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Radar econômico

O que o Brasil ganha se entrar para a OCDE, o “clube dos ricos”?

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As negociações diplomáticas para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) estão em curso em Paris. Uma nova reunião do conselho da entidade ocorreu nesta semana e o tema das novas adesões foi tratado. O Brasil, que formalizou em maio o pedido de associação ao chamado “clube dos ricos”, espera melhorar a atração de investimentos estrangeiros se a candidatura for aceita.

O Brasil quer entrar na OCDE, apelidada de "clube dos ricos".
O Brasil quer entrar na OCDE, apelidada de "clube dos ricos". @theOECD
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A entidade, com sede em Paris, reúne as 35 economias mais desenvolvidas do planeta. A entrada na OCDE acrescentaria ao Brasil um “selo de qualidade” perante a comunidade internacional. Este selo o colocaria como um país mais transparente em termos de padrões internacionais econômicos, sociais e de desenvolvimento - o ingresso na organização pressupõe a realização de uma série de adequações e compromissos.

 

A credencial seria ainda mais relevante neste momento em que o país tenta se recuperar da crise, na avaliação da professora Lia Valls Pereira, especialista em economia internacional do Instituto Brasileiro de Economia.

 

“O Brasil faz esse pedido em um momento em que diz ‘olha, estou precisando ter agora esse aval’. Talvez fosse mais interessante fazer o pedido em um momento em que você está em uma situação melhor, inclusive para poder fazer uma negociação melhor”, afirma. “Mas há também o outro lado: o de estar em uma situação ruim e querer mostrar que pode pagar o tíquete para estar dentro do clube dos que têm melhores práticas políticas e econômicas. Eu acho que antes o Brasil considerava que não precisava tanto da OCDE.”

 

Entrada no conselho

 

Já faz mais de 20 anos que o país participa dos estudos da organização enquanto país não-membro, uma parceria que vem se amplificando. O embaixador do Brasil em Paris, Paulo César de Oliveira Campos, observa que o ingresso definitivo vai dar voz a Brasília nos processos decisórios.

 

“O Brasil participa de comitês, mas não participa do conselho, que é o órgão decisor sobre todos os temas. A importância disso é que eles tratam de todos os assuntos de governança de um país”, comenta Campos. “O Brasil poder participar desses debates e ajudar na construção de soluções, na formulação de políticas que serão aplicadas não apenas no Brasil, mas em todos os membros da OCDE, é o grande ganho que nós temos.”  

 

Relação com os países pobres pode se abalar

 

O professor-adjunto de Relações Internacionais da FGV Oliver Stuenkel ressalta que a diplomacia brasileira marcaria pontos ao se tornar o único país integrante da OCDE e do grupo de emergentes, o BRICS.

 

“De certa maneira, do ponto de vista diplomático isso reforça a posição especial do Brasil e a sua legitimidade e credibilidade para participar de ambos os grupos, se posicionando em um lugar estratégico em um mundo cada vez mais multipolar”, sintetiza o especialista.

 

Stuenkel considera que, ao se tornar membro da organização, o país não necessariamente vai perder influência junto ao grupo de países em desenvolvimento e emergentes, o G77. Essa foi a principal razão para os governos Lula e Dilma não terem formalizado o pedido antes – os mexicanos e os chilenos acabaram se afastando dos países mais pobres depois do ingresso na OCDE.

 

“Eu não vou negar que isso requer um esforço diplomático sofisticado e é preciso articular bem o que isso implica para o posicionamento brasileiro nesses órgãos. Ao mesmo tempo, o Brasil não deixa de ser um país em desenvolvimento ao fazer parte da OCDE e, por isso, o Brasil continua a ter uma legitimidade para dialogar e influenciar o diálogo entre esses países”, indica o professor. “A realidade é que, com a adesão de países como o Brasil, e já tendo o México e o Chile, a descrição da OCDE como ‘clube dos ricos’ não é mais adequada.”

 

Custo financeiro

 

O “tíquete” para a OCDE custa caro: no caso do Brasil, a contribuição financeira deve sair em torno de U$S15 mil por ano, além do valor pago para manter uma equipe diplomática junto à organização.

 

Se a candidatura for aceita, o processo de integração deve durar cerca de dois anos. No momento, a negociação enfrenta a resistência dos Estados Unidos, que se opõem à ampliação do órgão.

 

Os americanos temem que os diferentes processos de integração possam prejudicar o andamento dos trabalhos cotidianos da organização. Além do Brasil, outros cinco países tentam ingressar na entidade: Argentina, Peru, Croácia, Romênia e Bulgária.

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