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Guerra na Síria vira showroom da indústria armamentista

Desde que entraram na guerra, as grandes potências transformaram o conflito sírio em um campo de experimentação e exibição de armamentos de ponta, de mísseis de cruzeiro a aviões furtivos e submarinos, em muitos casos desproporcionais em relação aos objetivos militares.  Rússia, Estados Unidos, Grã-Bretanha e França, quatro dos seis maiores exportadores de armas do mundo, têm aproveitado a situação real de confronto para fazer um verdadeiro showroom da produção de sua indústria armamentista.

Caças britânicos da coalizão ocidental sobrevoam o Chipre em direção à Síria
Caças britânicos da coalizão ocidental sobrevoam o Chipre em direção à Síria REUTERS/Yiannis Kourtoglou
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No dia 7 de outubro, a Rússia causou furor ao disparar pela primeira vez 26 mísseis de cruzeiro contra os rebeldes sírios a partir de um navio no mar Cáspio, a 1,5 mil km do alvo. O armamento, conhecido como Kalibr tem alcance de 1,9 mil km, equivalentes aos Tomahawk americanos, e pode burlar a maioria das defesas, voando muito perto do solo. O míssil coloca a Rússia, ao lado dos Estados Unidos e do Reino Unido, no seleto clube dos países cuja artilharia marinha consegue cobrir todo o continente europeu.

Apenas dois dias depois, Moscou usou uma outra gama de mísseis de cruzeiro, disparados a partir do submarino de última geração Kilo, apelidado de "Rostov do Don". Este equipamento, em serviço desde 2014, tem grande potência de fogo e é quase invisível para os radares. "A nova versão dos submarinos Kilo tem uma capacidade militar muito importante, é uma ameaça real", indicou uma fonte francesa à AFP.

Real, no caso de uma guerra entre Estados. Na luta síria, entre potências e um amálgama de forças heterogêneas, o "Rostov do Don" só serve à propaganda: "Não tem nenhum sentido de um ponto de vista militar. É um sinal lançado ao Ocidente sobre nossa capacidade de projeção", estimou Alexandre Golts, analista militar russo independente.

Outro equipamento que voltou à vitrine russa na Síria foi o caça bombardeiro Sukhoi 34 (Su-34). A aeronave tem capacidade para atuar em um raio de 4 mil km, mas foi mais exibida do que testada efetivamente em combate. Os ataques de verdade têm sido feitos por versões mais velhas e mais experimentadas em situações reais de guerra, o Su-25 (avião de ataque a terra) e o Su-24 (bombardeiro tático). "Já vimos esses aviões no Afeganistão. O exército diz que tem um novo sistema de mira. Pode ser ou não", disse Golts.

Guerra Fria: armamentos americanos usados contra a Rússia

Já os americanos aproveitaram a Síria para batizar o caça-bombardeiro F-22 Raptor, joia tecnológica dos Estados Unidos, que entrou no combate em setembro de 2014. Este avião furtivo, de um custo de US$ 360 milhões por unidade, pode voar a uma velocidade sem precendentes e lançar mísseis guiados por laser a 25 km do alvo. Outra inovação dos EUA em termos armamentícios é o uso dos drones Predator e Reaper, que espionam o inimigo e disparam os populares mísseis Hellfire, usados pelo exército americano contra alvos precisos.

A CIA e seus aliados na região, como a Arábia Saudita, entregaram aos rebeldes sírios mísseis antitanque TOW (Tube launched, Optically tracked, Wire-guided), que têm demonstrado grande eficácia contra os blindados de Bashar al-Assad. Um destes mísseis, com alcance de 3,5 mil metros, teria sido utilizado contra um helicóptero que tentava resgatar um dos pilotos russos do avião derrubado pela Turquia no fim de novembro.

Britânicos e franceses entram na guerra publicitária

Já a força aérea britânica, que opera na Síria desde o início de dezembro, utilizou em seus primeiros bombardeios a nova geração do Eurofighter Typhoon. Estes caças oferecem uma capacidade de radar e de combate aéreo superior ao velho Tornado, mas não podem disparar mísseis de cruzeiro Storm Shadow, que são a grande arma da Coroa contra os bunkers inimigos. Os franceses, por sua vez, estrearam os mísseis de cruzeiro ar-terra SCALP (equivalentes ao Storm Shadow) contra o grupo Estado Islâmico (EI), lançados a partir de caças Rafale.

A marinha francesa, que em janeiro enviará a fragata multimissão FREMM "L'Aquitaine" a sua primeira situação de combate, espera poder efetuar em breve os primeiros disparos de mísseis de cruzeiro MdCN, de um alcance de 1.000 km. A paz na Síria talvez ainda esteja longe de ser alcançada, mas o horizonte certamente está repleto de grandes negócios para a indústria armamentista.

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