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Rendez-vous cultural

“Fotografia não é função masculina, é humana”, diz fotógrafa de guerra

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Na Índia, tradicionalmente, quando uma mulher fica viúva, ela também morre, não é mais um ser humano, vira pária, não tem nada, vive de esmolas. Na Uganda, o costume manda que a propriedade de uma viúva, a casa onde viveu a vida toda com o marido, volte para a família do defunto. Essas são histórias que contam as fotos da americana Amy Toensing, em exposição no festival de fotojornalismo Visa Pour l’Image, em Perpignan, sudoeste da França. 

O Festival de fotojornalismo Visa Pour l’Image, em Perpignan, sudoeste da França, acontece até 17 de setembro.
O Festival de fotojornalismo Visa Pour l’Image, em Perpignan, sudoeste da França, acontece até 17 de setembro. RFI/Leonardo Silva
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“É um problema, uma crise internacional. Há muitos países onde as viúvas são as mais vulneráveis, inclusive suas filhas. Em Uganda, o caso é interessante, pois existem leis para proteger as viúvas, mas os costumes ainda não acompanham as mudanças”, conta Amy Toesing.

© Amy Toensing
© Amy Toensing Visa pour l'image© Amy Toensing / National Geographic Magazine

O festival Visa Pour l’Image é a vitrine do fotojornalismo no mundo e este ano é notável a presença feminina – na frente e atrás das câmeras. Zohra Bensemra, chefe de fotografia da agência Reuters no norte e oeste da África, traz imagens de vítimas de conflitos em países como Líbia, Iraque, Síria, Afeganistão, Sudão, Tunísia, Paquistão, Macedônia e Somália. Suas fotos provam que o fotógrafo não tem gênero masculino ou feminino.

“As mulheres souberam se impor e ganhar espaço - quando dizem que é um trabalho de homem, eu não concordo, afinal Deus deu olhos tanto para os homens quanto para as mulheres”, afirma Bensemra. “Não é uma função masculina, nem feminina, mas humana. Homem ou mulher, podemos usar os olhos da mesma forma. A fotografia é sobretudo sentimento, nenhum dos dois é mais forte que o outro nesse sentido, é uma questão de coração também”, acrescenta.

© Zohra Bensemra
© Zohra Bensemra Visa pour l'image© © Zohra Bensemra / Reuters

Entre os vários premiados este ano está a jovem Angela Ponce, peruana de apenas 23 anos. Ela ganhou o prêmio da Cruz Vermelha Internacional sobre mulheres em tempos de guerra. No caso, são as vítimas de um conflito que durou décadas no Peru, entre as forças oficiais e a guerrilha marxista do Sendero Luminoso, mais precisamente em um povoado chamado Ayacucho, perdido nas montanhas entre Lima e Cusco. Angela deu voz, ou melhor, imagem a mulheres, mortas ou sobreviventes, que sofreram todos os tipos de violência, e cujos casos se arrastam em tribunais kafkanianos.

“Creio que o importante é tornar visível toda a injustiça, todas as travas dos processos, a falta de apoio da parte do governo e do Estado, e para nós mesmos. No Peru, muitas pessoas não querem recordar essa época, mas isso é necessário, pois se nos esquecermos do que se passou, as novas gerações não vão saber que, há menos de 20, 30 anos, muitas pessoas morreram”, conta a fotógrafa.

© Angela Ponce Romero
© Angela Ponce Romero Visa pour l'image© Angela Ponce Romero

O Festival de fotojornalismo Visa Pour l’Image, em Perpignan, sudoeste da França, acontece até 17 de setembro.

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