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Radar econômico

Apesar de acordo na Opep, alta dos preços do petróleo será limitada

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O acordo obtido na Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) para reduzir a produção mundial trouxe um novo ânimo ao preço do óleo no mercado internacional. Mas especialistas advertem: por mais que o valor volte a subir, o retorno do barril a US$ 100 permanece um sonho distante para os países produtores.

Secretário-geral da Opep, Mohammed Sanusi Barkindo (C), com o ministro da Energia saudita, Khalid al-Falih (direita) e o ministro Mohammed bin Saleh al-Sada, do Qatar, durante a última reunião da Opep, na Argélia.
Secretário-geral da Opep, Mohammed Sanusi Barkindo (C), com o ministro da Energia saudita, Khalid al-Falih (direita) e o ministro Mohammed bin Saleh al-Sada, do Qatar, durante a última reunião da Opep, na Argélia. REUTERS/Ramzi Boudina
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Faz dois anos que o preço pago pelo petróleo só despenca, causando graves prejuízos econômicos para os grandes exportadores, em especial os dependentes da comercialização do óleo, como a Venezuela. Outros, como o Brasil, foram obrigados a rever investimentos no setor e a reequilibrar as expectativas de receitas vindas da commodity, que está sendo negociada abaixo dos US$ 50 o barril.

Esse contexto levou a um acerto inesperado entre dois gigantes do setor, a Arábia Saudita e o Irã. Por razões diferentes, os dois rivais vinham bloqueando uma diminuição da produção, que teria o efeito de forçar a alta dos preços. Céline Antonin, pesquisadora do Observatório Francês de Conjuntura Econômica e especialista no mercado de matérias-primas, indica que a política de ação em cartel da Opep para regular as tarifas pode estar de volta.

“Eles estão começando a sofrer os efeitos de um preço baixo demais do petróleo e têm um déficit superior a 20% há três anos. Por isso, chegou a hora de o preço do petróleo voltar a subir”, explica a francesa. “Por enquanto, trata-se de uma declaração de intenções e temos que ver o que vai sair da grande reunião de novembro, quando os países devem decidir as cotas de produção. Ainda não sabemos como as cotas vão se repartir por país – e nada garante que o Irã vai aceitar uma cota baixa.”

Antonin avalia que a tendência mundial não é por uma diminuição geral da produção. Ela lembra que, devido à produção abundante e a crise internacional, há muito estoque de petróleo no mercado. Ao mesmo tempo, a demanda permanece fraca, na medida em que a economia mundial sai lentamente da crise.

Petróleo a US$ 100 é improvável

Mesmo assim, a pesquisadora francesa não se atreve a dizer que a era do petróleo a US$ 100 o barril chegou ao fim. “Acho que seria muito presunçoso e difícil de afirmar isso, porque a realidade é que esse mercado é extremamente volátil. Podemos perfeitamente voltar a ter uma explosão dos preços, a partir do momento em que tivermos uma baixa considerável da produção ou que ela cessar de aumentar, aliado a um aumento da demanda”, afirma. “Poderíamos até voltar a um nível de US$ 100. No entanto, acho que essa não é a perspectiva atual dos produtores.”

Já Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, é mais cético quanto ao retorno de preços tão elevados, mesmo que num futuro distante. Ele observa que a entrada dos Estados Unidos na produção de petróleo de xisto, também conhecido como shale oil, limita muito as chances de elevação forte dos preços: os americanos estão prontos para invadir o mercado quando a cotação do barril estiver em alta.

“O shale oil tem uma característica muito interessante: você pode fechar um campo e, se o preço volta a subir, você pode recomeçar a produzir o petróleo em 30 dias ou até menos. É muito rápida a entrada e a saída desse petróleo no mercado”, destaca o diretor. “Ou seja, qualquer aumento que tiver vai gerar a entrada desse petróleo no mercado, o que vai impedir que o preço suba muito.”

Peso da preocupação ambiental: um setor em evolução

Além disso, Pires sublinha que a preocupação ambiental hoje move as políticas energéticas dos países com bem mais força do que há alguns anos, quando o petróleo ainda era visto como uma riqueza segura e incontestável.

“Acho que já há um consenso no mundo de que não se pode mais queimar combustível fóssil como se queimava no século 20. O petróleo está realmente virando uma fonte cada vez mais dinossáurica”, comenta. “Outra razão é que a própria dinâmica de crescimento da economia mundial não é mais através de empresas ou de setores grandes consumidores de petróleo. Antigamente, a maior empresa do mundo era a ExxonMobil, e hoje é a Apple. Até a importância do automóvel está mudando.”

No caso brasileiro, além de enfrentar a queda do preço do produto no exterior, o país teve de suportar os prejuízos bilionários que o escândalo da Petrobras causou para a companhia e o setor como um todo. A crise fez a estatal perder 85% do valor de mercado.

 

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