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Karim Aïnouz conta na Berlinale a vida de refugiados em aeroporto alemão

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Ele ganhou o mundo com o filme “Madame Satã”, emocionou com “O céu de Sueli” e falou de dilemas mais íntimos com “Praia do Futuro”. Agora, o diretor brasileiro Karim Aïnouz, aborda a crise migratória com um documentário que concorre na mostra "Panorama" da Berlinale, o Festival de Cinema de Berlim.

O cineasta Karim Aïnouz, durante o Festival de Cinema de Berlim
O cineasta Karim Aïnouz, durante o Festival de Cinema de Berlim RFI
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Enviado especial a Berlim

O documentário Zentralflughafen THF(Aeroporto Central THF, em tradução livre) conta, durante quase um ano, a vida de refugiados que foram acolhidos pelo governo alemão em Tempelhof, o antigo aeroporto da capital alemã. Construído pelos nazistas nos anos 1930, o local foi fechado em 2008, e desde 2015 funciona como um imenso abrigo de refugiados, mas também como uma zona de lazer para a população de Berlim nos fins de semana.

“A ideia deste filme veio com a vontade grande que eu tive de me engajar com uma questão urgente, que a gente estava vivendo na Europa, especificamente na Alemanha, com as guerras que estão acontecendo há anos no Oriente Médio, com um influxo grande de pessoas que estavam fugindo", conta o diretor. "No verão de 2015, eu comecei a ver uma série reportagens sobre multidões de pessoas que estavam chegando na Grécia, atravessando os Bálcãs, para vir para a Alemanha e aquilo começou a me incomodar muito, porque foi recuperado pela extrema-direita, como se fossem pessoas que estavam invadindo a Europa”, aponta Aïnouz.

“Eu fui ao aeroporto e fiquei muito impressionado, porque era um dos poucos abrigos que estavam no meio da cidade. Até me lembrava o Brasil, esta coisa que a gente tem, entre a favela e o asfalto. Além disso, tinha uma outra questão que me fascinou muito que era a de um abrigo de refugiados dentro de um aeroporto, que foi construído em 1923 e ampliado no Terceiro Reich. Achei aquilo muito irônico, como se a história estivesse se reconciliando com ela mesma. O que era um espaço para consertar aviões de guerra virou um espaço para abrigar pessoas fugindo da guerra”, disse o diretor, radicado na Alemanha.

Exílio

Essa não é a primeira vez que Aïnouz se interessa pela questão do exílio, tema que fez parte de Praia do Futuro, seu filme anterior, que concorreu ao Urso de Ouro em Berlim em 2014. Mas o cineasta lembra que, antes de qualquer coisa, se sente "fruto do exílio", já que seu pai, argelino, conheceu sua mãe, nos Estados Unidos, quando fugia da Guerra da Argélia (1954-1962), em 1959.

Extremamente bem rodado, sem apelo ao miserabilismo ou à estética da pobreza, o documentário apresentando na Berlinale acompanha um sírio, Ibrahim, que ia completar 18 anos no período da filmagem. O jovem ajuda a entender o exílio num período de emergência humanitária. “As expectativas dos refugiados são muito diversas, mas neste caso do aeroporto havia uma frustração muito grande por parte das pessoas, que viajaram semanas para chegar a um país novo e acabam num aeroporto, a espera num lugar de partida, pois o abrigo, que era para ser provisório, para durar três meses, durou anos. Ao mesmo tempo, relações de solidariedade foram construídas neste espaço”, avalia o brasileiro.

“Quando a gente está numa situação de privilégio, parece que o lugar do não-privilegiado está muito longe. Então é muito fácil dizer que tem uma guerra no Iraque, que tem um problema acontecendo no Sudão… o que eu acho fascinante é que ali estas coisas tiveram que conviver. Na Europa às vezes a gente esquece que o drama humano não está tão longe. É como se o filme conseguisse derrubar os muros”, conta ele, sobre a vontade que percebe entre os alemães de fazerem as pazes com o seu passado.

Karim Aïnouz falou ainda dos novos diretores brasileiros, sobre a diversidade que existe hoje, tanto de temas quanto de olhares. “Espero que esta diversidade não seja interrompida com o golpe que houve no Brasil há um ano”, conclui.

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