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“Incompetência intercultural dificulta relações franco-brasileiras”, alerta linguista francês

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Depois de passar oito meses em Belo Horizonte, fazendo um estágio na Assessoria de Relações Internacionais do governo do Estado de Minas Gerais, o linguista francês Étienne Clément chegou a uma surpreendente conclusão: quase ninguém que trabalhava no acordo de cooperação bilateral entre Minas Gerais e a região de Haut-de-France, no norte da França, falava francês. Mais tarde, de volta à França, o então doutorando percebeu que a recíproca era verdadeira: ninguém na região de Haut-de-France, encarregado do acordo de cooperação, falava o português do Brasil.

Étienne Clément, doutor em ciências da linguagem, dividido entre o choro e as relações diplomáticas.
Étienne Clément, doutor em ciências da linguagem, dividido entre o choro e as relações diplomáticas. RFI
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A esse fenômeno, o pesquisador deu o nome de “incompetência intercultural”, um conceito que serve de linha mestra na sua tese de doutorado pela Universidade Franche-Comté, em Besançon.

“Eu fiquei surpreso com os choques e as dificuldades de compreensão, tanto linguísticas como culturais, entre os protagonistas franceses e brasileiros do acordo. Poucos dos brasileiros falavam francês e poucos franceses falavam o português do Brasil”, explica Étienne. “Minha tese de doutorado foi sobre a política do ensino de línguas. Como língua estrangeira, os franceses preferem o espanhol. E os brasileiros, o inglês. Então, os protagonistas desse acordo lançavam mão do inglês ou espanhol ao invés de tentar fazer um esforço para se entenderem em português ou francês. O que é uma pena, porque, na minha opinião, língua e cultura fazem parte do mesmo conjunto. Logo, para entender a cultura você precisa entender a língua”.

Problema maior na França

“Trata-se de um problema de formação”, avalia Étienne. “No Brasil, pelo menos, você tem o Instituto Rio Branco que forma diplomatas de alto nível. Já os adidos culturais franceses baseados no Brasil não têm, necessariamente, uma formação cultural, linguística e intercultural. A maioria deles estudou Ciências Políticas ou estudou na Escola Nacional de Administração, mas não fez um curso exclusivo na área de diplomacia”.

Consequências e soluções

“A dificuldade de compreensão entre as partes faz com que os projetos bilaterais avancem de uma maneira mais lenta. Pior, a falta de compreensão da língua não permite que um conheça a cultura do outro. Eu proponho soluções educacionais que poderiam ser tomadas, em nível político, pelo ministério da Educação da França sobre o ensino do português aqui, e sobre o ensino do francês no Brasil através da Aliança Francesa”, conclui Étienne.

Caindo no Choro

Além de pesquisar os problemas linguísticos nas relações diplomáticas entre a França e o Brasil, Étienne Clément, que fala português muito bem, está se tornando um dos maiores divulgadores da música brasileira, principalmente o chorinho, entre os franceses.

Em março, a Associação Açaí, presidida por ele, organizará o primeiro Lille Choro Festival, com a presença de grandes nomes da música, como o trombonista Raul de Souza.

O festival, com apoio da embaixada brasileira, servirá para celebrar o centenário de Jacob do Bandolim e lançar o primeiro disco produzido por Étienne, Sentindo Bem do Trio Caldo de Cana, que reúne três músicos brasileiros que vivem entre a França e a Bélgica: Roberto de Oliveira, Osman Martins e Rosivaldo Cordeiro.

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