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Radar econômico

Brasil tem apenas uma empresa entre as 20 mais transparentes dos emergentes

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Um levantamento feito pela ONG Transparência Internacional mostra que transparência não é o forte das empresas multinacionais de países emergentes. As 12 companhias brasileiras representadas no relatório apresentam uma média de 3,5 pontos em uma escala de 0 a 10. Somente a Embraer, que pontuou acima de 5, se posiciona entre as 20 mais transparentes do mundo emergente.

Vista de centro empresarial na Marginal Pinheiros, em São Paulo.
Vista de centro empresarial na Marginal Pinheiros, em São Paulo. Wikipédia
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A pesquisa "Transparência em Relatórios Corporativos" avaliou as 100 maiores empresas de 15 países em três critérios que não apontam exatamente o grau de corrupção dessas companhias, mas o quanto elas são abertas sobre suas práticas. São eles a divulgação dos programas anticorrupção, a divulgação de estruturas e holdings e a divulgação das principais informações financeiras por país em que a multinacional atua.

O desempenho foi avaliado com notas entre 0 e 10, com o 10 representando o maior grau de transparência. A nota média global foi de 3,4, pouco abaixo do Brasil. Nicole Verillo, representante da Transparência no Brasil, classifica os números como “muito ruins”, principalmente porque, na comparação com o último levantamento, de 2013, houve uma queda na avaliação média global de 3,8 para 3,4.

Apesar dessa piora no desempenho, a pesquisa revela casos isolados que podem apontar uma mudança. No caso do Brasil, eles são turbinados pela nova lei anticorrupção de 2013, pelas operações da Polícia Federal, como Lava Jato e Zelotes, e pela discussão de uma nova lei para regular as estatais mistas, como a Petrobras.

“A Odebrecht, por exemplo, teve 3,6 pontos, o que é uma pontuação muito ruim, mas que diz muito, porque ela subiu 47 posições desde a última avaliação, quando era a lanterna, com 0,2 pontos”, afirma Verillo. Segundo ela, a divulgação do programa anticorrupção da Odebrecht foi motivada pela cobrança da sociedade civil e pela Operação Lava Jato.

A Coteminas foi a empresa brasileira pior avaliada, com 1,1 ponto. Segundo a Transparência Internacional, a empresa se comprometeu em aperfeiçoar a divulgação dos critérios avaliados pela pesquisa.

O Brasil se encontra no meio do caminho entre Índia e China no ranking da transparência empresarial. De um lado, o gigante asiático, com o pior desempenho. “A China é a última colocada e puxa a pontuação dos Brics para baixo, com pouquíssima transparência entre as empresas”, afirma Verillo. Do outro lado, a Índia, com uma regulamentação rigorosa que obriga as empresas a divulgar os dados que a Transparência Internacional exige em sua avaliação.

Estatais e corrupção

O levantamento da Transparência Internacional mostra que empresas de capital aberto, como esperado, são mais transparentes, até por exigências da lei. Em seguida, vêm as empresas de capital fechado e, por último, as empresas estatais ou de capital misto, justamente as que deveriam ser as mais transparentes.

Muitas das empresas do levantamento atuam em países onde a política é notoriamente corrupta, como Brasil e China, o que levanta a velha questão do ovo ou da galinha na corrupção empresarial: é o estado que leva as empresas privadas a se corromper ou são elas que corrompem os agentes estatais?

Para Heloisa Estellita, professora da Fundação Getúlio Vargas com longa experiência no tema, podem ocorrer as duas situações: “Uma empresa criada hoje, por exemplo, que vai entrar na China, já está entrando em um ambiente com problemas de ética empresarial. É difícil medir se ela está indo para lá por isso ou se será obrigada a isso para operar naquele mercado”.

Segundo Estellita, a corrupção empresarial assume diferentes formas dependendo do contexto local. No caso do Brasil, o escândalo da Petrobras “revela o uso das empresas de economia mista estatais para financiamento de campanha”. “A Lava jato está intimamente ligada ao problema do sistema eleitoral. Talvez isso não aconteça em outros países. Há muito da realidade local, não há uma receita universal. Neste sentido, a iniciativa de regulamentar melhor as estatais no Brasil é excelente. Agora, sem reforma política, a gente vai estar tratando o sintoma, não a causa”, afirma a advogada.

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