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Artes

Pintor Gontran Guanaes Netto será cremado nesta terça-feira em Paris

Artista brasileiro radicado na França, Gontran Guanaes Netto será cremado nesta terça-feira (5) no cemitério Père Lachaise, em Paris. Em uma entrevista à RFI Brasil, pouco antes de sofrer um AVC, em novembro do ano passado, ele falou de sua origem rural no interior de São Paulo, de sua obra, do seu engajamento político e do trabalho junto aos movimentos sociais.

O artista Gontran Guanaes Netto nos estúdios da Rádio França Internacional em novembro de 2016.
O artista Gontran Guanaes Netto nos estúdios da Rádio França Internacional em novembro de 2016. RFI
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Durante todo o período de seu exílio, Gontran Netto participou ativamente, ao lado de outros artistas latino-americanos também expatriados em Paris, de vários movimentos que conciliavam criação artística e engajamento político, visando denunciar a repressão e a falta de liberdade dos regimes ditatoriais nos países do subcontinente.

O grupo "Dénonciation", nos anos 70, a Brigada internacional de pintores antifascistas, e o Espaço latino-americano   que ele ajudou a fundar, entre outros, com o brasileiro Artur Luiz Piza , são algumas dessas iniciativas.

Os camponeses

Foi na França que os camponeses, que seriam figuras marcantes de sua obra, apareceram em seus quadros.

“Os camponeses apareceram na minha pintura, de maneira mais evidente, quando eu fui convidado a participar de uma exposição coletiva no Grand Palais na época do François Mitterrand", lembra o pintor.

Seu quadro O povo da terra dos papagaios foi escolhido para ser exibido no prestigioso museu à beira do rio Sena, em Paris.

“Quando subi as escadarias para levar o quadro eu disse: os camponeses ocupam o palácio! Foi aí que, simbolicamente, eu comecei a estudar melhor o contexto da realidade dos sem-terra”, explicou.

De volta ao Brasil, ele realizou os painéis expostos nas estações do metrô Marechal Deodoro e Corinthians-Itaquera, em São Paulo.

Em 2010, Gontran Guanaes Netto decidiu retornar à França. Ele se instalou em Cachan, na periferia de Paris, e continuou a retratar seus camponeses com cores vivas, movimentos e expressões fortes.

Sua estética, ele prefere não rotular. No entanto, tem uma preocupação bastante objetiva. “Se esses camponeses persistirem na pintura, serão os herdeiros do século 20. Minha ideia era fazer uma pintura de qualidade, mas que sobrevivesse ao tempo e perdurasse na história”, afirmou.

Correr e pintar

Antes do Acidente Vascular Cerebral que sofreu no ano passado e que o incapacitou até sua morte, corria vários quilômetros duas vezes por dia, antes e depois das sessões de trabalho em sua casa-ateliê de Cachan. Essa prática levou a amiga e tradutora Maria Aparecida Correa Paty a chamar o artista plástico de o "Diógenes da pintura brasileira”.

Em novembro de 2016, Gontran Netto pôde realizar e inaugurar sua última exposição, “Paysans”, na Orangerie de Cachan.

A mostra é um mergulho nas memórias de infância no interior de São Paulo e também das suas investigações sobre o fenômeno social dos militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

“Quando mataram 19 camponeses no Pará, no famoso massacre de Carajás, eu fiz um quadro em homenagem aos sem-terra. Eu continuei a manter a imagem dos sem-terra”, contou.

O amigo e artista argentino Julio Le Parc assina no catálogo da exposição um poema/homenagem aos “Les damnés de la terre” (Os malditos da terra), como Gontran chamava os camponeses: “Quando o ser humano se transforma em cor; quando a cor se transforma em forma humana (…) quando a esperança permanece, quando a esperança cresce, esses são os quadros de Netto”.

Julio Le Parc é aliás, um dos muitos amigos que visitava com frequência Gontran durante o período em que ficou gravemente deficiente, e o ajudava a realizar um gesto essencial para sua vida: desenhar.

Gontran morreu no dia 25 de novembro de 2017. Ele será cremado nesta terça-feira (5) no cemitério do Père-Lachaise. À noite, fiel à sua memória, a família abre as portas de seu ateliê em Cachan para os amigos e artistas que quiserem relembrar sua obra.

Clique no box abaixo para assistir à última entrevista de Gontran Guanaes Netto.

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