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Radar econômico

Dólar a R$ 4 não se justifica e é fruto de especulação, dizem economistas

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A série de recordes da alta do dólar em relação ao real pode não estar perto do fim, uma consequência da instabilidade política e econômica no Brasil. Mas segundo especialistas em economia monetária ouvidos pela RFI Brasil, a desvalorização da moeda brasileira é fruto de um movimento especulativo, gerado pela conjuntura desfavorável no país e pelo cenário internacional.

Dólar chegou a bater a barreira de R$ 4 na semana passada.
Dólar chegou a bater a barreira de R$ 4 na semana passada. Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas
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Em poucos meses, a cotação do dólar teve uma reviravolta. A moeda passou de um valor considerado baixo demais – que prejudicava os exportadores brasileiros - para uma taxa jamais vista desde 2002, acima dos R$ 4. Para o professor da Unicamp Francisco Lopreato, a alta é desproporcional.

“Não se justifica o patamar que o dólar está. É muita especulação”, dispara. “Não está tendo uma fuga de capitais. Os investimentos diretos estão mais ou menos no mesmo patamar, se comparamos agosto do ano passado com este ano.”

A fuga de capitais se iniciou há um ano, com anúncio do Banco Central americano (Fed) de que voltaria a aumentar as taxas de juros nos Estados Unidos. Com isso, os investidores que estavam posicionados no Brasil e em outros países voltaram a apostar na moeda americana. São esses movimentos de capitais que ditam o valor da cotação do real, ressalta o economista Jaime Marques Pereira, da Universidade de Picardie.

“Não existe uma taxa de câmbio que a gente possa chamar de realista, na medida em que, em um regime de câmbio flexível, como o brasileiro, é determinado pelos movimentos de capitais, acima de tudo. Apenas em valores extremos é que há influência da balança comercial”, explica.

Anos de real valorizado

A partir do segundo mandato do governo Fernando Henrique, a moeda nacional se apreciou a tal ponto que um dólar chegou a valer R$ 1,55. A inversão acelerada da situação reflete uma crise cambial, conforme Luciana Badin, professora de economia política da PUC-Rio.

“O real estava valorizado demais, e isso é muito prejudicial para a indústria, para os setores que competem com as importações”, ressalta. “Para a classe média, o ideal é quanto mais valorizado o real estiver, melhor, porque as pessoas podem viajar para o exterior, comprar importados, coisas que o brasileiro gosta. Mas a verdade é que prejudica muitos setores da economia.”

Cotação ideal

Os economistas avaliam que a cotação ideal seria entre R$ 3 e R$ 3,50. No Brasil, os juros elevados continuam sendo um atrativo para os investidores, ao gerarem lucros pouco vistos no mercado financeiro internacional. Na opinião Badin, a pressão sobre o câmbio é mais resultado das incertezas políticas do que da conjuntura econômica do país.

“Por mais que o governo decida intervir no mercado cambial para conter esse movimento, disponibilizando reservas em dólar, me parece que isso tem pouco impacto, porque a questão é a avaliação sobre a instabilidade política, e não apenas de haver pouca oferta de dólar”, diz a pesquisadora.

Os especialistas preveem que a moeda brasileira tende a permanecer em queda em relação à americana, assim como à europeia. Marques Pereira lembra que, neste contexto desfavorável, o Brasil atrai investidores de risco, o que ameniza uma desvalorização que poderia ser ainda mais acentuada.

“A perspectiva de médio e longo prazo é que o real vai continuar a se desvalorizar, um processo que só não é mais rápido porque as taxa de juros brasileiras estão altas”, observa o professor da universidade francesa.

Pouca margem de manobra do BC

Os especialistas consideram que a reação cautelosa do Banco Central diante da alta do dólar é adequada. Lopreato ressalta que o mais importante era o governo sinalizar que poderá usar as reservas internacionais para conter a situação.

“Eu acho que não adianta fazer muito mais do que está fazendo. Seria precipitado já entrar com a bazuca: dando uns tiros, o Banco Central consegue afugentar”, brinca o pesquisador da Unicamp. “A bazuca deve ser usada se for realmente necessário. As reservas são para serem mostradas que existem, mas o ideal é não usá-las.”
 

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