Grand Slam de Paris: judocas relatam decepção e aprendizado com derrotas
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Lágrimas de decepção, experiência de luta em nova categoria e adaptação às novas regras do judô marcaram a participação de três atletas brasileiras no Grand Slam de Paris de judô, disputado neste final de semana: Sarah Menezes, campeã olímpica em Londres, Yanka Pascoalino, que faz sua estreia na seleção brasileira adulta e Ticiana César, que compete pela Guiné-Bissau.
Sarah Menezes chegou ao auge da carreira em 2012, quando se consagrou nas Olimpíadas de Londres com o ouro na categoria até 48 kg. Mas nos últimos anos, a judoca piauiense não brilhou como gostaria nos tatames internacionais.
No ano passado, decidiu trocar da categoria ‘ligeiro’ para a ‘meio-leve’, até 52 kg, depois do fracasso nas Olimpíadas do Rio de Janeiro. O Grand Slam de Paris é sua primeira competição de alto nível com a nova categoria.
No ano passado ela saiu da capital francesa com o bronze, e neste ano ficou perto, mas não subiu ao pódio. Perdeu a disputa do bronze na repescagem, mas não saiu totalmente decepcionada do tatame.
“Apesar de não ter subido ao pódio, para mim a competição foi boa. Tive uma boa percepção lutando. E agora é ter mais calma, e trabalhar para me adaptar com a força e o ritmo, que são diferentes. Aos poucos, os frutos virão", disse, confiante.
Sarah Menezes também comenta que o período é de adaptação às novas regras do judô. Não existe mais a pontuação yuko, um atleta só perde depois de três punições durante a luta, e o tempo de combate é o mesmo para todos, de quatro minutos, um a menos para os homens. As mudanças também dizem respeito ao posicionamento no tatame.
“A gente ainda está confuso. Tem o ponto do lado, que era o yuko, que não existe mais, agora é o waza-ari. Não tem mais a soma dos pontos para o ippon. O combate vai até o final, se não tiver ippon. Tem ainda questões de pegada, de pisar fora do tatame. São muitos detalhes e o tempo é muito curto para você raciocinar. Tem que trabalhar muito a repetição, para fluir normal durante a luta. Daqui uns quatro ou cinco meses, eu vou estar melhor adaptada”, prevê.
Antes mesmo da experiente Sarah Menezes, que está prestes a completar 27 anos, deixar o torneio, uma das mais novas atletas da seleção brasileira já havia deixado o Grand Slam. Yanka Pascoalino, da categoria ‘meio-médio’, estreou com vitória no torneio parisiense ao passar pela americana Hannah Martin. Mas, na seqüência, foi eliminada na segunda rodada pela francesa Margaux Pinot e saiu aos prantos do tatame.
“Tinha uma tática, como já havia treinado no Japão, mas não deu certo. Dei bobeira e acabei perdendo’, disse, com os olhos cheios de lágrimas. Campeã dos Jogos Pan-Americanos Junior de 2016, Yanka, que recém completou 20 anos, é uma das apostas do Brasil na renovação da equipe visando o ciclo olímpico de Tóquio.
Seu próximo desafio é um torneio na Áustria que fará parte de sua evolução no judô alto nível, depois da participação no torneio farncês. “Como experiência é muito bom. Já não tenho mais medo em competir em um competir em um nível deste. Estou mais confiante e é passo a passo para chegar ao topo”, diz.
Brasileira compete pela Guiné-Bissau
No Grand Slam de Paris, a RFI Brasil encontrou também a judoca Taciana Lima, que compete agora pela Guiné Bissau. Em sua volta à uma competição internacional depois da participação dos Jogos do Rio, Taciana perdeu sua primeira luta contra uma chinesa, saiu muito decepcionada e contestando a decisão da arbitragem, mas com a cabeça erguida.
Nascida no Brasil, ela competiu pela seleção brasileira durante vários anos, mas teve sua carreira interrompida durante um ano após o teste positivo de uma substância proibida: furosemida. O doping foi flagrado durante a Copa do Mundo de 2011 em São Paulo.
Depois do caso, ela decidiu competir pelo país de origem de seu pai, que conheceu já quando era adulta. “Só o vi pela primeira vez aos 29 anos, assim completei minha história de vida”, comentou. O encontro a fez descobrir e se encantar pela nação africana. “Gostei muito do país, me chamou a atenção. Ele não tem muito poder esportivo, e pensei: posso fazer uma coisa por ele, então estou aqui”, disse.
Taciana afirma que é freqüente ter que responder questões sobre a localização do seu país de adoção, já que no meio do judô são poucos os competidores do continente. “Muito perguntam onde fica, se é uma ilha. Tenho que explicar tudo. Hoje mesmo, um árbitro me perguntou o que significa a sigla GBS”, disse, em referência às três letras do quimono que identificam o país do atleta.
Prestes a completar 33 anos, a judoca é pentacampeã africana, com títulos desde 2013. Este ano mudou seu nome para Taciana César, depois do casamento. Vivendo em Portugal, onde treina com a equipe do Sporting, ela se diz contente por ter liberdade de decidir sua agenda e participações em competições, graças também à ajuda fundamental da Federação Internacional de Judô.
“Tenho apoio da Federação Internacional, que é meu ‘pai, minha mãe e minha família’. Eles me apóiam nas competições. A Guiné Bissau também contribuiu, mas com pouco, não é um país que tem muito dinheiro para isso. Então é a Federação Internacional que me ajuda com tudo”, conta.
Apesar da satisfação de competir por uma nação africana, ela não esconde sua forte relação com o Brasil, onde treinou com a equipe do Sogipa. Mas sua relação profissional com o país é considerada uma “página virada”.
“Eu tenho muito carinho, óbvio, é o meu país. Mas já estou bastante acostumada a representar a Guiné Bissau. Sinto muita saudade do Brasil, apesar de estar morando em Portugal. Em relação ao judô, sim, é uma página virada. Estou muito feliz representando a Guiné Bissau. Tenho total autonomia e liberdade para junto com o meu treinador do Sporting planificarmos nossas competições e estágios. Isso para mim é melhor coisa”, afirma. “Já tenho 33 anos e sei muito bem o que quero”, conclui.
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