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Radar econômico

Em meio a cortes na Defesa, governo acerta compra de mísseis europeus por € 200 mi

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A imprensa francesa revelou que o governo brasileiro assinou o contrato de compra de 100 mísseis antiaéreos Meteor de fabricação europeia para equipar a frota de caças Gripen que estão sendo desenvolvidos para renovar a Força Aérea do Brasil. O armamento, adquirido por € 200 milhões (R$ 876 milhões), será produzido pela MBDA, companhia industrial líder na Europa.

Gripen NG montagem com cores da FAB
Gripen NG montagem com cores da FAB K.Tokunaga Saab
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O anúncio oficial, com as especificações do contrato, é esperado para ocorrer no Salão de Aeronáutica de Paris, que acontece na semana que vem. A compra se dá num momento de drásticas restrições orçamentárias nas Forças Armadas brasileiras, que tiveram cortes de 44% dos recursos revelados em maio.

Os mísseis ar-ar de longo alcance Meteor são os mais modernos do mundo e serão integrados em modelos de ponta como o francês Rafale e o europeu Eurofighter Typhoon. A construtora sueca SAAB, que fabrica o Gripen, é a principal parceira da MBDA. A compra do armamento integrado estava prevista desde 2015, em um procedimento que dispensou licitação.

Dependência externa

O pesquisador em assuntos militares Expedito Bastos, da Universidade Federal de Juiz de Fora, não tem dúvidas sobre a qualidade da escolha – mas lamenta que, ao importar, o Brasil se afasta cada vez mais do sonho de produzir os próprios equipamentos.

Gripen Brasil
Gripen Brasil K.Tokunaga Saab

“Nós precisamos não ficar dependentes de quem fabrica os mísseis. O país precisa fortalecer a sua base industrial de defesa e tentar desenvolver alguma coisa paralela [à compra dos misseis da MDBA]. Não adianta só comprar”, avalia Bastos. “Amanhã, podemos não estar mais afinados com quem produz isso, eles cortam a venda e você não tem mais como suprir. A tecnologia não se compra: se desenvolve. Ou você tem, ou não tem.”

Tecnologia fora do alcance

O jornalista especializado Nelson Düring, editor do site Defesanet, é mais cético quanto à capacidade de o Brasil chegar a fabricar um produto equivalente. Os investimentos em desenvolvimento e pesquisa são tão colossais que os europeus unem as forças para conseguir produzi-los – a MBDA é francesa, britânica, italiana e alemã. Além da Europa, apenas os Estados Unidos são capazes de atingir o grau de sofisticação exigido para esses armamentos.

“Quantos anos eles levaram para desenvolver um míssil dessa categoria? É muito dinheiro. Tem o custo do propelente, do explosivo, da eletrônica”, ressalta Düring, que acompanha o assunto há mais de 30 anos. “Temos de pensar que ele vai operar em ambientes altamente saturados de guerra eletrônica. Ele tem que ser inteligente para conseguir passar as barreiras impostas a ele. Para 100 ou 200 misseis, é muito mais vantajoso termos acordos de colaboração com a MBDA.”

O contrato com a SAAB foi firmado em 2014, no governo de Dilma Rousseff, e a primeira aeronave deve ser entregue ao Brasil em 2021. Entretanto, os cortes no orçamento afetarão o calendário. A previsão inicial, de conclusão da entrega dos 36 caças em 2024, já foi adiada para 2026.

“Só tende a piorar. Essas restrições orçamentárias estão matando essas áreas porque, aqui, nada tem continuidade”, lamenta Bastos. “Esse é o grande defeito: somos péssimos gestores de longo prazo. Estamos sempre buscando novidades, mas não ficamos modernos”, diz o professor.  

Cargueiros da Embraer

Os cortes na defesa também ameaçam a fabricação dos cargueiros KC-390, carro-chefe da área de defesa da Embraer. A FAB encomendou 28 aviões. A promessa é de que o primeiro seja entregue logo após da apresentação da aeronave, prevista no Salão de Bourget.

O Ministério da Defesa foi consultado para essa reportagem, mas não deu retorno aos pedidos de entrevista até o fechamento da matéria.

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