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Esporte em foco

Para quem torcem os franco-portugueses na final da Eurocopa 2016?

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Os portugueses são a maior comunidade estrangeira de origem europeia na França. Eles começaram a chegar em massa nos anos 1960 e 1970, fugindo da crise e ficaram. A paixão por futebol é um ponto em comum entre os dois países. Mas quando se fala em final de Eurocopa, para quem vão torcer os franco-portugueses?

Torcedores portugueses que moram na França falam sobre a final da Eurocopa 2016 entre Portugal e França.
Torcedores portugueses que moram na França falam sobre a final da Eurocopa 2016 entre Portugal e França. RFI
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A comunidade franco-portuguesa fez torcida apaixonada pelo time lusitano até a semifinal. E, apesar de muitos torcedores terem nascido na França, a lealdade ao país de origem pode prevalecer. Para ter uma ideia da tendência, a RFI foi às ruas de Paris abordar algumas pessoas de origem portuguesa.

A reportagem começou no mercado de Aligre, região central de Paris. Um stand especializado em produtos portugueses estava fechado. Logo me indicaram um café-mercearia ali perto. As duas senhoras atrás do balcão, apesar da simpatia, não quiseram falar, alegando não entender nada do assunto. Mas lembraram de um supervisor de origem portuguesa, funcionário de um supermercado a poucos metros dali.

Helena, portuguesa que mora há 32 anos na França, torce por Portugal.
Helena, portuguesa que mora há 32 anos na França, torce por Portugal. RFI

O supervisor não estava, mas dois funcionários falando português fluente não se acanharam diante do microfone. Helena, inclusive, mostrou as unhas pintadas com as cores de Portugal em uma mão, e com as da França, na outra. “Eu queria que Portugal ganhasse, mas acho que vai ser a França”, diz a apaixonada por futebol, há 32 anos no país, e que assistiu a todos os jogos da Eurocopa.

Já o colega Shadrac, há cinco anos na França, nasceu no chamado Congo português, região entre Angola e a República Democrática do Congo. Ele vai torcer pela França. “Eu vivo aqui, preciso apoiar a França, e isso não tem nada a ver com o fato de vir de um país que foi colonizado por Portugal”, afirma o sorridente torcedor.

Não muito longe, o restaurante-centro cultural Lusofolies é uma espécie de quartel-general da comunidade portuguesa na França e um ótimo endereço para comer a comida típica. Marina responde de trás do balcão, enquanto prepara os pedidos. “Em futebol tudo pode acontecer, mas temos Cristiano Ronaldo, que é o melhor do mundo”, diz. O outro garçon, Tony, é nascido na França: “Vou torcer pelos dois, mas meu coração está mais para Portugal”. Entre os clientes, Cristiano, de apenas nove anos, confia na vitória portuguesa e acha que o xará CR7 é melhor que Antoine Griezmann.

Crise trouxe portugueses para a França

Os números oficiais falam em mais de 600 mil portugueses natos vivendo na França, mas a comunidade, incluindo as gerações seguintes, com dupla nacionalidade ou já só franceses, pode chegar a 800 mil ou até 1,2 milhões, segundo estimativas.

Até o século 20, portugueses instalados na França eram uma raridade. Eles preferiam imigrar para terras mais longínquas, como Brasil e África. Mas a partir dos anos 1960 e 1970, com as revoluções independentistas das colônias africanas, ditadura salazarista e a crise econômica, os países vizinhos – França, Alemanha, Luxemburgo e Suíça – começaram a parecer mais atrativos.

Vindos de um meio rural miserável, como imigrantes na França, os portugueses tinham a vantagem de serem brancos e católicos, além de logo ganharem a fama de serem bastante trabalhadores. Os setores favorecidos pelos portugueses eram o de construção civil e serviços domésticos.

Futebol ajudou integração de portugueses na França

Em 2009, existiam pelo menos 205 clubes de futebol portugueses em França, relata Victor Pereira, da Universidade Pau e des Pays de l’Adour. “O futebol ajudou os migrantes a adaptarem-se a um ambiente urbano e à sociedade moderna francesa. Os portugueses inventaram um savoir-faire que lhes permitiu atingir um certo reconhecimento social. O futebol também é muito importante na relação entre pais e filhos, uma relação muito particular no contexto da migração. Muitos pais portugueses transmitiram aos filhos a sua paixão pelo futebol e o seu interesse pelos clubes portugueses. Muitas vezes, esta paixão foi sinônimo da transmissão de uma identidade portuguesa”, diz o especialista em um artigo publicado pela revista Etnográfica.

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