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Radar econômico

Medo do terrorismo atinge a já debilitada economia francesa

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Não bastasse o trauma da série de atentados terroristas que abalam a França, o país tenta minimizar os efeitos dos ataques na economia. O turismo, que responde por 7% do PIB francês e 2 milhões de empregos, é a área mais afetada – os números de frequentação não param de cair e impactam, principalmente, no setor de luxo.

Intensa presença policial em Paris desde o ano passado assusta muitos turistas.
Intensa presença policial em Paris desde o ano passado assusta muitos turistas. REUTERS/Yves Herman
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O fenômeno começou na capital em janeiro de 2015, com o ataque ao jornal Charlie Hebdo, se aprofundou após a série de atentados de Paris em novembro e agora se espalha pelo resto do território francês, em consequência do ato terrorista em Nice, na famosa Côte d’Azur. O timing não poderia ser pior – neste ano, o país espera registrar 1,5% de crescimento do PIB, o melhor resultado em cinco anos.

Os últimos dados, divulgados pelo governo no domingo (7), indicam que as reservas de hotel feitas por estrangeiros caíram 10% durante os primeiros seis meses deste ano. A queda ocorreu em todos os níveis, em especial nos estabelecimentos cinco estrelas.

Mark Watkins, especialista no setor de turismo e presidente da consultoria Coach Omnium, ressalta que além de atrativos, os turistas buscam garantia de segurança. Os que mais frequentam e gastam na França são justamente os que, agora, sumiram do país.

“Os americanos, os chineses e os japoneses são extremamente sensíveis à importância da segurança e são os primeiros a cancelar a estadia turística na França. Alguns podem até espalhar esse efeito para toda a Europa, porque no turismo de lazer, as pessoas se apavoram com facilidade, especialmente as famílias”, observa. “Por isso, o efeito negativo de Nice foi tão grande. A partir do momento em que precisamos proteger as crianças, temos de tomar ainda mais cuidado.”

Cancelamento de eventos atinge cidades menores

O especialista nota que o turismo de negócios não é tão instável: mais acostumados a viajar, os empresários custam a se deixar abater pela insegurança, ainda mais nos países desenvolvidos. Mas a despencada da frequentação não afeta apenas a clientela internacional, graças à qual a França se orgulha de ser o país mais visitado do mundo. Os atentados têm levado os governos de diversas cidades francesas a cancelar grandes eventos por causa da ameaça de ataques, com um efeito imediato na economia local.

Prefeitura cogitou o cancelamento da Paris Plages, a praia urbana instalada na beira do rio Sena, mas acabou mantendo o evento - sob forte esquema de segurança.
Prefeitura cogitou o cancelamento da Paris Plages, a praia urbana instalada na beira do rio Sena, mas acabou mantendo o evento - sob forte esquema de segurança. REUTERS/Charles Platiau

Foi o caso da Braderie de Lille, uma feira de antiguidades com nada menos do que 900 anos de tradição e que se repete a cada verão na cidade do norte francês. Mais de 2 milhões de visitantes de toda a Europa eram esperados na edição deste ano – que foi cancelada pela prefeitura por motivos de segurança.

Para Thierry Grégoire, presidente da União dos Profissionais e das Indústrias da Hotelaria, a decisão é uma “catástrofe” que prejudica ainda mais a imagem da França no exterior.

“Não negamos que há um problema de segurança, mas pensamos que o risco zero jamais vai existir. Esse é um golpe duro para os habitantes de toda a região e em especial de Lille, profissionais que esperam o ano todo por este evento, que nunca havia sido anulado. O impacto social vai ser muito forte”, afirma Grégoire. “O que mais nos preocupa é a imagem que isso envia para o mundo. Lille tem a maior feira da Europa, com 10 mil expositores, 3 mil empregos temporários. A questão é: chegaremos ao ponto de proibir a frequentação dos bares e restaurantes?”, provoca.

Braderie de Lille costuma atrair 2 milhões de visitantes, mas edição deste ano da feira foi cancelada.
Braderie de Lille costuma atrair 2 milhões de visitantes, mas edição deste ano da feira foi cancelada. PHILIPPE HUGUEN / AFP

Pouca reação do governo

Para compensar os prejuízos, o governo promete desbloquear um fundo de investimentos no valor de € 1 bilhão para modernizar o setor, carente de atenção das autoridades há anos. Mas Watkins reconhece que as alternativas de ação do Estado são limitadas.

“O governo pode fazer muito pouco. Quais seriam as opções? Ele pode ir nas grandes agências de viagens e explicar o que está sendo feito em matéria de segurança, dizer que a França não é tão perigosa assim, mas campanhas publicitárias no exterior costumam não adiantar nada”, indica Watkins. Além disso, ele lembra que, se o governo coloca muitos policiais na rua, algumas pessoas se sentem seguras e outras com ainda mais medo. E se não coloca, acontece o inverso.

“Sem contar que a maioria de todos esses números sobre o turismo são meras estimativas, porque ainda não tivemos tempo de fazer pesquisas reais e significativas. Essas estimativas estão certamente erradas e provavelmente abaixo da realidade”, avalia o especialista.

Efeitos limitados no PIB e maiores nos juros

No início do ano, o Insee, instituto nacional de estatísticas, avaliou que o peso dos atentados de novembro no PIB do quarto trimestre de 2015 foi de apenas 0,1%. Desde então, novos balanços tratando especificamente sobre a questão não foram divulgados.

Um estudo da agência Moody’s sobre os dez países mais atingidos por atentados em 2013, como Iraque, Afeganistão e Paquistão, afirma que a perda de crescimento econômico ligada ao terrorismo foi de no máximo 0,8%, a curto prazo. No entanto, a instabilidade gerada pela insegurança faz com que o orçamento público seja prejudicado e o país sofra um aumento da taxa de juros para os empréstimos estatais.
 

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