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Moda/Racismo

Pirelli tenta modernizar imagem de calendário com homenagem à beleza negra

O tradicional calendário Pirelli terá uma edição de 2018 protagonizada, pela primeira vez, apenas por personalidades negras. O projeto segue na esteira das marcas de moda que valorizam cada vez mais a diversidade étnica.

Duckie Thot se tornou "Alice no país das maravilhas" para o calendário Pirelli 2018
Duckie Thot se tornou "Alice no país das maravilhas" para o calendário Pirelli 2018 Alessandro Scotti
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Desde a difusão das primeiras fotos dos bastidores da produção do calendário Pirelli 2018 as imagens do projeto não param de circular na internet. Os clichês mostram 17 personalidades negras, entre elas as atrizes Lupita Nyong’o e Whoopi Goldberg, a top model Naomi Campbell ou ainda o apresentador e drag queen RuPaul, imortalizados pelo fotógrafo britânico Tim Walker, reinterpretando o mundo de sonhos do clássico “Alice no país das maravilhas”, de Lewis Carroll.

O projeto tem estilismo assinado pelo jornalista Edward Enninful, editor-chefe da Vogue britânica e um dos profissionais da moda mais comprometido com a defesa da diversidade étnica no setor. Homem por traz da icônica edição especial de 2008 feita pela revista Vogue Itália inteiramente com modelos negros, ele chegou a ser homenageado com a Ordem do Império Britânico em 2016 por sua ação em favor da diversidade.

O apresentador e drag queen RuPaul, no centro da imagem, faz parte das celebridades do calendário Pirelli 2018.
O apresentador e drag queen RuPaul, no centro da imagem, faz parte das celebridades do calendário Pirelli 2018. Alessandro Scotti

Walker diz que teve carta branca da fabricante de pneus para esta edição do “TheCal”, como é chamado o emblemático calendário Pirelli. Ela explicou para a imprensa americana após a divulgação das primeiras imagens que a ideia de mostrar essa história, contada tantas vezes, mas com intérpretes negros, atesta uma vontade de “expandir os limites da representação de personagens fictícios e explorar os ideais da beleza em constante evolução”.

De estereótipo acusado de machista a objeto hype

O novo “TheCal” parece fazer parte de uma mudança de discurso estratégica da Pirelli, que vem transformando há alguns anos a imagem de seu calendário histórico. Acusado por alguns de ultrapassado, o calendário está aos poucos deixando de lado as críticas sua valorização de uma estética vista como machista. No de 2017, por exemplo, a edição das principais atrizes do momento (Jessica Chastain, Julianne Moore e Nicole Kidman, além de Léa Seydoux e Alicia Vikander, entre outras), fotografadas por Peter Lindbergh sem nenhuma forma de retoque ou artifícios do tipo Photoshop.

Já em 2016, a Annie Leibovitz imortalizou personalidades fortes, como Serena Williams, Yoko Ono ou Patti Smith. Uma abordagem a quilômetros de distância das jovens modelos seminuas, em poses sensuais, que fizeram a história do calendário.

Modelos forçaram as portas da diversidade

O mundo da moda sempre tentou, mesmo que de forma tímida, valorizar a beleza negra. Se os Estados Unidos sempre reivindicam a presença de Naomi Sims na capa de uma revista de moda em 1967, na Europa o movimento começou bem antes. Em 1962 o precursor Yves Saint Laurent já colocava na passarela Fidelia, uma das primeiras modelos negras a desfilar na França, enquanto que em 1966 Donyale Luna se tornava a primeira negra na capa da Vogue britânica.

Os anos passaram e novas modelos forçaram com muita elegância as portas da diversidade no mundo da moda. De Pat Cleveland a Katoucha e Iman, passando por Grace Jones, Naomi Campbell ou Alek Wek, elas contribuiram para a visibilidade das negras nas passarelas. Porém, com exceção da L’Oréal, que defende a beleza diversa há anos, poucas são as marcas que reivindicaram essa abertura em suas publicidades.

Sean "Diddy" Combs e Naomi Campbell fazem parte das personalidades do calendário Pirelli 2018
Sean "Diddy" Combs e Naomi Campbell fazem parte das personalidades do calendário Pirelli 2018 Alessandro Scotti

Uma moda mais inclusiva?

Mas esse contexto começa a mudar, principalmente graças a algumas iniciativas esporádicas, mas que mostram essa vontade de abertura na direção de uma moda mais inclusiva. Basta vez o trabalho do diretor artístico da maison Balmain, Olivier Rousteing, que sempre valoriza celebridades e modelos negros. Inclusive em seus projetos paralelos, como no lançamento da colaboração com o gigante da fast fashion H&M em 2015.

Mais recentemente, a marca italiana Gucci também chamou atenção com a campanha de sua pré-coleção outono-inverno 2017-2018, na qual apareciam apenas dançarinos e modelos negros. O projeto, intitulado “Soul Scene”, se inspira do movimento Northern Soul da Inglaterra dos anos 1960, mas também do trabalho do fotógrafo malinês Malick Sidibé.  

Essa transformação da Gucci é orquestrada por seu novo diretor artístico, Alessandro Michele, mas também pelo presidente da marca, Marco Bizzarri. A maison italiana, que pertence ao grupo francês Kering, se tornou a primeira marca de luxo a integrar a associação Parks de promoção da diversidade e o tema entrou na lista de prioridades da empresa. A tal ponto que Bizzarri diz querer se tornar “a voz dos que querem se exprimir, atraindo, cultivando e promovendo os talentos, celebrando em torno da marca a diversidade, seja ela étnica, sexual, de idade ou de gênero”. Basta ver, com o tempo, se isso vai além da estratégia de comunicação e não será apenas mais uma “moda”.

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