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“O Brasil parece dar as costas para a América Latina”, diz a cineasta Beatriz Seigner

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Los Silencios é um filme de perda, de recomeço, de mudanças. Um longa-metragem amazônico, rodado na fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia. A diretora brasileira Beatriz Seigner concorre ao prestigioso prêmio da Quinzena dos Realizadores, em Cannes.

A cineasta Beatriz Seigner
A cineasta Beatriz Seigner RFI
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“O filme se passa na ilha da Fantasia, que existe realmente, foi formada há 20, 30 anos”, conta a diretora para a RFI Brasil. “A ilha fica quatro meses embaixo da água e outros oito meses em cima da água. Ela é cheia de imigrantes que passam pela região, que ficam algum tempo ou se estabelecem lá”, explica.

Rio, ilha, palafitas

Los Silencios, falado quase totalmente em espanhol, tem a colombiana Marleyda Soto no papel principal. Enrique Diaz faz o marido e pai desaparecido. Maria Paula Tabares Peña e Adolfo Savinino são os filhos. A maioria do resto do elenco mora na própria ilha da Fantasia.

“A Amazônia tem uma presença muito forte no filme. Achei o rio muito cinematográfico, ele vai subindo pelas casas de palafita”, conta Seigner, que se apaixonou pela arte de fazer cinema aos 15 anos, durante um workshop. A direção de arte e de fotografia também destacam a presença das águas, da escuridão e das cores fluorescentes que fazem parte do cotidiano ribeirinho.

Feridas de guerra

A história de Los Silencios nasceu do relato de uma amiga de Beatriz, uma colombiana que chegou ao Brasil pequena e cuja família foi vítima do conflito com o grupo guerrilheiro Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). “Fiquei intrigada, comecei a pesquisar, falei com mais de 80 famílias e vi que havia histórias muito parecidas. A partir disso, comecei a escrever o roteiro. Nesse processo, aconteceu o acordo de paz e percebi que no Brasil as pessoas sabiam pouco a respeito”, diz Beatriz.

“Admiro essa coragem de enfrentar o processo e se perguntar se é possível conviver em paz ao lado de uma pessoa que você não sabe se pode perdoar, ou se é possível ou não perdoar, é um processo de justiça restaurativa muito interessante”, segundo a diretora.

Numa cena, na assembleia da ilha, há depoimentos autênticos de pessoas que viveram o conflito que assolou a Colômbia durante meio século, tanto do lado de guerrilheiros, paramilitares ou vítimas. “Pela primeira vez estavam ali, falando de cara uns aos outros e foi super forte filmar isso”, revela Beatriz.

Mudar o eixo de visão

“Não sei se é o fato de sermos os únicos da América do Sul a falarmos português, ou se é pelo processo de colonização, a gente olha muito para o que se passa nos Estados Unidos e na Europa. E tem tanta coisa interessante que pode nos inspirar na América Latina, como a Colômbia, por exemplo. O tratado de paz fala sobre equidade de gênero, de reforma agrária. É como se o Brasil estivesse de costas para a América Latina e espero que esse eixo de olhar possa mudar”, conclui Beatriz Seigner.

Em março passado, a cineasta apresentou uma primeira versão de Los Silencios no Festival de Cinema Latino-Americano de Toulouse e levou prêmios de finalização e distribuição. "Foi ótimo dividir o filme, me senti menos sozinha", contou Beatriz à RFI Brasil na época.

 

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