“Fotografia não é função masculina, é humana”, diz fotógrafa de guerra
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Na Índia, tradicionalmente, quando uma mulher fica viúva, ela também morre, não é mais um ser humano, vira pária, não tem nada, vive de esmolas. Na Uganda, o costume manda que a propriedade de uma viúva, a casa onde viveu a vida toda com o marido, volte para a família do defunto. Essas são histórias que contam as fotos da americana Amy Toensing, em exposição no festival de fotojornalismo Visa Pour l’Image, em Perpignan, sudoeste da França.
“É um problema, uma crise internacional. Há muitos países onde as viúvas são as mais vulneráveis, inclusive suas filhas. Em Uganda, o caso é interessante, pois existem leis para proteger as viúvas, mas os costumes ainda não acompanham as mudanças”, conta Amy Toesing.
O festival Visa Pour l’Image é a vitrine do fotojornalismo no mundo e este ano é notável a presença feminina – na frente e atrás das câmeras. Zohra Bensemra, chefe de fotografia da agência Reuters no norte e oeste da África, traz imagens de vítimas de conflitos em países como Líbia, Iraque, Síria, Afeganistão, Sudão, Tunísia, Paquistão, Macedônia e Somália. Suas fotos provam que o fotógrafo não tem gênero masculino ou feminino.
“As mulheres souberam se impor e ganhar espaço - quando dizem que é um trabalho de homem, eu não concordo, afinal Deus deu olhos tanto para os homens quanto para as mulheres”, afirma Bensemra. “Não é uma função masculina, nem feminina, mas humana. Homem ou mulher, podemos usar os olhos da mesma forma. A fotografia é sobretudo sentimento, nenhum dos dois é mais forte que o outro nesse sentido, é uma questão de coração também”, acrescenta.
Entre os vários premiados este ano está a jovem Angela Ponce, peruana de apenas 23 anos. Ela ganhou o prêmio da Cruz Vermelha Internacional sobre mulheres em tempos de guerra. No caso, são as vítimas de um conflito que durou décadas no Peru, entre as forças oficiais e a guerrilha marxista do Sendero Luminoso, mais precisamente em um povoado chamado Ayacucho, perdido nas montanhas entre Lima e Cusco. Angela deu voz, ou melhor, imagem a mulheres, mortas ou sobreviventes, que sofreram todos os tipos de violência, e cujos casos se arrastam em tribunais kafkanianos.
“Creio que o importante é tornar visível toda a injustiça, todas as travas dos processos, a falta de apoio da parte do governo e do Estado, e para nós mesmos. No Peru, muitas pessoas não querem recordar essa época, mas isso é necessário, pois se nos esquecermos do que se passou, as novas gerações não vão saber que, há menos de 20, 30 anos, muitas pessoas morreram”, conta a fotógrafa.
O Festival de fotojornalismo Visa Pour l’Image, em Perpignan, sudoeste da França, acontece até 17 de setembro.
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