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Radar econômico

Paixão por vinho pode virar alternativa de investimento

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Não é todo o negócio que se valoriza quase 600% em 14 anos. Foi o que aconteceu com uma garrafa da prestigiosa apelação francesa Romanée-Conti do ano 2000, um millésime comprado por menos de € 3 mil (R$ 12.634) e revendido em 2017 por € 17.146 (R$ 72.211). O exemplo dá água na boca em quem procura diversificar os investimentos – mas para apostar em vinhos, é melhor ser um conhecedor, para não cair nas armadilhas da especulação e até das falsificações.

Garrafas de château Petrus 1990, da região de Pomerol, em Bordeaux.
Garrafas de château Petrus 1990, da região de Pomerol, em Bordeaux. © Jean-Baptiste Buffetaud
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Mesmo os amadores sabem que o bom vinho se valoriza com o tempo. Portanto, comprar algumas unidades das garrafas mais disputadas para revender em cinco ou 10 anos costuma ser sem risco. As garrafas mais valiosas são revendidas em leilões especializados.

A sommelière Ana Carolina Dani, representante comercial da cave Legrand & Fils, está acostumada a fechar vendas que passam da casa dos milhares de euros. Ela afirma que, em geral, os maiores negócios no setor ocorrem quando um apreciador decide revender uma parte da sua adega, constituída ao longo de anos de paixão pelo “ouro vermelho”.

“É raro um investidor não apreciador de vinhos comprar garrafas com o único objetivo de revender para ganhar dinheiro. Eu acho que é um setor bastante segmentado, que demanda bastante conhecimento”, adverte a especialista.

Ela destaca que, em geral, os vinhos mais cotados são os grands crus: em Bordeaux, os grands crus do Médoc, como Latour, Margaux, Lafite Rotschild, Mouton Rotschild ou Haut Brion, ou os da região de Pomerol e Saint-Emilion, como Petrus e Le Pin. “Esses são valores seguros, cujos preços aumentam gradativamente nos últimos anos”, comenta Ana Carolina.

Château Ángelus é um dos rótulos valorizados para a revenda.
Château Ángelus é um dos rótulos valorizados para a revenda. ®SilviaCeli/RFI

Uma garrafa dos rótulos citados não sai por menos de € 1.000, mas tudo depende da safra. Um exemplar de um ano valorizado sai no mínimo 10 vezes mais caro. Outra região francesa consagrada é a Borgonha, que, na última década, registrou um aumento de até 180% das garrafas mais admiradas.

“A Borgonha tem uma demanda mundial que cresce e uma produção que não tem como crescer ou até diminui. Isso faz com que os preços explodam”, sublinha a sommelière. “Quem comprou vinhos de grandes produtores da Borgonha há 15 anos, como um Romanée-Conti, Domaine Leroy ou Armand Rousseau, beneficiou de uma valorização de quase 200%. Hoje, a garrafa de Romanée-Conti é comercializada por entre € 12 mil e € 15 mil, dependendo da safra.”

Vinícola da prestigiosa Romanée-Conti, na Borgonha.
Vinícola da prestigiosa Romanée-Conti, na Borgonha. Public domainRenzo Grosso

Em busca da pérola rara

Ana Carolina observa que os conhecedores se aventuram a buscar uma pérola rara: apostam em uma vinícola menos conhecida que, no futuro, poderá despontar como um vinho concorrido no mercado. Outra alternativa mais acessível, específica dos vinhos de Bordeaux, é comprar no período da venda dos “primeurs”, que acontece entre maio e julho de cada ano.

“Os vinhos são vendidos antes de estarem prontos, ou seja, ainda estão em processo de envelhecimento dentro das barricas, nas vinícolas, e são entregues ao cliente dois anos mais tarde. Você paga agora e recebe dois anos depois”, diz. “Nesse caso, a vantagem é você poder comprar mais barato em relação a quando ele for comercializado no mercado.”

A enóloga adverte, no entanto, para os perigos da comercialização sem o intermédio de um gestor ou pela internet, cada vez mais comum. Nestes casos, é impossível garantir a qualidade do vinho, que passou anos envelhecendo sob os cuidados de um desconhecido. Para assegurar o valor da garrada, é essencial preservá-la sob condições ideais de temperatura, humidade e iluminação, sob o risco de avariar o produto.

Comprar terras vinícolas

E para aqueles que querem ir além da compra dos vinhos, uma alternativa mais ousada é adquirir um pedaço de terroir francês para chamar de seu. Neste caso, o comprador investe em um lote de alguma região vinícola apreciada, na esperança de que, com o tempo, ela agregue ainda mais valor.

São os chamados Groupements Fonciers Viticoles (GFV), um tipo de corretor especializado em localizar e comercializar os raros terrenos vinícolas franceses colocados à venda. Em um setor no qual a tradição familiar é respeitada, em algumas áreas, a última transação data de 40 anos atrás.

“Não é necessário conhecer vinhos para investir em vinhas. Os GFVs são investimentos patrimoniais por excelência”, explica

André Manière, fundador do GFV Saint-Vincent, especializado em Bordeaux, Borgonha, Champagne e Vale do Rhône. “O grupo é simplesmente proprietário das vinhas, concedidas para a exploração pelo produtor viticultor, que pagará um aluguel. Em certos casos, a raridade da terra é tanta que a valorização independe dos avanços do mercado. Ela se torna um refúgio seguro: é como comprar uma obra de arte rara.”

Uma opção é investir na compra de um terreno vitícola, como em Bordeaux, no sudoeste da França.
Uma opção é investir na compra de um terreno vitícola, como em Bordeaux, no sudoeste da França. MEHDI FEDOUACH / AFP

Ele indica que o investimento mínimo é de € 50 mil, mas, em média, as transações ultrapassam os € 200 mil. As apelações mais acessíveis de Borgonha ou Bordeaux se valorizaram pouco ou nada nos últimos 20 anos, mas o preço das apelações de altíssimo nível cresceu quatro, cinco ou até oito vezes.

“Hoje estamos vendendo uma oportunidade em Saint-Estèphe, uma apelação reconhecida de Bordeaux, mas que não tem o prestígio das suas vizinhas imediatas como Pauillac, Margaux e Saint-Julien. Pensamos que, como não há mais nada à venda nessas três, a alternativa será encontrar boas oportunidades nas vinhas muito próximas”, analisa o corretor. “Saint-Estèphe jamais vai equivaler a uma área em Margaux, mas a diferença pode diminuir.”

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