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Radar econômico

A vida a juro 0%: nunca foi tão fácil tomar empréstimo na Europa

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A queda dos juros na Europa parece não ter fim: o Banco Central Europeu mantém a taxa básica a 0%, um índice que jamais foi tão baixo. Resultado: os europeus vivem um momento historicamente favorável para pedir empréstimo, em especial imobiliário. Nunca foi tão fácil comprar a casa própria ou realizar projetos pessoais em países como a França ou a Alemanha.

Um emprétimo de 20 anos é negociado a uma taxa de 1,5% na França: índice nunca foi tão baixo.
Um emprétimo de 20 anos é negociado a uma taxa de 1,5% na França: índice nunca foi tão baixo. Pixabay
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O que já parecia o cenário ideal em 2015 ficou ainda melhor: o juro médio para um financiamento de 20 anos baixou de 2,5% para 1,5% em outubro de 2016. Como os juros baixos fazem o rendimento da poupança ser igualmente fraco, os correntistas são incitados a investir.

O engenheiro de informática Florent Falipou, 33 anos, sempre achou que seria impossível comprar um apartamento em Paris, onde o metro quadrado custa em média € 8.260 (R$ 27.970). Mas, ao ganhar uma doação familiar inesperada, decidiu tentar a sorte.

“Nós já tínhamos até encontrado um apartamento para alugar, mas, no fim, o preço do aluguel era quase o mesmo do valor das prestações que pagamos agora. Eu achava que jamais teríamos condições de comprar”, afirma o engenheiro. “Nunca imaginei que um dia eu conseguiria ter a minha casa própria em Paris.”

Rapidez surpreendeu

Falipou fechou o empréstimo em agosto. Comprou um imóvel no 11º distrito da capital francesa, a uma taxa de 1,65%, por 20 anos. A reatividade do banco, relembra, o impressionou.

“Eles nos responderam muito rápido, com uma proposta de juros superbaixa”, conta. “O único problema que tivemos foi que a minha mulher não tinha um emprego fixo e, por isso, tivemos de apresentar alguns documentos a mais e um fiador. Mas, fora isso, foi muito rápido: em menos de um mês, obtivemos o financiamento.”

Sem mudanças previstas

Maël Barnier, diretora de comunicação do Meilleurtaux, um site francês especializado em ajudar os compradores a conseguir um empréstimo, confirma que hoje a renda mínima exigida dos clientes é bem menor do que há três anos. Além disso, um pedido que antes seria recusado pelos bancos agora está sendo disputado pelas agências. Vence quem oferecer as melhores condições – uma situação que, segundo ela, não deve mudar tão cedo.

“Hoje, não há nenhuma razão para um aumento das taxas. Estamos em uma fase de estabilidade: a inflação está praticamente zerada, o Banco Central Europeu segue injetando liquidez no mercado e permite que os bancos tomem empréstimos a taxas extremamente baixas, e é por isso que eles conseguem emprestar com juros tão baixos para crédito imobiliário”, indica a especialista.

O contexto favorável tem levado os franceses a renogociar varias vezes o empréstimo, sempre em busca de uma taxa mais interessante, no próprio banco ou na concorrência.

Essa conjuntura faz o mercado imobiliário ser um dos setores mais dinâmicos da economia francesa em 2016 e arrasta outras atividades como reforma e decoração. Os bancos estão lucrando menos, mas mantém uma margem interessante, na medida em que tomam fundos a juros inferiores a 1%.

Países relutam em investir

Sob o ponto de vista dos empréstimos de Estado, porém, essa configuração favorável não tem sido bem aproveitada, ressalta o economista Michel Aglietta, professor de regulação econômica e consultor de prestigiosas instituições francesas. A paralisia nos investimentos públicos e privados, apesar das taxas baixíssimas de juros e inflação em vigor, reflete a apreensão da Europa em relançar de vez a atividade econômica.

“Notamos que os bancos estão emprestando para se proteger de eventuais problemas ligados às incertezas que permanecem na economia. Ainda não sabemos em que direção a economia vai: a demanda segue fraca, com muito poucos investimentos para operações produtivas e inovadoras”, frisa o economista. “É um grande paradoxo, porque poderíamos estar tomando crédito a níveis ótimos para relançar a economia, mas aqueles que poderiam fazê-lo permanecem extremamente reticentes.”

Quanto ao setor imobiliário, Aglietta alerta para o risco de o crédito abundante resultar em uma bolha – esse foi o cenário que se desenhou na Inglaterra, indica o professor da HEC (Escola de Altos Estudos Comerciais) e da Universidade de Paris X.

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