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Radar econômico

Grécia coloca patrimônio à venda, mas não alivia o peso da dívida

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Enquanto Espanha, Portugal e Itália começam a dar sinais tímidos de recuperação da crise, a Grécia permanece afundada em uma dívida pública que só aumentou ao longo de seis anos de recessão. Desesperado para amortizar um pedaço da dívida, o país tenta privatizar serviços públicos como portos, aeroportos, correios e as companhias de água e eletricidade, além de colocar cerca de 90 trechos das praias paradisíacas gregas à disposição dos investidores.

Praias gregas como a de Elafonissos são colocadas à venda.
Praias gregas como a de Elafonissos são colocadas à venda. Flickr/ Creative Commons
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A lista do patrimônio público aberto a negociações é tão grande que pode ser encontrada em um site gerenciado pelo Fundo Helênico de Desenvolvimento de Ativos, criado pelo governo para atrair investimentos. O objetivo inicial das autoridades no auge da crise, em 2010, era recolher 50 bilhões de euros, mas até agora as receitas das privatizações estão distantes das metas fixadas por Atenas - só resultaram em 3 bilhões de euros aos cofres públicos.

O FMI, um dos três credores do empréstimo de 550 bilhões de euros concedido ao país, demonstra irritação com a “lentidão” da Grécia em diminuir os obstáculos jurídicos, administrativos e políticos, que afastam o capital estrangeiro. O economista grego Michel Vakaloulis, professor da Universidade Paris 8, avalia que a situação econômica do país está tão degradada que os investidores pensam duas vezes antes de fazer uma oferta.

“O choque econômico na Grécia não tem a menor comparação com as crises dos outros países do sul da Europa, como a Itália ou a Espanha. É preciso considerar que a queda do PIB da Grécia em apenas cinco anos foi de 25%. É muita coisa”, explica o professor, lembrando que o índice de desemprego dos jovens gregos chega a 60% e houve uma explosão do número endividados, pessoas que não conseguem pagar as contas mais básicas do dia a dia. “Num contexto tão grave de desmoronamento econômico e social, é muito mais difícil de convencer os investidores de que eles poderiam ter um retorno rápido e começar a ter lucros, em uma lógica especulativa.”

Fornecimentode água é nova frente de protestos

Desde o princípio, a população grega discorda da venda do patrimônio nacional. O mais recente combate é contra a privatização da companhia de fornecimento de água Eyath, em Thessaloniki, a segunda maior cidade grega. Georgios Arhontopoulos, presidente do sindicato dos trabalhadores da companhia, está preocupado com os aumentos das tarifas se o setor passar para a iniciativa privada.

“Os bancos e as multinacionais têm interesse em privatizar porque veem os lucros como certos. Estamos com medo do aumento dos preços”, diz. “Sem contar que as empresas não apoiam o desenvolvimento e não se importam com o mercado local.”

O economista Michel Vakaloulis destaca que a Grécia, afogada nas medidas de austeridade e sem nenhuma política de incentivo ao crescimento e ao emprego, não oferece qualquer perspectiva de melhoria da economia a médio prazo. As privatizações só tendem a empobrecer ainda mais o país.

“As privatizações foram feitas sob uma lógica de obter dinheiro rápido, e não de desenvolvimento econômico, através do turismo ou da indústria. Foi a maneira encontrada para aliviar a dívida, somente sob uma lógica contábil”, afirma. “O problema é que, desse jeito, é impossível promover o desenvolvimento econômico.”

Bola de neve

Em vez de diminuir, a dívida grega apenas cresceu nos últimos anos: era de 110% do PIB em 2008, passou para 142% em 2011 e deve ultrapassar 175% do PIB nacional em 2014. A situação se tornou insustentável para a economia, levando o governo a batalhar pelo prolongamento do prazo para reembolsar os credores. Para o economista, a melhor solução seria a anulação de pelo menos uma parte da dívida.

“Se deixarmos a dívida assim, sem qualquer cancelamento, acho que o problema vai permanecer. Talvez aconteça apenas uma desaceleração da queda, mas não um crescimento significativo, que possa trazer o país de volta para os trilhos do desenvolvimento”, observa.

Uma notícia boa para a Grécia vem do turismo, o motor da economia do país: em 2013, o setor demonstrou estar se recuperando, com aumento de 25% da frequentação. A expectativa é de que 2014 seja ainda melhor.
 

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