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Avignon: “As crianças entendem tudo”, diz Miguel Fragata, diretor de peça infantil sobre refugiados

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Como falar de coisas sérias para as crianças sem infantilizá-las? Esse foi o desafio do diretor teatral português Miguel Fragata, que apresenta no Festival de Avignon a peça “Do Bosque para o Mundo”, que trata do longo e sofrido caminho dos refugiados para chegar à Europa.

O português Miguel Fragata, diretor da peça  "Do bosque para o mundo", junto com Inês Barahona.
O português Miguel Fragata, diretor da peça "Do bosque para o mundo", junto com Inês Barahona. Aurélie Mongour Festival d'Avignon
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No palco, duas atrizes, entre malas espalhadas por todos os lados e um imenso mapa-múndi no fundo, relatam a rota feita pelo menino Farid, de 11 anos, que teve que fugir do Afeganistão e, após muitos percalços, consegue chegar finalmente à Inglaterra um ano depois.

“O mundo não é cor de rosa”

A peça foi criada há dois anos por Miguel Fragata e Inês Barahona, da companhia Formiga Atômica de Lisboa, com o objetivo de mostrar às crianças a realidade nua e crua dos refugiados, sem rodeios ou qualquer subterfúgio, geralmente utilizados para edulcorar os espetáculos infantis.

“Olhamos para as crianças como pessoas absolutamente capazes, como os adultos” – disse Miguel Fragata em entrevista à RFI em Avignon, lembrando que esse é o terceiro espetáculo infantil de sua companhia.

Segundo ele, essa deve ser a maneira de se falar com as crianças sobre temas difíceis. “Devemos relatar os fatos com toda a honestidade, sem medo da verdade”, acrescenta ele, ressaltando que a peça põe as crianças em um lugar importante, de responsabilização”.

Ele observa que muitas vezes temos a tendência de aparar as arestas quando falamos com crianças, e mostramos a elas um “mundo maravilhoso”, mas “o mundo não é cor de rosa”, insiste o diretor teatral.

Viagem de iniciação

Nessa rota do Afeganistão à Inglaterra, relatada na peça, o menino Farid vive os piores horrores. Viaja escondido em caminhões frigoríficos, seu passaporte é confiscado pelos atravessadores e ele passa fome e frio, como milhares de refugiados que chegam à Europa atualmente.

Mas nesse caminho, o menino, que vem de uma família da etnia Pashtun, com regras muito rígidas e onde a posição da mulher é de total submissão, vive também uma viagem de iniciação. Ao chegar ao ocidente ele vê pela primeira vez mulheres sem véus nas ruas e descobre um mundo novo. A peça fala sobre isso de maneira direta, mas delicada.

“A medida que o personagem vai avançando, ele vai se confrontando com as diferenças entre o oriente e o ocidente. E é isso que o faz crescer. Ele define suas novas regras. Essa é a definição da identidade”, explica Miguel, para quem o espetáculo é também sobre o crescimento de uma criança.

Olhar os refugiados com empatia

Um dos objetivos de Miguel Fragata e Inês Barahona ao criar essa peça foi lutar contra a banalização do tema dos refugiados, muito presente na mídia europeia. Para o diretor português, era urgente falar às crianças sobre isso, “pois a mídia trata essa crise da pior maneira possível, como se fosse tudo normal, o que nos impede de nos colocarmos no lugar do outro”.

Segundo ele, não podemos continuar a olhar os refugiados como números que estão “complicando” a vida dos europeus. A empatia é a palavra chave do espetáculo.

“Temos que olhar essa crise com mais humanidade e cada história de refugiado como uma história particular. Poderíamos ser nós – conclui Miguel Fragata.

“Do Bosque para o Mundo” (em francês “Au-delà de la Forêt le Monde”) fica em cartaz no Festival de Avignon até 12 de julho.

 

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