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Radar econômico

Petrobras precisa de choque de gestão para restaurar confiança, dizem analistas

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O novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, assume o cargo nesta semana com a difícil missão de restaurar a credibilidade da companhia, afetada por escândalos de corrupção e com uma situação financeira degradada. O nome do novo presidente desagradou aos mercados, que esperavam alguém com mais independência do governo.

O novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine.
O novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine. Valter Campanato/ Agência Brasil
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Bendine atuava no comando do Banco do Brasil e é investigado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e o Ministério Público Federal. Segundo analistas de mercado, os problemas de gestão das finanças da Petrobras são ainda mais preocupantes do que os relacionados à corrupção. Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, a prioridade número 1 do presidente deve ser apresentar um plano de reestruturação financeira confiável da empresa.

“A restauração da credibilidade moral da Petrobras fica ainda difícil porque o Bendine está sendo questionado por alguns problemas que houve na gestão do Banco do Brasil, apesar de ter sido um sucesso em termos de números financeiros. Ou seja, competência financeira ele tem, mas a competência moral é questionada”, avalia. “Se tudo der certo, eu creio que a empresa vai levar no mínimo cinco anos para restabelecer a sua competitividade internacional. Antes disso, haverá um trabalho muito grande para arrumar a casa, que está muito bagunçada.”

Oportunidade desperdiçada

O economista Paulo Wrobel, professor de Relações Internacionais da PUC-Rio, avalia que a presidente Dilma Rousseff desperdiçou uma oportunidade valiosa de renovar a imagem da Petrobras e atenuar ligação entre o governo e os escândalos  – o que não acontece no caso de Bendine, que fez carreira no setor público. “Eu acho que ele pode fazer avanços no sentido de restaurar a credibilidade da empresa, mas teria sido muito melhor se tivesse sido nomeado alguém de gabarito e, fundamentalmente, com independência do governo.”

O pesquisador, especialista em energia, destaca que o impacto da onda de denúncias vai muito além da própria Petrobras. As perdas se acumulam para construtoras e fornecedores que têm contratos com a companhia, a maior do Brasil.

“A empresa em si está muito mal, com dívidas na ordem de € 300 bilhões. É a empresa mais endividada do mundo, uma situação muito séria. Os investimentos dela diminuíram drasticamente desde o ano passado, o mercado petrolífero no Rio de Janeiro está parado, ninguém recebe, não há novos contratos, os terceirizados não são pagos, tem muita gente quebrando”, explica. “É uma desgraça absoluta de um setor, o de petróleo e gás, que corresponde a cerca de 10% do PIB brasileiro.”

Balanço realista

A retomada da confiança dos auditores internacionais que assinam os balanços da empresa também é um passo importante que Bendine deverá enfrentar. O recente episódio da divulgação de resultados de 2014 sem incluir as perdas estimadas com os desvios deteriorou ainda mais a imagem da companhia junto aos investidores.

“Hoje, a Petrobras não tem um balanço. O que ela fez foi divulgar um rabisco de uma prévia de balanço, não auditado, do terceiro trimestre de 2014”, lembra Agostini. “Ela tem que reconhecer, ou pelo menos estimar boa parte das perdas com o problema da corrupção. É fundamental. Os bancos, quando emprestam muitos recursos, aumentam a previsão para devedores duvidosos. Não significa que isso vá ocorrer com a Petrobras, mas é preciso colocar o potencial risco no balanço.”

Nos últimos seis meses, as ações da companhia já perderam dois terços do valor. Os especialistas ressaltam que a situação pode piorar, se o comando da Petrobras não der sinais de mudanças de gestão.

 

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