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Rendez-vous cultural

Poesia em concreto de Tadao Ando é tema de retrospectiva em Paris

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O arquiteto japonês Tadao Ando, 77 anos, é destaque no Centro Pompidou de Paris, com uma mostra que destrincha cinco décadas de traçados inovadores em concreto e luz.

Maquete da intervenção de Tadao Ando na antiga Bolsa de Valores de Paris, em exposição no Centro Pompidou.
Maquete da intervenção de Tadao Ando na antiga Bolsa de Valores de Paris, em exposição no Centro Pompidou. (c) Patricia Moribe
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Um vídeo feito por um drone mostra metade da cabeça de um Buda gigante de 13,5m de altura. Do nariz para baixo, ele é cercado por uma redoma de concreto. No verão, a estrutura floresce em lavanda. No inverno, a neve deixa tudo branco, inclusive o cocoruto do Buda. Na primavera, é verde de novo. A beleza e o desenho apurado fazem parte de um cemitério em Sapporo, no norte do Japão.

O arquiteto Tadao Ando no Centro Pompidou.
O arquiteto Tadao Ando no Centro Pompidou. Siegfried Forster / RFI

Tadao Ando é um dos grandes nomes da arquitetura contemporânea, recipiente dos mais importantes prêmios, inclusive o Pritzker, que recebeu em 1995. Mas o percurso de Tadao Ando está longe de ser convencional. Ele conta no vídeo que acompanha a exposição:

“As condições financeiras da minha família e meu nível de estudos não me permitiriam fazer uma faculdade ou um curso especializado. O que fazer então? O melhor para aprender arquitetura é observar. Se um prédio não comunica nada, não é arquitetura. Passei a prestar atenção nas formas arquitetônicas que mais me interessavam”.

Gênio sem escola

Ou seja, Tadao Ando é um arquiteto autodidata, sem nunca ter seguido uma educação formal em arquitetura. Fascinado por Le Corbusier, ele copiava os desenhos do mestre suíço, estudando meticulosamente as formas. Mas a partir de 1965, ele decidiu ver o mundo, ver outras formas, outras luzes, deixando de lado uma outra paixão, o boxe profissional. Ele relata:

“Eu queria observar a arquitetura, experimentá-la. Até então eu estava confinado no Japão. Mas percebi que era importante ver o mundo. Eu tinha algumas economias. Peguei o Transiberiano até Moscou, depois foi para a Finlândia, Europa e África. Percebi o quanto o mundo era vasto e sem fronteiras. Existem fronteiras, claro, mas algo mudou dentro de mim, como se elas não existissem mais. No Panteão de Roma, por exemplo, as sensações variam com a luz. Viver aquela experiência me ensinou muito sobre os elos entre luz e arquitetura. Usar essa noção no meu trabalho me ensinou as propriedades do espaço”.

A mostra em Paris é estruturada em quatro eixos – as formas primitivas de espaço, o desafio urbano, urbanismo e o diálogo com a história.

A Igreja da Luz (1987-1989, 1997-1999) em Osaka, é um pequeno templo incrustrado no meio urbano. A estrutura é aparentemente simples, uma caixa de concreto. A enorme cruz no espaço frugal é talhada no concreto, sendo uma fonte de luz do exterior. Cada pessoa experimenta a luz de maneira diferente.

Discussões sobre espaço público, luz e natureza

A industrialização da arquitetura urbana estimulou Ando a buscar um estilo mais próximo da natureza. Ele também desenvolveu relações contínuas entre interior e exterior através de passagens. Para Ando, trata-se de voltar a dar sentido aos espaços urbanos com a redefinição de noções de espaços públicos e espaços para o público.

Ao lado de expansões urbanas, o urbanismo também permeia as obras de Ando. Isso se vê na intervenção que o arquiteto fez em 1987 na ilha de Naoshima, primeiro com um museu de arte contemporânea, depois com outros sete edifícios adicionados posteriormente. A ideia foi a de criar um lugar onde arte, natureza e seres humanos pudessem interagir e viver juntos. Muitas das estruturas são subterrâneas, justamente para não perturbar a topografia, criando assim um tipo de “arquitetura invisível”.

Passado e futuro

Dialogar com a história é outro exercício que desafia o arquiteto japonês. Depois de intervir em uma área histórica de Veneza, a Punta dela Dogana, construindo um museu de arte contemporânea para o magnata francês François Pinault, Ando agora trabalha no coração de Paris.

A antiga Bolsa de Valores de Paris, do século 19, coberta para intervenção de Tadao Ando.
A antiga Bolsa de Valores de Paris, do século 19, coberta para intervenção de Tadao Ando. (c) Patricia Moribe

O ambicioso projeto envolve a Bolsa de Comércio, antiga Bolsa de Valores da capital francesa, construída no século 19. Mais uma vez, Pinault encomendou um espaço de arte contemporânea. Ando decidiu modificar o interior, inserindo um cilindro de concreto de 30m de extensão por 10m de altura. Para inspirar e instigar o visitante.

O turista americano Patrick, que trabalha com arquitetura e obras, fala a respeito do trabalho de Ando:

“O tamanho das maquetes me impressionou. E os desenhos também são fantásticos. Não tinha ideia disso. É muito interessante ver o trabalho de renovação que estão fazendo na antiga Bolsa de Comércio, aqui perto. Construir uma parede circular de concreto no interior do prédio é incrível. Está tudo coberto com tapumes por enquanto, mas aqui na exposição dá para ver o que está acontecendo por dentro. Muito interessante.”

A jornalista alemã Ursula também gostou do projeto:

“A ideia de construir um paredão de concreto dentro de um edifício antigo é magnifica. Quero muito ver o resultado final.”

A nova Bolsa do Comércio tem abertura prevista para 2019. Enquanto isso, o trabalho de Tadao Ando pode ser visto no Centro Georges Pompidou de Paris até 31 de dezembro de 2018.

 

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