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Radar econômico

Petróleo caro ameaça retomada mundial e não interessa ninguém

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A alta do preço do petróleo desde o início do ano está longe de preocupar apenas o Brasil – a subida do barril para além de US$ 80 ameaça a retomada econômica mundial, alertam analistas do setor. Um dos pilares da volta do crescimento após anos de crise internacional foi o preço baixo da energia, que favorece a atividade.

Preço do barril do petróleo estava "anormalmente baixo", destaca especialista no setor.
Preço do barril do petróleo estava "anormalmente baixo", destaca especialista no setor. ©REUTERS/Brendan McDermid
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Num mercado tão sensível à especulação como o do petróleo, poucos se arriscam a apostar até onde vai a alta do ouro negro. A disparada em curso veio após a retirada dos Estados Unidos do acordo nuclear iraniano, que levantou dúvidas sobre a capacidade de Teerã continuar a exportar. Num contexto geopolítico tenso, os analistas mais pessimistas afirmam que uma paralisia completa da produção da Venezuela, uma das maiores fornecedoras, levaria facilmente o preço do barril a US$ 100. Esse valor ocasionaria consequências dramáticas no mundo, a começar pelo aumento da inflação e das taxas de juros, com potencial de gerar uma nova crise global.

“O preço está subindo simplesmente porque há muitas dúvidas sobre o futuro da produção mundial. E apesar do atual preço alto, os investimentos petrolíferos permanecem limitados: o petróleo continua vindo dos poços já explorados”, explica Jean-Pierre Favennec, professor da Escola do Petróleo e Motores e autor de obras sobre geopolítica da energia. “Com um barril a US$ 50, não valia a pena investir, mas a US$ 80 sim – só que isso não está ocorrendo. Ou seja, corremos o risco de não termos petróleo suficiente nos próximos anos.”

Rússia e Arábia Saudita podem recuar

Um alento à situação veio na sexta-feira passada: após uma reunião, a Arábia Saudita e a Rússia, segunda e terceira maiores produtoras, sinalizaram disposição de flexibilizar o acordo de limitação da produção que haviam firmado em 2016, em reação à concorrência americana. As duas potências avaliam que o impacto negativo para a economia dos seus clientes não compensa uma alta superior a US$ 60, na visão dos russos, ou US$ 70, conforme os sauditas.

Com mais oferta no mercado, o valor tende a cair. Os americanos, os líderes mundiais graças às reservas de xisto, mantêm uma produção abundante É por isso que Céline Antonin, especialista em mercado de petróleo do Observatório Francês de Conjuntura Econômica (OFCE), não acredita que a alta vá se acelerar.

“O barril a US$ 80 ainda é gerenciável para a maioria dos países: é o nível de preço médio dos últimos 10 anos. Nós estávamos acostumados a um preço anormalmente baixo entre 2014 e 2016”, observa a analista francesa. “É claro que um petróleo mais caro gera um impacto negativo para o PIB dos países importadores, mas, ao mesmo tempo, os efeitos positivos para os produtores não é tão significativo assim. Ou seja, globalmente, esse cenário é ruim para a economia global, embora a US$ 80 ele ainda não comprometa significativamente a retomada mundial.”

Favennec também considera o valor atual mais equilibrado para a oferta e a demanda. “Havia um cenário ideal para favorecer a retomada econômica mundial e, entre os fatores, estava o preço baixo do petróleo”, sublinha o autor de Géopolitique de l’Energie (A Geopolítica da Energia, em tradução livre). “Acho que um barril a US$ 80 é elevado, mas até US$ 70 é satisfatório, em especial para os países produtores, que estavam com muitas dificuldades quando o preço estava baixo demais, como a Venezuela, a Angola e a Nigéria.”

Combustíveis mais caros na Europa – mas controle de preços descartado

O aumento dos preços nas bombas se faz sentir nos postos por toda a Europa. Na França, o litro da gasolina subiu 9% no último ano e está em € 1,54 (R$ 6,64). Um estudo do Banco da França mostrou que a alta dos valores já causou uma elevação de 0,4% da inflação na União Europeia.

Por enquanto, os governos europeus descartam qualquer intervenção para controlar os valores, uma medida só usada em situações extremas, devido ao impacto negativo nos cofres públicos. Nestes casos, a queda artificial se faz pela diminuição dos impostos, que respondem por até 60% do valor do litro de combustível na Europa, nota François Perrin, pesquisador associado do OCP Policy Center, de Rabat, e diretor de pesquisas em energia do Instituto de Pesquisas Internacionais e Estratégicas (Iris), de Paris.

“No caso europeu, os países têm restrições de déficit orçamentário impostas pelos acordos da União Europeia e é muito raro, praticamente excepcional, que eles baixem os impostos sobre os combustíveis, para não afetar a arrecadação”, ressalta Perrin. “Os impostos sobre os combustíveis são uma fonte muito importante de entrada de recursos nos países-membros da União Europeia.”

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