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Esporte em foco

Guga recebe anel do Hall da Fama em Roland Garros: “Vir aqui é sempre especial”

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O brasileiro Gustavo Kuerten recebeu neste domingo (11), minutos antes da final masculina de Roland Garros, o anel oferecido pelo Hall da Fama aos maiores tenistas da história. A cerimônia na quadra principal do torneio que o consagrou, encerrou a série de homenagens ao tenista por ocasião dos 20 anos de seu primeiro título no saibro parisiense.

Guga discursa durante a homenagem em que recebeu o anel do Hall da Fama, em Roland Garros, em 11 de junho de 2017
Guga discursa durante a homenagem em que recebeu o anel do Hall da Fama, em Roland Garros, em 11 de junho de 2017 Pierre René-Worms
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Vestido de terno marron, com camisa e gravata azuis, Guga foi acolhido na quadra principal de Roland Garros por um grupo de ex-jogadores que marcaram a história do tênis e fazem parte do Hall da Fama como Roy Emerson, Guillermo Villas e ainda a francesa Françoise Dürr.

Um vídeo projetado nos telões da quadra Philippe Chatrier relembrou alguns momentos marcantes da carreira do tenista e terminou com a célebre imagem de Guga desenhando um coração na quadra com sua raquete ao comemorar seu terceiro título, em 2001.

Guga recebeu das mãos do presidente do Hall da Fama, o ex-tenista Stan Smith, o anel reservado aos jogadores que marcaram a história do esporte. Com o microfone nas mãos, e em francês, Gustavo Kuerten agradeceu a homenagem e confessou: “Sempre que venho aqui é especial”.

No final da cerimônia, bolas de tênis formaram um coração no saibro e Guga pousou para fotos com o símbolo da candidatura de Paris 2024. O brasileiro saiu de quadra com seus dois filhos no colo.

Nas redes sociais, a Federação Francesa de Tênis apresenta Guga como o “Rei dos Corações” do Grand Slam francês e considera a relação do brasileiro com o torneio um “caso de amor único”.

Maior clareza ao lembrar do título

Durante a semana, Guga participou de cerimônias organizadas pela Federação Francesa de Tênis e de seus patrocinadores para marcar o feito histórico.

No dia 8 de junho de 1997, um jovem brasileiro, 66° do ranking mundial, erguia um cobiçado troféu pelos melhores tenistas do mundo. Poucas pessoas acreditavam que aquele garoto de 20 anos, com jeitão de surfista, vasta cabeleira presa por uma bandana e roupas de cores fortes, pudesse chegar à final e vencer, fato inédito para um tenista que não era nem cabeça-de-chave.

Hoje, aos 40 anos, Guga revive os momentos tão marcantes, com o distanciamento de duas décadas. “Tenho uma clareza maior nas peças,na montagem da façanha. Você separa mais o personagem, o jogador, do feito. Eu consigo saborear melhor e consigo dividir mais com as pessoas”, disse em entrevista à RFI Brasil.

“É muito claro que não é de uma pessoa só, eu percebo que é muita gente além do Guga, por  mais que o privilégio seja meu, de estar aqui saboreando a maioria das oportunidades. Fiz questão de a mãe estar por perto, de trazer as crianças [seus dois filhos], porque é muito claro que vai além da capacidade de uma só pessoa. Isso é o brilho diferente que traz na observação. Além dos jogos, muitos outros detalhes começam a ter uma importância ainda maior”, disse.

Com o passar do tempo, Guga também consegue observar melhor cada detalhe de uma trajetória que começou com vitória sobre o tcheco Slava Doesedel. Na sequência, ele passou pelo sueco Jonas Bjorkman, pelo austríaco Thomas Muster, pelo ucraniano Andrei Medvedev até chegar às quartas de final contra o russo Yevgeny Kafelnikov, que defendia seu título. Superado o grande obstáculo, Guga enfrentou e venceu na semi o belga Filip Dewulf e na grande final o espanhol Sergi Bruguera, outro campeão do saibro parisiense. Nesse trajetória, Guga destaca um jogo fundamental: “O grande jogo foi contra o Kafelnikov. Ali o título apareceu em cores vivas na nossa cabeça. Aí o título apareceu e a gente colocou como prioridade absoluta. Foi fundamental para a caminhada, porque ele era o favorito”. “Entra naquela quadra central, aquele caldeirão e vencer o campeão do ano anterior, foi a armadura que a gente conseguiu abraçar para ser o campeão”, lembrou.

