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Radar econômico

Bancos 100% virtuais ganham a confiança dos franceses

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As taxas abusivas e a mudança de comportamentos na era digital estão levando cada vez mais franceses a abandonar as agências bancárias e a preferir abrir uma conta 100% virtual, uma versão “low cost” do banco tradicional. O fenômeno é visível nas ruas da França: um terço das agências deve fechar as portas até 2020.

Bancos feitos especialmente para celulares e tablets são a nova tendência.
Bancos feitos especialmente para celulares e tablets são a nova tendência. pixabay
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A mesma proporção reflete o sucesso dos bancos virtuais, em mais um setor da economia que registra profundas modificações depois da revolução digital. Em 2016, uma a cada três contas no país vai ser aberta em um estabelecimento bancário que opera apenas pela internet. Essa alternativa já seduziu 8,3% dos correntistas franceses no ano passado, depois de atrair 7,1% no ano anterior.

Os serviços realizados nas agências se esvaziaram e quase tudo pode ser feito à distância. Sob o ponto de vista financeiro, a mudança pode ser interessante. Um estudo da Associação Nacional de Defesa dos Consumidores e Usuários indicou que a manutenção da conta virtual custa de 1,6 a 3 vezes menos do que no banco físico. Os estudantes e jovens profissionais até 35 anos são os mais interessados pela nova maneira de se relacionar com o banco.

“O setor bancário sempre foi um dos mais resistentes às mudanças, tanto em termos de fidelidade, quanto de comportamento. Na França, o costume sempre foi o jovem abrir uma conta no banco dos seus pais. Mas isso está mudando”, analisa Julien Maldonato, especialista em transformação digital nas instituições financeiras da consultoria Deloitte, uma das maiores do mundo. “Agora, os bancos estão se adaptando a comportamentos que foram ‘testados’ em outras indústrias. Já faz mais de 10 anos que os franceses compram pela internet, depois pelo celular e agora estão confiantes para consumir serviços financeiros.”

Acesso ao crédito e personalização são desafios

O adjetivo low cost, no entanto, é um freio para a adesão de uma clientela mais endinheirada ou mais idosa. Além disso, são poucos os bancos virtuais capazes de oferecer volumes altos de crédito, como imobiliário, e quase nenhum serve às empresas, apenas às pessoas físicas.

Esse deve ser o próximo passo, que já está em curso com ofertas especiais para profissionais liberais ou pequenos negócios, como explica a socióloga Jeanne Lazarus, da Sciences Po, onde pesquisa o comportamento bancário e financeiro das pessoas.

“É um processo que parece ser definitivo. No entanto, o que percebemos é que as contas em bancos virtuais ainda são a segunda conta do cliente. As pessoas mantêm uma outra conta para o caso de precisarem de um serviço um pouco mais complicado, em que uma conversa com o gerente é importante, como para discutir o investimento do patrimônio”, ressalta. “O grande desafio dos bancos pela internet é personalizar a relação com o cliente”, diz a co-autora de “Sociologia do Dinheiro”.

Mudar de sistema – mas nem tanto assim

A nova configuração, entretanto, não vai de encontro ao sistema bancário tradicional – pelo contrário. Todos os bancos virtuais que conquistam os franceses pertencem, na realidade, a estabelecimentos bem reais. O pioneiro no país, Boursorama, é do Société Générale, o Hello Bank! pertence ao BNP Paribas e o Monabanq, ao Crédit Mutuel, para citar apenas os mais conhecidos.

O Boursorama já tem 756 mil clientes, um número que registra alta média de 25% ao ano desde 2014, seis anos depois da abertura. O concorrente Hello bank! mais do que dobrou a clientela nos últimos dois anos e hoje conta com 237 mil correntistas.

“Me parece muito excessivo falar em uberização do sistema bancário, como alguns dizem. Há um rigoroso controle feito nas operações dos bancos pela internet, igual ao que se submetem os bancos tradicionais. Não existe uma desregulamentação do sistema que faz concorrência ao sistema existente, como no Uber”, sublinha Lazarus. “Sem contar que a maioria dos bancos virtuais são filiais dos bancos físicos.”

Segurança é prioridade

A facilidade é a marca registrada desse novo conceito: uma conta é aberta em poucos minutos, o cartão pode ser bloqueado ou desbloqueado em alguns cliques, assim como a mudança da senha. Mas essa praticidade tem um lado B: ser atraente para golpistas interessados em cometer fraudes financeiras.

Maldonato, no entanto, avalia que um banco tradicional não é mais seguro do que um virtual. “Sim, abre-se a porta para outros tipos de fraudes, mas novos procedimentos de fiscalização estão se desenvolvendo rapidamente. Esses novos bancos têm uma preocupação adicional com a reputação e a imagem, e estão muito envolvidos com a questão do aumento constante da segurança”, constata o analista da Deloitte. “Alguns usam o que há de mais moderno em segurança tecnológica.”

Até as gigantes da telefonia não ficam para trás e veem nos bancos virtuais uma oportunidade de expansão. A operadora Orange, que tem 27 milhões de clientes na França, está em negociações com o grupo de banco e seguros Groupama para comprar o serviço bancário e criar um banco que vai operar 100% por telefone, a tendência mais recente no ramo.
 

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