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Radar econômico

Perspectiva de recorde de empregos na França favorece estrangeiros

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Desde a crise de 2008 que as empresas francesas não planejavam empregar tanto quanto neste ano. Uma pesquisa divulgada em abril pelo Pôle Emploi, serviço de acompanhamento dos desempregados, indicou que o clima favorável deve resultar em 2,7 milhões de contratos. Em alguns setores, como a engenharia, a falta de mão de obra leva o país a se abrir para profissionais estrangeiros.

França tem carência de engenheiros.
França tem carência de engenheiros. pxhere.com
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O mercado de trabalho francês registra carências em diversas áreas. A maioria são postos pouco qualificados de serviços, da construção civil e empregos temporários, como viticultor ou garçom.

“Mesmo com um crescimento econômico relativamente moderado, temos tensões em alguns setores, apesar de um contexto de desemprego que permanece elevado, de cerca de 9%. A França tem uma forte proporção de desempregados de longa duração, de mais de um ano, o que faz com que essas pessoas se afastem dos pré-requisitos pedidos pelas empresas, por falta de formação”, explica o economista Yannick L’Horty, da Universidade Paris-Est Marne-la-Vallée.

Nos cargos superiores, sobram vagas de especialistas em informática e engenheiros. L’Horty nota que, assim como vários outros países europeus, a França ainda protege o seu mercado de trabalho, mas tem promovido a vinda a trabalhadores estrangeiros para responder à demanda de setores estratégicos, que dinamizam a economia.

“Há uma abertura muito regulada do mercado. Uma das maiores possibilidades é de os estudantes estrangeiros virem terminar os estudos na França e, no final, sob algumas condições, poderem ter um emprego francês”, observa o pesquisador do mercado de trabalho.

Empresa foi atrás de brasileiro

Foi o que aconteceu com o cearense Rômulo Pletsch, de 27 anos, que veio à França em busca de um duplo diploma de engenharia e acabou recebendo uma proposta de trabalho quando já estava de volta ao Brasil, após concluir o curso de engenharia mecânica.

“Eles conseguiram o meu currículo, não sei como, e me mandaram um email dizendo que o meu perfil interessava, que eu já tinha tido uma experiência no mercado automobilístico. Fiz uma entrevista por telefone mesmo, e depois me pediram para fazer a entrevista seguinte com o chefe de projetos já na França”, conta. “Fiquei surpreso porque, em geral, é a gente que vai atrás do emprego.”

O engenheiro Rômulo Pletsch recebeu uma proposta de emprego depois de retornar para o Brasil para concluir os estudos
O engenheiro Rômulo Pletsch recebeu uma proposta de emprego depois de retornar para o Brasil para concluir os estudos Arquivo Pessoal

Pletsch aceitou a oferta, e a empresa se encarregou em dar entrada no pedido do seu visto de trabalho na França. Paradoxalmente, o brasileiro se enquadra no perfil mais problemático de recrutar para uma empresa francesa.

“O caso mais complicado é uma empresa contratar um funcionário que não reside na França e vem de fora da União Europeia. O processo é mais difícil para a empresa, e, antes de mais nada, ela precisa tentar contratar alguém na própria França”, destaca o economista Bruno Ducoudré, especialista em mercado de trabalho do Observatório Francês da Conjuntura Econômica (OFCE). “Ela precisa provar que tentou antes de recorrer a alguém que mora fora da União Europeia.”

Estrangeiros sofrem mais com o desemprego

É por isso que é preciso estar atento aos setores nos quais a demanda de trabalhadores é flagrante. Ducoudré ressalta que, de uma maneira geral, os estrangeiros pouco qualificados são os que mais sofrem com o desemprego na França.

“Somos um país que tem uma demografia dinâmica, com uma população ativa que cresce a cada ano. Estamos longe da problemática que existe no Japão ou na Alemanha, que têm queda da população ativa”, observa. “Eles, sim, têm necessidade de atrair trabalhadores estrangeiros para atender à demanda de mão de obra.”

Oportunidades após o diploma francês

A dica valiosa de Rômulo Pletsch é realizar os estudos na França, se possível em uma instituição de prestigio, como as chamadas grandes écoles. O cearense garante que o diploma francês faz toda a diferença na hora de buscar trabalho no país.

“Eu conheço vários outros brasileiros que vieram para cá procurar emprego e conseguiram, mas também pessoas de muitos outros lugares do mundo. Já trabalhei com gente da Alemanha, Índia, Coreia do Sul, Japão”, relata o engenheiro. “É um mercado bem aberto e globalizado, que eu recomendo para as pessoas que me perguntam por estarem buscando sair do Brasil e vir morar na Europa.”

A França oferece dois tipos de vistos para estrangeiros que querem tentar a vida profissional no país: o APS (Autorização Provisória de Permanência), destinado a recém formados de alto nível em instituições francesas, e o Talentos Internacionais, que visa aumentar a atratividade de trabalhadores e pesquisadores qualificados, além de empreendedores.  

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