A vitória contra Kafelnikov deu outra dimensão ao brasileiro. O assédio da imprensa cresceu e seu treinador, Larri Passos, ligou para a assessora de imprensa que teve que vir às pressas do Brasil. DO centro de imprensa de Roland Garros, Diana Gabanyi lembra como foram os dias em que Guga deixou o anonimato para os holofotes da fama.

Assessora de imprensa do Guga, a jornalista Diana Gabanyi acompanha as homenagens e também lembra do impacto com o avanço do Guga no torneio. Depois da vitória nas quartas de final, ela foi chamada às pressas pelo treinador Larri Passos para poder atender as demandas de toda a imprensa, nacional e internacional. “Eu me lembro de uma avalanche de jornalistas estrangeiros falarem comigo para eu contar quem era o Guga, como era Florianópolis, se era uma ilha, falar de jacaré, da avó dele. Na semifinal de Roland Garros, todo mundo queira saber quem era aquele menino surfista, com roupa colorida, que na época não tinha muito, como funcionava a família, todas essas coisas que as pessoas não sabiam mesmo”, recorda. “Tudo foi muito natural, a gente não tinha muita experiência e ia fazendo com o nosso instinto e dentro do que era possível fazer, com a ajuda da ATP [Associação dos Tenistas Profissionais] e da ITF [Federação Internacional de Tênis], mas ele acabou atendendo todo mundo”, lembra.

O título não mudou apenas a vida de Guga; mas de toda sua família. A mãe, dona Alice, também testemunhou a grande façanha do filho. De volta ao complexo esportivo, ao lado de Guga, ela reviveu os momentos emocionantes que com o filho vinte anos depois. “É muita energia. A gente nem lembra que passou 20 anos, isso é o mais importante, parece que ainda a gente está vivendo aquele dia aqui”, afirmou. “Eu lembro que há 20 anos eu estava com a mesma faringite, a primeira coisa que eu lembrei”, disse, em meio a uma gargalhada, antes de lembrar do efeito surpreendente da conquista. “Na verdade, foi uma coisa inesperada. Foi muita emoção porque era tudo muito novo, muito distante da realidade”, confessa. “A maior emoção foi ver o Guga numa quadra dessa, naquele jogo tão bonito. Aquilo foi o que mais me emocionou”, destacou.

Duas décadas depois, dona Alice diz que os momentos não se apagam nem se distanciam da memória. “Ficou tudo marcado. É só fechar o olhinho e voltar um pouquinho atrás e a gente relembra tudo”, afirmou.

Lembranças revividas neste domingo com a entrega do anel do Hall da Fama, distinção reservada aos tenistas que marcaram a história do esporte. Ex-campeão e atual presidente do Hall da Fama internacional, o americano Stan Smith explicou que a cerimônia homenageia o jogador no local que é muito importante. Guga teve 20 títulos na carreira, mas o tricampeonato do Aberto Francês marcou definitivamente Roland Garros na carreira de um atleta que, segundo Smith, soube sobretudo cativar o público e contribuir para uma aproximação do tênis com os torcedores.

“Todos os grandes momentos do Hall da Fama, todos os grandes jogadores são muito especiais. Mas Guga era muito conectado com o público, com outros jogadores, era querido por outros atletas, mesmo os que ele venceu. Ele trouxe algo muito especial, com sua simpatia com o público, por isso as pessoas gostam tanto dele”, afirmou.
Mais uma homenagem que o tricampeão de Roland Garros faz questão de dividir com sua família e seus inúmeros fãs.

“É tentar transbordar esses momentos que eu recebo e tenho o privilégio, principalmente na quadra, que é o mais emocionante. Procuro transmitir para as pessoas, canalizar mais e trazer esse efeito como algo multiplicador. Se fosse somente meu, o sabor seria muito pequeno. Então vem a mãe, vem todo mundo, cada um conta essa história de uma forma e contagia as pessoas. Com uma esperança, com fé, o Brasil que vale a pena, orgulho de ser brasileiro que é o que nosso país precisa tanto”, concluiu.

 

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