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Alemanha/Crise na Volks

"Cultura do medo" causou sucessão de escândalos na Volkswagen, diz Le Monde

"A Volkswagen era dirigida como uma monarquia absolutista", denuncia, sob anonimato, um especialista na companhia entrevistado pelo vespertino francês Le Monde datado desta terça-feira (10). O "rei", no caso, era o ex-CEO Matin Winterkorn, que dirigia a companhia desde 2007 e foi obrigado a abandonar o cargo no dia 23 de outubro, por conta do escândalo de fraude nas emissões de gases poluentes.

O ex-presidente da Volkswagen, Martin Winterkorn, em 5 de maio
O ex-presidente da Volkswagen, Martin Winterkorn, em 5 de maio AFP PHOTO / JOHN MACDOUGALL
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Em 2012, ele havia anunciado o compromisso do grupo de reduzir em 30% as amissões de CO2 até 2015. Os engenheiros sabiam que a meta era inatingível sem um imenso salto tecnológico mas, como afirma a fonte ouvida pelo jornal, "quem conhece os ataques de cólera de Martin Winterkorn sabe que ninguém quer levar problemas para ele".

As tentativas de evitar a ira do "monarca", criaram uma cultura de mentiras. Foi neste contexto que se produziu um outro escândalo, deflagrado na última terça-feira (3): em um comunicado, a empresa reconheceu que havia "incoerências" entre os dados oficiais de consumo de combustível e as emissões de gás carbônico.

Em entrevista ao jornal alemão Bild am Sonntag, funcionários admitiram manipulações. Assim, mais 800 mil carros podem ter sido testados usando técnicas ilegais como o superenchimento dos pneus e a introdução de diesel no óleo do motor. Para Le Monde, essa "cultura do medo" está na raiz da crise que a montadora atravessa.

Sob nova administração, a palavra de ordem na montadora é "transparência". Logo que assumiu o cargo, o atual presidente Matthias Müller garantiu que "a deflagração completa e incondicional do que aconteceu é a condição prévia para a reorientação de que a Volkswagen necessita".

Mas Le Monde se pergunta se o executivo imaginava que, "ao convidar os funcionários a relatar as irregularidades" e o contexto em que elas aconteceram, ele iria abrir a "caixa de Pandora". Em entrevista ao jornal Handelsblatt, a chefe da agência californiana de controle da qualidade do ar, Mary Nichols, estimou que "ainda não se sabe a verdadeira dimensão do prejuízo causado pela crise da Volks".

Lobby

Mas, ainda que o prejuízo para o meio ambiente não possa ser calculado, a indústria deu uma demonstração de seu poder de lobby há duas semanas quando representantes dos Estados-membros da União Europeia instauraram uma margem de tolerância para as emissões de óxido de azoto em condições reais de rodagem, em relação ao limite autorizado para testes de laboratório.

Essa decisão, tomada em uma reunião técnica com especialistas, foi um dos motivos que levaram as 39 ONGs a assinarem a petição publicada nesta segunda. Elas defendem que esse tipo de discussão deveria ser feita com a sociedade e não a portas fechadas, muito menos com a presença de empresas culpadas de fraude: "O pertencimento da Volkswagem aos grupos de especialistas da Comissão e dos comitês de conselho deveria ser suspensa".

Para as organizações, os legisladores europeus deveriam ter debatido essa possibilidade publicamente, talvez em referendo, e não a portas fechadas. Muito menos, logo após um escândalo envolvendo justamente as emissões de poluentes.

"O escândalo é sintomático de uma agenda que busca reduzir custos e substituir o papel do legislador público por uma co-regulação, quiçá uma auto-regulação da indústria", lamenta o texto, emitido pela WWF e o Greenpeace, entre outros grupos. "Ao longo da última década, essa abordagem favoreceu um clima no qual as regras que protegem o interesse público são consideradas mais como um peso do que como um investimento".

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