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Radar econômico

Apagões podem se repetir a qualquer momento, dizem especialistas

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As causas para o recente apagão em 13 Estados brasileiros ainda são investigadas e o problema pode ter sido gerado pela queda de um raio. Mas mesmo se a falta de energia foi pontual, devido a um acidente, especialistas alertam que o sistema brasileiro está à beira do colapso.

Hidrelétricas de Goiânia têm nível dos reservatórios afetados por estiagem. A situação mais grave é em São Simão, no sul do Estado.
Hidrelétricas de Goiânia têm nível dos reservatórios afetados por estiagem. A situação mais grave é em São Simão, no sul do Estado. www.cemig.com.br
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Segundo dados da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia (Abiape), 40% do volume de energia planejada para entrar em funcionamento em 2013 sofreu atrasos, e 71% das obras nas linhas de transmissão não cumpriram os prazos. Há mais de dois anos, o Brasil é obrigado a colocar as usinas térmicas a todo o vapor para compensar a produção insuficiente das hidrelétricas, uma medida que deveria ser adotada somente em casos de urgência.

O engenheiro eletricista Roberto Pereira D'Araújo, diretor do Instituto de Desenvolvimento Energético do Setor Elétrico (Ilumina), adverte para a urgência da construção de novas usinas. “Nós estamos precisando de novas usinas. O governo tem essa desculpa de culpar São Pedro pela falta de chuva em janeiro e fevereiro, mas em um país com grandes reservatórios de acumulação de água, como é que chegamos a essa situação de somente 40% de reservas?”, questiona-se. “Houve um erro de política de operação, de adiar despachos de térmicas em função de contenção tarifária. O sistema está em desequilíbrio: é como se ele estivesse com febre e pedindo novas usinas, porque não está conseguindo atender à carga.”

Ildo Sauer, ex-diretor da Petrobras e diretor do Instituto de Energia e Ambiente da USP, afirma que seria necessária uma reserva de 5 a 10 megawatts para garantir o abastecimento adequado. Na opinião dele, o lobby dos investidores e grandes consumidores de energia fez o governo ignorar o planejamento a longo prazo realizado por especialistas depois da crise energética de 2001. Além disso, as previsões de aumento do consumo feitas na época sequer se confirmaram, do contrário a situação hoje seria ainda mais grave.
“Está tudo improvisado no Brasil, nos últimos anos. O consumo cresceu muito menos do que o previsto inicialmente, porque os blefes de que a economia cresceria 5% ao ano não se materializaram”, afirma.

Assim como D’Araújo, Sauer não se surpreendeu com o apagão da semana passada e garante que o risco de novas quedas de energia é real. “Não me surpreendeu nem um pouco e ninguém pode garantir que não haverá muitos outros. Quando o ministro fala que o risco de desabastecimento é zero, é um blefe. Ninguém sabe o que vai acontecer”, dispara.

O governo tenta dissociar o apagão da semana passada dos picos de consumo que têm se repetido, diante do forte calor no Brasil. Por enquanto, a versão oficial aponta para a um curto circuito em uma linha de transmissão no Tocantins, depois da queda de um raio. Um relatório apontando as causas do incidente, que deixou 6 milhões de brasileiros sem luz, será divulgado em até duas semanas.

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