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Radar econômico

Após fracos investimentos, indianos preferem alternância no poder

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Os indianos protagonizaram as maiores eleições democráticas da história e, ao que tudo indica, devem escolher a alternância do poder, após 10 anos de governo do Partido do Congresso, da família Ghandi. A situação reflete a preocupação dos 551 milhões de eleitores com a queda do crescimento econômico, o desemprego, a falta de investimentos em infraestruturas e a corrupção.

A projeção de crescimento da economia  dependerá das eleições na Índia e das decisões do novo governo.
A projeção de crescimento da economia dependerá das eleições na Índia e das decisões do novo governo. REUTERS/Anindito Mukherjee
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Os votos ainda estão sendo apurados, mas todas as pesquisas apontam à vitória do nacionalista hindu Narendra Modi, do Partido do Povo Indiano. Em plena crise nos países emergentes que formam o grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o novo premiê terá a missão de trazer de volta os índices de crescimento próximos dos dois dígitos. Em 2011, eram de 9,5%, mas no ano passado despencaram para 4,8%, insuficientes para mover o país que em 2030 deve ser o mais populoso do mundo, à frente da China.

O pesquisador Jean-Joseph Boillot, especialista na economia indiana e autor L’Inde pour les Nuls, observa que o país vai viver dias de incertezas pela frente. “Se Narendra Modi mantiver uma lógica de confronto, como durante a campanha eleitoral, não será nada bom para a economia indiana, pois ocorrerão manifestações nas ruas. O melhor seria Modi sair da ofensiva e tentar criar um consenso em torno da idéia de sair todos juntos da crise. Mas este não é o cenário mais provável”, avalia o francês.

Boillot destaca que o atual primeiro-ministro, Manmohan Singh, deixa para trás um balanço incontestavelmente positivo, transformando o país em uma potência emergente que concorre com a China. Mas sua principal falha foi ter investido pouco em infraestruturas, apesar de contar com a confiança dos mercados.

Diferenças em relação ao Brasil

“Este é o mal indiano. Por enquanto, a curto prazo, a bolsa indiana subiu muito, chegou a bater recordes . Quer dizer que o dinheiro continua entrando na Índia. O maior problema é o que fazer com os investimentos que chegam”, afirma. “Neste aspecto, há uma diferença em relação ao Brasil, porque o Brasil ainda não está nessa fase de contar com a confiança absoluta dos investidores, com a entrada de capitais que poderiam ser reinvestidos imediatamente. Na Índia, eles podem reinvestir. Estamos em uma fase que poderia ser o início da retomada, ao contrário do Brasil.”

A falta de investimentos afetou setores cruciais para o desenvolvimento indiano, como alerta o pesquisador francês. Para Boillot, o novo governo vai precisar promover mais avanços sociais se quiser que o país continue crescendo.

“As desigualdades sociais são um exemplo, mas também tem os poucos investimentos em educação pública. São dois dos grandes pontos negros da Índia”, diz. “O Partido do Congresso teve muita dificuldade em levar educação para as zonas rurais, porque os professores, contratados nas regiões urbanas, não tinham vontade de ir para lá.”

Trabalho para jovens

Outro desafio para a nova administração vai ser abrir empregos para os cerca de 13 milhões de jovens que entram por ano no mercado de trabalho. As taxas de desemprego no país beiram os 10%.

“O problema da economia indiana é que, até agora, o país não conseguiu encontrar um modelo que integre esses milhões de jovens ao mercado de trabalho. Narendra Modi oferece o modelo baseado em grandes indústrias, um pouco como a China”, explica o pesquisador.

Num total de 1,25 bilhão de indianos, 300 milhões são pobres que sobrevivem com menos de 1 dolar por dia, e 600 milhões não têm qualquer renda.
 

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