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Radar econômico

Consumo responsável vira lema de mercado de Natal de Estrasburgo

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As festividades de fim de ano se aproximam e a França se enche de mercados de Natal, uma tradição europeia que data da Idade Média, para celebrar São Nicolau e o Advento. Trata-se de mercados de rua, onde se vendem comidas, bebidas, roupas, artesanato e todo tipo de presentes para esta época festiva.

Vista de cima do mercado Off de Noël, a feira de Natal alternativa que acontece em Estrasburgo de 24 de novembro a 24 de dezembro de 2017.
Vista de cima do mercado Off de Noël, a feira de Natal alternativa que acontece em Estrasburgo de 24 de novembro a 24 de dezembro de 2017. cress/J. Dorkel
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Estrasburgo é a cidade francesa que conta com o mercado mais conhecido do país, que em 2017 está celebrando 447 anos. Nesta época, a cidade fica tomada por turistas e consumidores ávidos por compras.

Toda a cidade? Não, uma pequena praça no centro de Estrasburgo resiste ao consumismo desenfreado. É o Mercado Off, que, na sua terceira edição este ano, conta com 24 expositores e está oficialmente incluído no calendário da cidade.

O Off acontece paralelamente ao Mercado de Natal de Estrasburgo e tem como lema “Um outro Natal é possível”, pois foi criado para estimular o consumo responsável e o comércio justo. Marc Brignon, da Câmara Regional de Economia Social e Solidária do Grande Leste, organizadora do Mercado Off, conta mais:

“O Mercado Off de Noel é um mercado de compras responsáveis, um mercado sobre o qual a economia social e solidária se insere no centro da capital do Natal, com o objetivo de fazer o diálogo entre o consumo e o engajamento, para incentivar as pessoas a consumirem produtos orgânicos, vindos do comércio justo, produtos vindos da estrutura de inserção da atividade econômica. São 24 expositores durante todo o período, que vendem toda sorte de produtos e presentes, como móveis, roupas, artesanato, eletrónicos, alimentação orgânica… uma gama larga e variada”, disse.

Impacto do consumo

Brignon explica que o Mercado Off não é contra o consumo, mas quer, sim, chamar a atenção para os nossos hábitos de consumo durante as festas e ao longo do ano.

“Não é um movimento anticonsumo, mas de consumo consciente, que contribui com as noções de solidariedade, de inserção, de respeito ao meio ambiente, de pensar o consumo e seu impacto, o que ele gera. Nós estamos claramente numa dimensão econômica, já que o Mercado de Natal de Estrasburgo tem 2 milhões de visitantes por ano e gera 250 milhões de euros”; afirmou.

“Nós, na nossa escala, queremos reintroduzir os valores, o senso, ser o portador de tudo isso no seio da capital do Natal, e trazer uma consciência específica sobre os atos de consumo e compra neste período do ano.”

Sem culpabilização

Segundo Brignon, não precisa haver culpabilização, apenas reflexão. “Estamos no meio de crises importantes. Crise ecológica, crise social, crise democrática, crise de cidadania. É bom neste período se questionar – de maneira festiva, sem culpabilização - sobre a maneira como a gente pode, no cotidiano; por meio dos nossos hábitos de consumo, refletir como podemos todos contribuir a uma sociedade mais harmônica socialmente, economicamente e ambientalmente”.

De acordo com ele, os 24 expositores do Mercado Off geraram 200 mil euros no ano passado, na praça Grimmaissen. Ele não arrisca a dizer quanto, mas a previsão é de que em 2017 gerem ainda mais.

“O Mercado Off é claramente inscrito na capital do Natal e tem uma posição complementar e não oposta ao mercado de Natal de Estrasburgo. Nós estamos focando na questão dos valores, da consciência sobre o consumo. E temos uma programação densa nestas quatro semanas, com um tema para cada semana. A primeira é sobre a redução de dejetos, a segunda sobre o comércio justo, a terceira de luta contra a discriminação e a quarta sobre a alimentação sadia. Serão ateliês, palestras, debates, filmes, etc. A maior parte da programação é livre e aberta e todos”, completou.

Movimento contra o consumismo

No Brasil, existe um movimento parecido, que atua no âmbito das redes sociais, engajando mães e pais para o consumo consciente e a regulamentação da publicidade dirigida a crianças.  

O Movimento Infância Livre de Consumismo (Milc) tem cinco anos e, além de impactar redes sociais com o tema, está presente em escolas, grupos de mães, além de promover seminários e ter participado em debates no Congresso Nacional, em Brasília.

Mariana Sá, cofundadora do coletivo, conta como o movimento surgiu: “O Movimento Infância Livre de Consumismo surgiu em março de 2012 como uma reação das mães a uma campanha feita por uma associação de publicitários que era contrária à regulamentação da publicidade infantil no Brasil. Ele começa como uma articulação de mães em prol desta regulamentação, conta o consumismo”, contou.

“Se torna um coletivo que demanda por esta regulamentação e começa a debater as questões da sociedade de consumo, questões do consumismo e da proteção das crianças a um assédio comercial que busca transformar as crianças em consumidores antes da hora”, explicou a cofundadora do movimento.

Atuação digital e presencial

“Nossa atuação é digital, via redes sociais, nossa página tem 250 mil curtidas e picos de alcance de 2 milhões de pessoas. Nossas ações presenciais atingem escolas, grupos de mães, Parlamento também, mas numa proporção menor. Hoje realmente o nosso centro de esforços é disseminar esta informação para as mães que estão na internet", comenta.

Assim como o Mercado Off, o Infância Livre de Consumismo tampouco luta contra o consumo, mas conta o consumismo e o excesso.

“O Milc é um movimento anticonsumismo. O que a gente faz é debater o consumo nesta sociedade de consumo, o futuro desta sociedade, o presente das nossas crianças, a proteção, mas num âmbito de evitar os excessos, numa questão de consciência. Lutamos contra a ideia de que a posse de objetos é o que determina o sujeito, suas relações com o mundo, seu caráter e personalidade. A gente tenta mostrar para mães e pais que é possível viver numa sociedade de consumo sem ser consumista e tendo um consumo consciente”, argumentou.

No Natal, com o estímulo para as compras, esta reflexão volta à pauta. “Em todas estas datas em que a questão do consumo é estimulada - Natal, Dia das Crianças, Páscoa -, a gente faz ações digitais que buscam mostrar uma nova possibilidade de viver esta efeméride sem ser no âmbito apenas do consumo", disse.

"A gente sabe que o Natal é uma data importante para a economia, mas a gente vem durante estes anos falando de uma outra economia que precisa ser estimulada, que é esta economia autônoma, economia solidária, economia consciente. Temos feito campanhas para que as pessoas que vão comprar presentes comprem direto de quem produz, por exemplo”, explicou Mariana Sá.

Na França como no Brasil, o objetivo dos grupos que pregam o consumo consciente e responsável  é curtir as festas com amigos e família, sem esquecer do impacto que isso gera na sociedade e no meio ambiente.

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