam títulos. A prioridade do clube é ganhar a Liga dos Campeões da Europa, que o próprio Neymar impediu na temporada passada na histórica vitória de 6 a 1 do estádio Camp Nou ao marcar dois gols e dar duas assistências decisivas.
Quatro meses depois de ter contribuído para destruir o sonho parisiense de ir mais longe na competição, ele desembarca no clube com a missão de erguer muitos troféus, entre eles o da Champions League, obsessão do PSG e de seus ricos proprietários. Pressão que o próprio craque diz não sentir, pelo menos nesse período de lua de mel com a direção e os fanáticos torcedores.
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