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“Corrupção na Fifa é produto do estilo Havelange”, diz pesquisador

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“Um homem que transformou o futebol e que certamente era ligado à corrupção.” É assim que o ex-presidente da Fifa, João Havelange, morto nesta terça-feira (16), aos 100 anos, deve entrar para a história do esporte, segundo o sociólogo mexicano e pesquisador do futebol Fernando Segura Trejo.

O pesquisador e sociólogo Fernando Segura Trejo.
O pesquisador e sociólogo Fernando Segura Trejo. Captura de Vídeo
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Presidente da entidade máxima deste esporte durante um quarto de século, entre 1974 e 1998, Jean-Marie Faustin Goedefroid de Havelange, filho de um imigrante belga, nasceu e morreu no Rio de Janeiro. Ele chegou a disputar as olimpíadas de 1936 e 1952 como nadador, mas foi como dirigente esportivo, à frente do Fluminense e depois da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que se destacou.

Ao chegar à Fifa, em 1974, lançou as bases para transformar o futebol na grande indústria que viria a se tornar nas décadas seguintes. “Ele conseguiu uma expansão quase total do futebol no mundo”, afirma Frenando Trejo. “Havelange chegou ao poder com os votos dos países do terceiro mundo. Ele oferecia ajuda econômica pedindo sempre votos aos países”, explica o pesquisador, também professor da Universidade Federal de Goiás.

João Havelange se reelegeu cinco vezes presidente da entidade, sem concorrentes. “Todos tremiam diante do seu olhar, do seu prestígio e da sua estatura. Era um homem de ferro”, define o ex-diretor de Imprensa da Fifa, Guido Tognoni, citado pelo jornal Le Monde desta terça-feira.

Em 1998, Havelange deixa a Fifa, legando a seu pupilo Joseph Blatter não apenas um império, mas também as sombras das acusações de corrupção na International Sport and Leisure (ISL), empresa de marketing esportivo acusada de ter ajudado a enriquecer os dirigentes esportivos através de propinas entre 1982 e 2001, ano em que foi à falência.

Escândalo ISL

Em 2013, Havelange é oficialmente acusado pelo comitê de ética da entidade de ter recebido dezenas de milhões de dólares em suborno da ISL. Ele deixa então o cargo de presidente de honra, mantendo como seu representante o genro Ricardo Teixeira, ex-dirigente do futebol brasileiro.

“Havelange criou uma concepção do futebol em função de um produto a ser comercializado. A Fifa que a gente conhece hoje é produto de uma ideia concebida por ele nos anos 1970”, afirma Fernando Trejo. Além de levar o esporte a outros continentes, Havelange também foi o criador das copas do mundo sub-20 e feminina.

O futuro da Fifa, segundo Trejo, vai depender do que os novos dirigentes decidirão fazer com a herança de Havelange. “Esses escândalos de corrupção são produto de um estilo de poder vinculado ao estilo de João Havelange. Blatter tem um estilo muito parecido”, diz Trejo.

O retorno do comando do futebol mundial a mãos de dirigentes europeus, com Gianni Infantino, segundo o pesquisador, não é garantia de uma moralização da indústria esportiva: “Infantino é um presidente que se formou dentro deste esquema de poder criado por Havelange e continuado por Blatter. É preciso ver se ele é capaz de ultrapassar essa maneira de administrar o futebol e trazer um pouco mais de transparência na gestão.”

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