Cineasta Vincent Carelli denuncia genocídio indígena no Brasil
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“Martírio”, o novo filme do cineasta e indigenista franco-brasileiro Vincent Carelli abre na noite desta quarta-feira (27) a 13ª edição do festival de documentários Brésil en Mouvements, que acontece em Paris até 1º de outubro.
“Martírio conta a história do genocídio contemporâneo dos índios brasileiros Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul e o embate desigual contra o grande lobby do agronegócio”, explicou. É um filme que faz uma retrospectiva histórica da relação do governo brasileiro com os povos indígenas.
Além disso, Carelli é criador do projeto Vídeo nas Aldeias, fundado em 1987, que forma cineastas indígenas. Seu segundo filme no festival, “Tava, uma casa de pedra”, que será exibido na quinta-feira (28) às 18h, é fruto deste projeto.
De viés histórico, “Tava, uma casa de pedra” foi feito para o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), para registrar a versão dos índios guaranis sobre as missões jesuíticas e a ‘guerra guaranítica’ dos século 16. “É a memória dos índios Guarani a respeito destes fatos históricos”, contou.
Sobre o Vídeo nas Aldeias, ele disse: “O projeto não nasceu pronto, ele começou como um experimento para ver como os índios reagiriam à possibilidade da apropriação da sua própria imagem. E o resultado foi incrível: é uma questão de valorizar o seu património cultural”.
E isso, segundo ele, contribuiu para a visibilidade nacional que os índios tanto almejam. Os filmes produzidos pelo Vídeo nas Aldeias circulam também entre as aldeias indígenas do Brasil e da América Latina.
‘Vai ter luta’
Sobre os avanços e retrocessos na causa indígena no Brasil atual, Carelli comentou: “No Brasil hoje todos nós somos índios; todos os dias a gente acorda sabendo que na véspera, à noite, se votou alguma desgraça, algum retrocesso. Com os índios acontece a mesma coisa”.
“Nunca houve uma ofensiva tão violenta contra os direitos indígenas, nos níveis político e jurídico. Por outro lado, os índios nunca estiveram tão mobilizados. Então, vai ter luta”, continuou.
Carelli disse ter consciência de que seu filme ‘Martírio’ é uma arma poderosa nas mãos dos índios e, segundo ele, tem comovido o público brasileiro. “Releva uma faceta da história do Brasil que as pessoas não aprenderam na escola, é uma revelação em vários sentidos”.
Na opinião do cineasta, a sociedade civil brasileira sempre teve um peso nas questões indígenas e é importante que ela esteja bem informada sobre a causa.
Carelli contou que ele e os índios fizeram projetos com o Ministério da Educação para difundir nas escolas indígenas e também que o material produzido por eles passou durante dois anos na televisão aberta brasileira, em rede nacional.
“Um decreto que foi revogado pelo atual governo é o do ensino das questões afro-brasileira e indígena na escola; esta revogação está no pacote de retrocessos”, lamentou.
Clique na foto acima para ouvir a entrevista.
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